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Quando viramos porcos

Quando viramos porcos

Seu Ivo chegou na esquina no bairro do Ipiranga, na banca de jornais que ganhara do filho Eduardo, ponta-esquerda do Corinthians e da Seleção desde janeiro de 1968. Eram 7 da manhã de terça-feira, 29 de abril de 1969, na Zona Sul paulistana. Só lá ele teve a pior notícia da vida. O marido de Maria Neusa, que 24 anos antes dera a luz ao único homem dos quatro filhos do casal, ficou então sabendo o que acontecera nos primeiros 10 minutos daquele dia, na Zona Norte da capital.
A 50 metros da ponte de Vila Maria, o Fusca castor de placa 9-26-79 dirigido pelo lateral-direito corintiano Lidu (21 anos) subiu num canteiro de terra fofa de 6 metros na Marginal Tietê em obras, sentido Centro, e capotou várias vezes. Sem cinto de segurança – que não se usava na época -, Lidu e o companheiro de Corinthians foram projetados para fora do carro.

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Ele e Eduardo tinham jogado naquele domingo em Sorocaba contra o São Bento e empatado por 1 a 1, pelo returno do SP-69. O Corinthians vinha bem e poderia enfim encerrar o jejum desde 1954 sem títulos. À noite, deixaram o Parque São Jorge por volta das 21h e foram jantar no restaurante Chácara Souza, em Santana. Na volta, Lidu, que tinha acabado de comprar o Fusca e só tinha 4 meses de carteira de motorista, bateu o carro onde Eduardo era carona. O ponta-esquerda morava com a esposa Ester, com quem havia se casado em 22 de dezembro de 1968. Menos de um ano depois do ótimo jogador de tiro forte e dribles insinuantes ter sido comprado por 150 mil cruzeiros novos do América do Rio, onde fazia grande dupla com Edu Coimbra, irmão de Zico.

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O goleiro Diogo foi o primeiro colega corintiano do lateral Lidu e do ponta Eduardo a chegar de madrugada no PS de Santana. Os pais de Eduardo só viriam pela manhã, quando souberam do acidente. Quando já estavam dirigentes e atletas de quase todos os grandes clubes. Como o diretor de futebol palmeirense José Giménez López, e os atletas alviverdes Chicão, Baldochi e o auxiliar-técnico Mário Travaglini.

O velório foi na mesma segunda-feira, no Parque São Jorge. Mais de 30 mil presentes desde 12h30 até 17h, quando o corpo de Lidu foi para Presidente Prudente, para ser enterrado na manhã seguinte. Quase no mesmo horário de Eduardo, no Rio de Janeiro. Quando companheiros como Brito desmaiaram de emoção entre mais mil pessoas. O futuro zagueiro do tri em 1970 e que também seria do Corinthians em 1974 era um dos tantos colegas que viraram amigos de Eduardo.

O jogo com a Portuguesa pelo SP-69 foi adiado na quarta-feira, dia seguinte aos enterros. Os pais de Lidu, que tinham acabado de ganhar uma casa do filho em Presidente Prudente, receberam por muito tempo apoio do clube, como os de Eduardo.
Solidariedade e apoio de quase todo mundo.

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SEM NOÇÃO

O palmeirense José Giménez López não foi apenas ao PS de Santana. Também esteve presente ao velório no Parque São Jorge. Na dor, não havia rivalidade, apenas respeito e tristeza na segunda-feira da tragédia.

Na quarta, porém, o jogo começou a virar. O Corinthians propôs reunião do Conselho Arbitral da FPF para deliberar a inscrição no Paulistão de mais dois atletas. Direito que se estenderia para os outros clubes depois das inscrições encerradas no torneio.

Falou Wadih Helu, presidente corintiano desde 1961 (e que se perpetuaria até 1971): “Vou propor a ideia da inscrição de dois atletas [para substituir Lidu e Eduardo]. Mas não vou insistir nisso. Todos os clubes também poderão inscrever novos nomes. Não queremos privilégios”.

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Wadih Helu, presidente do Corinthians

A reunião com os 14 clubes do Paulistão de 1969 foi logo na sexta-feira, 2 de maio, 17h, na sede da FPF. José Ermírio de Moraes, presidente em exercício da Federação, conduziu a sessão. Para qualquer mudança no regulamento com a bola rolando seria necessária a unanimidade dos clubes, como sempre foi praxe em qualquer competição.

