Caríssimo Diogo Olivier, grande companheiro de ZERO HORA, escreveu que “Mesmo que ganhe o Brasileirão, ano do Palmeiras será de derrota”.
É a manchete da coluna dele.
Algo com a mesma lógica de “mesmo que ganhe o Kikito de melhor filme do Festival de Gramado, o ano do diretor Fulano será de derrota” [por não ganhar o Oscar]…
Tem lógica?
Tem. A mesma de quem dirige uma Lamborghini e reclama por não estar guiando uma Ferrari. Ou quem está acelerando seu Lada e zoa quem não tem Maserati.
Nenhum time é obrigado a ser campeão brasileiro. Muito menos pelo investimento. Dizer que “Brasileiro virou prêmio de consolação” é não saber o que é prêmio, consolação, fatura e Brasileirão.
Se o Palmeiras perder um título em que é favorito para o Inter, pergunte ao colorado campeão de tudo se ele achará “consolação” ser tetra desde o último título em 1979?
A imprensa exagerou no apego aos números – fui um dos pioneiros a usar e ainda exagero na análise deles. Mas agora extrapola as raias da racionalidade matemática e da irracionalidade clubista ao exigir conquistas de Flamengo e Palmeiras (os mais ricos da hora). Ou os mais responsáveis no uso do dinheiro que outros torraram em mármores, memórias, lápides ou larápios.
A frase do excelente Olivier de que para o líder do BR-18 “seria constrangedor não erguer a taça com a dinheirama para formar quase três times” constrange o autor. Perturbador é pensar assim em campeonato tão nivelado e por baixo e por raso como algumas análises; a taça que merece ser erguida é um brinde ao clubismo e bairrismo que constrange as análises; dinheirama é o quanto se gasta em tinta, força e luz para desmerecer a melhor campanha da história de um turno por pontos corridos (E CONQUISTADA EM 14 PARTIDAS COM EQUIPES ALTERNATIVAS). Mas em nenhum momento “três times”. Nem o Inter de 75-76 e o invicto de 1979 tinham três equipes em um mesmo elenco.
Em vez de enaltecer os feitos e fatos, querem desfazer os méritos. Desmerecer o líder de campanha elogiável com campanha deplorável de pressão midiática inócua e desprezo ao jornalismo e ao futebol.
Será enorme decepção o Palmeiras perder nas próximas cinco rodadas o BR-18. Muito pior em tudo que em 2009, quando um time e elenco piores deixaram a liderança e até o G-4.
Será um fracasso. Pode até se dizer vergonha. Vexame com um certo exagero. E ainda será menos exagerado do que manchetar que, mesmo campeão brasileiro, o 2018 do Palmeiras (ou qualquer outro grande) será de “derrota”.
Meu diabo, em que planeta vivemos?
No mundo da Fifa que, de fato, não será em 2018 do Palmeiras, de um clube brasileiro, e talvez de um argentino.
Porque é sim muito difícil competir com a DINHEIRAMA (aí sim) dos europeus. E mesmo tricampeões da Europa como o Real Madrid não conseguem ganhar a Liga Espanhola. Porque nem o Real Madrid é obrigado. Nem o Barcelona é obrigado a vencer a Champions.
Porque lá se sabe que nem eles são obrigados. Nem o PSG na Europa. Ou o Manchester City. Ainda mais em torneios mata-mata como as Copas.
Como qualquer um que analise o futebol internacional sem clubismo, bairrismo, caça-cliquismo, chiliquismo e imaturidade sabe.
Basta não deixar o estagiário interior assinar a coluna para internar.
Felipão chegou para ganhar uma Libertadores possível. Não deu. Nem a Copa do Brasil-18 que interessava pela grana. Mas ainda assim ela será sempre menor que o Brasileirão. Como sabe quem tira o chapéu para o Inter dos anos 70 e mal consegue escalar os titulares do Inter de 1992.
Diogo Olivier, continuo seu fã e leitor assíduo. Mas não posso deixar o nosso futebol e o nosso ofício se perderem em linhas e línguas ofídicas.
Como eu vou sempre lembrar esse Inter de 1976. Bicampeão nacional. O melhor time do Brasil daquela época – e que foi eliminado da Libertadores na primeira fase pelo Cruzeiro que seria campeão.
Foi derrota aquele 1976 colorado?