Preciso compartilhar o meu sofrimento. Essa noite foi terrível. Tive um pesadelo duro que me deixou apavorado, encolhido e desesperado. Estou tremendo até agora. Tudo começou quando – no meu sonho – eu entrei no antigo Palestra Itália. Ele estava vazio. Logo na porta, fui recebido por Rosembrick. Eu dei bom dia e Rosembrick me respondeu, furioso: ‘Bom dia o cacete, moleque. Meu nome é Rosembrick José Bezerra de Lira. Quem é você pra me chamar com essa intimidade?’. Já comecei a achar estranho.
De repente, quando pisei o pé direito no antigo estádio depois de muitos anos, começou a correria. Rosembrick veio pra cima de mim e você manja, né? Rosembrick só sabia correr. Mas eu corria mais, por incrível que pareça. E me livrei. Quando menos esperava, no entanto, do outro lado do campo, Edmilson Canhão do Pantanal apareceu e começou a tentar me atingir com suas bombas, chutes de todos os cantos. Aí fiquei tranquilo: ele nunca acertou o gol mesmo. Já conhecia a mira do meu novo inimigo. Dessa vez, porém, errei. E Edmílson acertou a minha cabeça que, sangrando, bateu no gramado do Palestra.
Eis que a coisa ficou séria. Wesley tacou um caminhão de pipocas na minha cara e o sal ardia horrores. Marcinho Guerreiro chegou no carrinho, buscando machucar meu joelho direito. Jumar veio junto e chamou a tropa toda. Rapidamente consegui me reerguer e a fuga começou. Subi a arquibancada com a velocidade do Lúcio – o melhor lateral do mundo – até me jogar do último andar, caindo na Rua Turiassu (que não é mais Turiassu, mas ainda era na placa que eu sonhei nessa noite). Leandro Amaro, Maurício Ramos, Felipe Menezes e Cristian Mendigo riam de mim.
Tirone chamou a polícia e era o mundo contra o cronista que aqui escreve. Mas ninguém me encontrava por São Paulo até que Maikon Leite entrou no sonho, já no segundo tempo, apostando corrida com Gioino. Eu estava longe e jamais pensei que Maikon me alcançaria, mas o improvável aconteceu, com velocidade de 236 quilômetros por hora. Tive de voltar em direção ao Palestra para buscar abrigo, recebendo pontapés, socos e rasteiras. Já estava mais lesionado do que o Mago.
Quando o fôlego estava acabando, reencontrei o portão do Parque Antártica e o segurança fazia cara de bravo, com os braços cruzados. Cheguei mais perto e vi que o segurança era o Bruno, ex-goleiro do Palmeiras. Ele estava pronto para dar o bote e me prender, ao lado dos policiais. Mas passei por baixo das pernas dele, imitei um peru (cocóricóóóó, sei que não, mas no meu sonho peru gritava assim) e consegui fugir.
Subi novamente na arquibancada e, ao lado do anel do jardim suspenso, vi Mustafá. No meu sonho a língua do Mustafá era parecida com a de um sapo gigante e, com ela, ele quase conseguiu me alcançar (me salvei por exatos 15 centímetros). Ele dizia, repetidamente: ‘bom, barato e vou te pegar’, ‘bom, barato e vou te pegar’, ‘bom, barato e vou te pegar’. Era como se fosse a última fase do Mário Bros, sabe? A língua sem fim vinha e voltava, na velocidade do Euller. E aí no auge do medo, no topo do desespero, sem qualquer saída, decidi me jogar do anel.
Dei exatas 14 piruetas involuntárias antes de cair.
Bati a cabeça, faleci e contrariei a ordem da vida: acordei depois de morrer.
Ufa.