A sessão extraordinária começou com meia hora de atraso na Brigadeiro Luís Antônio. São Bento foi o primeiro clube a decidir. Votou pela permissão da inscrição de dois novos atletas. Também concordaram com o pleito corintiano Guarani, Ferroviária, Paulista, Portuguesa Santista, XV de Piracicaba, Juventus e Portuguesa.

Os clubes do interior não só agiram com o coração/razão. Seus cartolas tinham laços fortes e firmes com o deputado estadual Wadih Helu, um dos líderes da Arena, partido do governo e da ditadura militar no auge da repressão.

Giménez López era o representante do Palmeiras. O mesmo diretor que estivera no PS de Santana e no velório no Corinthians. Um dos maiores cartolas da história do clube. Também piloto de carro. Uma figura polêmica, muito inteligente. Palmeirense até demais. O único numa família alvinegra.

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Ele disse não à justíssima ideia corintiana.
“Eu penso com a cabeça, não com o coração”.
Será? isso não se pensa. O que é certo se faz. Não tem clubismo ou rivalidade. Tem humanidade.

VOTO NULO

“Imagine se voto a favor do pedido do Corinthians? Depois disso, por azar, a final do campeonato será entre Palmeiras e Corinthians, e daí se eles ganham o título com os dois novos jogadores? O que a torcida diria de mim”?

(Nada, Giménez… Embora muitos de verde tenham ficado do seu lado… Mas desde então os rivais falaram. Principalmente entre 1976 e 1986).

O cartola palmeirense tentou justificar a péssima ideia com argumento jurídico processual menor: “Primeiro o Corinthians deveria ir até a CBD [desde 1979 a CBF) e CND [Conselho Nacional dos Desportos] para fazer a consulta jurídica para saber se isso é possível [inscrição de novos atletas depois do prazo]. Depois os clubes paulistas se reuniriam no Conselho Arbitral [na FPF]. A minha missão é resguardar os interesses da coletividade palmeirense. Gastamos uma fortuna pra contratar reservas caros”.

Com o voto de Giménez, a proposta estava vetada. Só haveria mudança no regulamento se houvesse a unanimidade que o Palmeiras não dera.

Santos e São Paulo não precisaram votar. Nunca abriram seus votos. Mas Giménez deixou claro todas as vezes quando perguntado (ou não) que os outros coirmãos não seriam tão família assim também…

Ele iriam votar contra o pedido corintiano. Fato nunca confirmado por São Paulo e Santos.

BOLA FORA

Saindo da reunião que não durou nem uma hora na FPF, o presidente corintiano falou pouco para a imprensa: “o problema não é nosso. É do Palmeiras".

Henri Aidar, representante do São Paulo, admitiu a “má colocação do problema” no Conselho Arbitral, corroborando implicitamente com a linha de “pensamento” do cartola palmeirense.

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Henri Aidar, dirigente do São Paulo

Giménez lembrou então um caso recente. Parecido. Mas não idêntico. E nem por isso justificável para o voto infeliz e desumano.

“O Palmeiras teve problema parecido. Perdemos Luís Carlos no acidente com o Suingue… Sabemos o que é essa dor. Que se processe a coisa legalmente no CND e então discutiremos…”

LUÍS CARLOS CUNHA E SUINGUE

(28 de maio de 1966. Como Lidu, um lateral-direito da Prudentina veio para um grande da capital. Luís Carlos Cunha. Também jovem, 20 anos. Também num Fusca que acabara de comprar com as luvas da negociação com o Palmeiras – onde chegara cinco meses antes. Também ao lado de um companheiro de clube da capital – o meio-campista Suingue. Perto de Presidente Prudente, no km 534 da Raposo Tavares, o Fusca de Luís Carlos bateu de frente em um caminhão Ford 1948. Foi sepultado em Regente Feijó. Suingue teve o lado direito do rosto desfigurado pelo acidente. Mas voltaria a jogar em outubro de 1966. Em 1969 foi para o Corinthians).

