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O São Paulo queria um árbitro estrangeiro apitando o jogo decisivo do SP-72, domingo, 3 de setembro. As duas equipes estavam invictas. Mas o Palmeiras tinha um ponto a mais. Jogava pelo empate. E não quis árbitro de fora.
A FPF determinou sorteio para a arbitragem. O São Paulo também não gostou. O Palmeiras aceitou. O diretor tricolor Manuel Poço disse que os três árbitros não tinham condições para o Choque-Rei. “Os três já tinham prejudicado o São Paulo”. E voltou até a decisão do SP-50, quando um gol mal anulado de Teixeirinha atrapalhou o São Paulo na final do Ano Santo vencida pelo Verdão. Aquela que o levou à disputa e conquista da Copa Rio de 1951.
“Se o Palmeiras quer ser campeão por antecipação, o São Paulo entra em campo só para dar as faixas para ele. Estão fazendo de tudo para dar esse título ao Palmeiras”, falou o cartola, então bicampeão paulista, esquecendo a final do SP-42, quando o São Paulo não quis mais jogo no mesmo Pacaembu e tentou deixar o campo; e também o jogo decisivo do SP-71, quando um gol de Leivinha foi muito mal anulado por Armando Marques.
A FPF fechava com o São Paulo na questão do local do clássico decisivo do campeonato por pontos corridos. A federação queria o Morumbi, onde renda e público (necessariamente nessa ordem) seriam quase o dobro. O Palmeiras não queria jogar no estádio do São Paulo. Onde no ano anterior a arbitragem tinha sido ruim, torcedores invadiram o campo, gandulas brigaram com jogadores, e o ex-presidente do clube Laudo Natel, e então governador de São Paulo no auge da ditadura militar, assistia aos jogos do lado do gramado. Em um banquinho. Nem Benito Mussolini ficava tão próximo dos atletas e do apito.
“Do jeito que são feitas as coisas eu preferia jogar no Parque Antarctica sem torcida. Mas pelo menos jogaríamos na nossa casa. Sem pegadores de bola que fazem cera, gente invadindo o campo”. César, como o treinador Oswaldo Brandão (que estava no São Paulo na polêmica decisão de 1971) e todo o elenco alviverde, queriam a decisão no Pacaembu. Mesmo com menos renda. “Vai ser zero a zero e seremos campeões”. Bingo! Pai César!
Foi o que aconteceu naquele domingo. E que poderia ter ocorrido no sábado. Já que havia corrida dominical em Interlagos e ainda Grande Prêmio São Paulo, no Joquei. Eventos de grande público. Quando a PM conseguia dar conta da segurança. Quando o MP não tinha promotor de eventos fechado em seu Castilho.
Eventos esportivos que também fizeram com que o São Paulo pretendesse que o jogo fosse 18h, “para que as pessoas pudessem ir ao Jóquei e ao autódromo e depois ao clássico”, na ideia de Manuel Poço. Com muitos fundos. Depois ele mudaria de ideia. Dizia que o Palmeiras é quem queria jogo 18h “por estar mais cansado que o São Paulo”…
Dirigentes são-paulinos reclamavam muito da FPF pelo fato da entidade não ter conseguido demover os palmeirenses a respeito do local do clássico. No turno havia sido um empate sem gols com mando do São Paulo – no Morumbi. No returno, o mando era do Palmeiras – que quis jogo no Pacaembu. Ou em qualquer lugar que não fosse o estádio onde treinava e jogava o São Paulo. Algo que os cartolas tricolores não conseguiam entender. “A FPF tinha dito no início do campeonato que poderia intervir no mando se algum jogo fosse decisivo no campeonato. Não fizeram nada disso agora”, protestava Poço. Novamente esquecendo que não havia “final” em pontos corridos. Era uma casualidade. E, por justiça, que o Palmeiras exercesse seu mando onde quisesse. Ainda que com menos dinheiro em caixa.
Para o dirigente Herman Koester, “depois alguns dirigentes reclamam da falta de dinheiro e de público nos estádios… São os mesmos que inflacionam o mercado gastando muito dinheiro em contratações…” O discurso dele é de 1972. Mas poderia ser em 2018.
Manuel Poço lamentava o prejuízo financeiro. Ou o dinheiro que não seria perdido – apenas não seria levantado: “a renda no Morumbi passaria de um milhão de cruzeiros”…
No Pacaembu, provavelmente seria a metade. Mas aumentariam as chances do melhor time do campeonato ganhar em campo e no mando o SP-72. Sem desmando e sem demo e sem modos. Ganhar o título empatando como o Palmeiras empatou por 0 x 0. Com um pênalti não marcado por Oscar Scolfaro, o árbitro sorteado para a final – no sorteio sem a presença de representantes do São Paulo, contrários à medida.
Boa parte da imprensa, porém, estava com o São Paulo. O ESTADÃO fez editorial-sem-assinar-e-sem-avisar-que-era-editorial condenando a FPF em não intervir na questão – em dias de intervenção militar – e o Palmeiras de pensar pequeno e não querer jogar no estádio do rival (como muitas vezes aconteceria até 2005).
Porém, como veremos em texto em breve, “as rendas passam. Os títulos ficam”. E o jornal também não listou os problemas em campo e fora dele na final de 1971.
(Já se pensava assim em 1972. Embora o Palmeiras também tenha perdido a Libertadores de 1968 por pensar o contrário. Por querer mais renda que título. E também falaremos sobre isso.)
Não deixava de ter várias razões o ESTADÃO pela questão econômica. Como muitas vezes se pode discutir a questão. E o São Paulo fez questão de não mandar ninguém à reunião que definiu o jogo no Pacaembu. “Marcar esse jogo para lá e como a Seleção Brasileira jogar na Rua Javari”, disse Herman. “Vamos pedir exame antidoping para a decisão. Acho que o Palmeiras faria bem se fizesse o mesmo”, afirmou Poço. Ralhando também contra o aumento do preço dos ingressos. As arquibancadas passavam de 7 cruzeiros para 8 cruzeiros. “Um absurdo o torcedor pagar as contas por causa desse jogo ser no Pacaembu”.
O ingresso ficou mais caro. Mas não tão mais caro como em 2018.
Quanto deu de renda não importa na decisão de 1972. O que valeu foi que o Palmeiras foi campeão. E deu a volta olímpica em paz no Pacaembu que é verde por uso campeão.
O Palmeiras preferiu deixar de ganhar mais dinheiro para ganhar mais paz, tranquilidade, segurança e o Paulista invicto de 1972.