A diferença básica entre os casos é que não havia nenhum torneio em disputa em 1966, pouco antes da Copa na Inglaterra. Não seria necessária abrir nenhuma inscrição de atleta para substituir Luís Carlos, contratado para a reserva de Djalma Santos.

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DAY AFTER

No dia seguinte ao veto palmeirense no SP-69, o treinador corintiano Dino Sani declarou o mesmo que o presidente do clube: “problema do Palmeiras”. Alguns atletas reclamaram da falta de consciência do rival. Helu chegou a afirmar que a atitude do cartola palmeirense era típica de "um espírito de porco".

O jornalista Antonio Guzman, no DIÁRIO DA NOITE, reclamou do voto de Giménez. “Atitude de porco-homem!”, relembra o historiador Jota Christianini.

Polêmico e bocudo, o diretor alviverde guardou a resposta para o primeiro Derby, logo depois, em 11 de maio, no Morumbi. Pedro Rodrigues era o lateral-esquerdo readaptado à lateral-direita para substituir Lidu. O ponta-direita Buião foi a opção de Dino para fazer a de Eduardo na esquerda.

Em campo, o Palmeiras venceu por 2 x 0. Gols de Artime.

“Esta vitória é a nossa resposta para os irresponsáveis que tentaram jogar uma torcida contra a outra”, disse Giménez. O presidente corintiano afirmou que, mesmo derrotado, “o veto do Palmeiras nos deu mais forças para o clássico”.

Giménez abusou da frase que o fez ainda mais querido no clube, como lembra o historiador palmeirense José Ezequiel Filho: "Se é bom para o Corinthians é ruim para o Palmeiras".
Na época, segundo Ezequiel, mais de 90% dos sócios fechavam com a atitude de Giménez.

PORCO EM CAMPO

Torcedores do Corinthians resolveram responder à baixura da atitude "legalista" do cartola verde: levaram um porco e soltaram no gramado do Morumbi antes do jogo.

Alguns torcedores alvinegros se manifestaram ainda mais depois do Derby. Não poucos usaram o termo "porco". O Palmeiras tinha tido uma atitude desumana. Para os detratores, "coisa de porco".

Tentaram que pegasse o apelido pela atitude inominável de Giménez (um grande cartola, responsável pela montagem da Segunda Academia palmeirense, a partir da reformulação do elenco, em 1968).

Não pegou. Ao menos de primeira. Mas a semente foi plantada. Ou ela apenas significava um replantio de algo muito antigo na história. Semeado décadas antes a partir do adubo de um preconceito inominável contra os italianos no Brasil.

HABEMUS PORCOS

“E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar”.
Marcos 5:12-13

Porcos nunca tiveram vida fácil. Não se pode ou não se deve comer sua carne, dependendo da religião ou das condições de saúde, e não é mesmo alimento dos mais saudáveis.

No Antigo Testamento, Deus deu ao povo judeu regras para mostrar que seriam diferentes de outros povos, separados para serem considerados puros. Algumas dessas regras eram cerimoniais, como a circuncisão e a proibição de comer carne de porco.

"O porco também é impuro; embora tenha casco fendido, não rumina. Vocês não poderão comer a carne desses animais nem tocar em seus cadáveres".
Deuterônomio, 14:8.

"Os que se consagram para entrar nos jardins indo atrás do sacerdote que está no meio, comem carne de porco, ratos e outras coisas repugnantes, todos eles perecerão", declara o Senhor.
Isaías, 166:7

PORCARIA

A imagem que se tem dos porcos são de animais sujos, pouco higiênicos, que comem qualquer coisa, cheiram mal, são barulhentos.

Mas os porcos também são defensáveis. Quando soltos, são limpos, independentes, cuidam de suas casas e famílias, e costumam se dar muito bem. Sem cornetas.

A proporção entre peso do corpo e do cérebro é alta. O porco é mesmo um bicho inteligente.

Na obra A REVOLUÇÃO DOS BICHOS, clássico de George Orwell de 1945, o animal mais poderoso e odiado não foi outro.

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PORCOS CARCAMANOS

Quando em 1920 o Palestra Italia comprou o Parque Antárctica e ganhou o seu primeiro título, a capital paulista tinha 205 mil estrangeiros. Mais de 90 mil eram italianos. A grande maioria torcedora palestrina.

As conquistas do Palestra no tricampeonato de 1932-34, em 1936, e no torneio de 1940 aumentaram a rivalidade com o Corinthians, e com o São Paulo que crescia (clube também originado no antigo rival Paulistano, da elite da capital).

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Com o advento do Estado Novo totalitário a partir de 1937, e com a Segunda Guerra Mundial iniciada em 1939, com a Itália fascista de Mussolini aliada aos alemães e japoneses no Eixo, os “italianinhos” e seus oriundi que já não eram tão bem vistos em partes de São Paulo e no Brasil, passaram a ser malvistos por muito mais gente. Tiveram bens confiscados. Entidades fechadas. Atividades nacionalizadas. Proibição de reuniões e viagens. Uso da língua italiana nas ruas proibido. Processo que também sofriam alemães e japoneses.

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Benito Mussolini assume o poder na Itália
A partir dos anos 1940, com a iminência de o Brasil entrar em guerra contra o Eixo como aconteceria em agosto de 1942, os italianos passaram a sofrer mais preconceitos além de serem chamados de “carcamanos” e “italianinhos”. Alguns deles e seus descendentes eram mesmo chamados de “porcos”.

POR QUE PORCO?

Não se sabe quando começou. E nem o porquê. Mas existem algumas teses. Os "italianinhos" comiam polenta, o que para fazendeiros era comida "para porcos". Para alguns, italianos e oriundi comiam polenta com as mãos. “Como porcos”.

Na roça, no interior, desde o final do século XIX, existem relatos que perduraram até a primeira metade do século XX de que italianos e descendentes eram chamados de "porcos" pelos donos de terra e brasileiros.

Nos anos 1940, com as medidas totalitárias que obrigaram o Palestra Italia a mudar de nome e virar Palmeiras em 14 de fevereiro de 1942, também teriam sido chamados seus torcedores de "porcos" em alusão ao fascismo e seus adeptos, que não poucas vezes eram chamados de "porcos fascistas".

Mesmo não sendo o clube de fato um polo fascista ou um antro do Eixo em São Paulo, ainda que alguns eventos nos anos 1930 no Palestra tenham tido a presença até de políticos italianos.

"PORCO FASCISTA"

A expressão mais conhecida é usada há décadas. Como fez Oswald de Andrade, no poema "Canto do Pracinha Só":

"Na hora letal e fria
Pegaste o porco nazista
Sangraste o porco fascista
Que pretendeu macular
O teu bocado de pão
O teu bocado de honra
O teu bocado de lar"

Norte-americanos já usavam desde os anos 30 o mesmo termo: “fascist pig”. E não só para questões políticas. Também para qualquer truculência de policiais e militares, ou mesmo apenas para o cumprimento mais rigoroso da lei por parte de seus agentes.

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(Em 2018, em protestos das esquerdas na Itália, faixas como "melhor porco que fascista" tentavam virar o jogo.)

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(Em 2018, e em todos os shows da turnê de Roger Waters do álbum "ANIMALS", coincidentemente de 1977, o cartaz acima irritou muitos palmeirenses nas apresentações no Allianz Parque. Mesmo, obviamente, não tendo nada a ver)

PORCÃO-76

Voltando aos estádios do Brasil. De maio de 1969 a agosto de 1976, um e outro chamava o palmeirense de “porco” – como alguns italianos foram chamados a partir dos anos 40, como alguns palmeirenses também foram pelo triste episódio da negativa para a inscrição de dois novos atletas do Corinthians na sequência do SP-69.

Mas o jogo começou a virar em agosto de 1976. Último jogo do Paulista que havia acabado de ser conquistado pelo Palmeiras, no Palestra, contra o XV de Piracicaba. Derby contra o Corinthians que só não correu risco de rebaixamento porque não havia descenso no SP-76.

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Palmeiras 2 x 1 Corinthians. Show de Jorge Mendonça. Verdão entrou no Morumbi com a faixa de campeão no peito. A mesma que só voltaria a vestir em 12 de junho de 1993.

Contra o mesmo Corinthians no mesmo Morumbi.
Corintiano que naquele domingo ensolarado do inverno de 1976 vivia inferno sem conquistas desde 1954. E nessa longa estiagem acabou descobrindo um canto adormecido que faria por 10 anos o palmeirense calado. Amuado. Enraivecido. Sem resposta.

“POOOOOOORCOOOOOO”

Nas arquibancadas acima das cabines de televisão, os corintianos em menor número no último jogo do SP-76 levaram uma bandeira branca enorme. Com um desenho gigante de um porco. E a inscrição acima dele:

“PORCÃO-76”

Pior. Com o coro ensurdecedor que calava mais fundo que o canto alviverde de “um, dois, três" até os 22 anos de “parabéns a você” pela longa fila alvinegra.

POOOOOOORCOOOOOO

Desde aquele Derby, o coro pegou. E para todos os rivais. O Palmeiras podia fazer 5 a 1 como fez dando show com Telê no SP-79 contra Santos e Portuguesa em sequência. Mas bastava a torcida rival gritar POOOORCOOOOOO para o palmeirense ficar quieto. Com razão ou só raiva e emoção.

No SP-77, vitória de 4 x 2 do Palmeiras no Morumbi, um porco pintado de verde no gramado causou uma discussão áspera do jornalista Roberto Petri com o presidente alvinegro Vicente Matheus, na TV Gazeta. O pesquisador palmeirense Pedro Luís Boscato lembra que a briga gerou mais repercussão que a grande virada do time do técnico Dudu.

Nada se compara na história do clube. A brincadeira nos últimos anos do Mundial, a polêmica do fax da Fifa, da não aceitação dos Brasileiros conquistados e unificados, as quedas, e tudo que se tenta falar contra o Palmeiras, nada se compara ao que se sofreu pela fila de 16 anos e pelo coro de POOOOORCOOOOOO nos primeiros 10 anos de jejum.

O palmeirense perdia a fala. A razão. Ficava quieto. Puto.

Até mesmo com o diretor de marketing João Roberto Gobbato. Em 1983, para acabar com o coro e a provocação, lançou a ideia de assumir o apelido.

Quase sumiram com ele do cargo.

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João Roberto Gobbato, diretor de marketing do Palmeiras em 1983, e o desenho feito pela mulher.

Mas a ideia ficou para alguns. E deu frutos. Virou o jogo em 1986.

E DÁ-LHE PORCO!

Na Copa de 1986, a melodia foi uma febre como a ola nos estádios. Todos repetiram no Brasil. A torcida do Palmeiras, animada pela Mancha Verde e TUP, foi além.

Resolveu assumir o porco que antes soltavam nos clássicos contra o Palmeiras. Era vez de o Verdão trazer o próprio bicho. E cantar o grito que se espalhou rápido.

E DÁ-LHE PORCO, E DÁ-LHE PORCO, OLÊ, OLÊ, OLÊÊÊÊ

Nas semifinais do SP-86, em agosto, o Palmeiras superou o Corinthians e a arbitragem infame ao grito de DÁ-LHE PORCO.
O craque do time, o meia Jorginho, num clássico contra o Santos, pelo BR-86, entrou com o porquinho em campo. Seria capa da revista PLACAR.

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No SP-87, um porco de porcelana chamado Bolão virou talismã. O Palmeiras ganhou o turno. Edu Manga adorava. Mas ele foi quebrado por um gandula do Botafogo, em Ribeirão Preto. Não deu título. Mas virou manchete.

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O porquinho Chicão o substituiria. De verdade. Mas de novo não deu liga.

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GOBBATO

Na vitória que seria essencial para a conquista do enea, contra o Inter, no BR-16, o Palmeiras estreou oficialmente o novo mascote. O porco Gobbato. Batizado em homenagem ao pai da ideia em 1983. Adotada em 1986. Oficial em 2016.

Porco mais pra javali, virou túnel de acesso ao gramado, e até dirigível. Mais ousado e agressivo. Como o espírito de porco, sem perder a alma do periquito.

O Palmeiras virou mais um jogo. Calando mais uma vez os rivais. Com razão. Ou apenas emoção.

Na bola. Transformando a lealdade em padrão. Sem pisar na bola como assinou o atestado há 50 anos.

COLABORAÇÃO: ALEXANDRE GIESBRECHT.