Tenho ouvido algumas críticas sobre o futebol apresentado pelo Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, assim como tantas vezes ouvi (e rebati) no ano passado para o Corinthians de Fábio Carille. Pra começo de conversa, não há modelo pobre no futebol. Não há certo ou errado nesse esporte. Algum pensamento pode ser mais antigo, batido e outro menos badalado, comentado ou usado, mas nenhum desses adjetivos determina o sucesso ou o fracasso de um modelo de jogo aplicado a 30 atletas diferentes. Quem elogiou o moderno Fábio Carille (como eu sempre fiz) tem de elogiar o ultrapassado Scolari.
Carille, considerado moderno, foi campeão brasileiro no ano passado pelo Corinthians apostando muitas vezes nas casquinhas de Jô, na roubada de bola com transição rápida para marcar gols e se defendendo com excelência para manter o zero do adversário no placar. Felipão, considerado ultrapassado, já usou as casquinhas de Deyverson, marcou poucos gols apostando na transição rápida e ainda não sabe o que é ver seu time ter as redes balançadas. Ambos usando o 4-2-3-1, que de novo não tem nada, já que ele já era utilizado por Telê Santana na Copa do Mundo de 1982 com Leandro, Oscar, Luizinho e Junior; Falcão e Toninho Cerezo; Sócrates, Zico e Éder, com Serginho Chulapa na frente.
Dito tudo isso, é preciso deixar claro que não há pobreza de jogo em querer resolver um jogada logo quando se tem a bola, em usar casquinhas depois de tiros de meta para iniciar a construção de uma jogada no campo de ataque ou cruzar na área quando se tem um alto cabeceador pronto para superar seus rivais na zona mais próxima possível do gol. É possível dizer que um estilo é bonito ou feio de se assistir, claro, mas não se pode chamar de pobre uma soma de ideias que faz um Corinthians conquistar um título brasileiro de pontos corridos ou um Palmeiras conquistar a vantagem de dois gols em um mata-mata de Libertadores fora de casa, uma classificação a semifinal da Copa do Brasil e uma sequência de seis jogos sem levar gols, o que não acontecia desde 2008.
EDUARDO, CUCA, ROGER, FELIPÃO E AS IDEIAS QUE DERAM RESULTADO MAIS RÁPIDO
Para uma equipe tornar-se competitiva, é fundamental que o treinador encaixe ideias que o elenco compreenda e aplique com naturalidade, o que por consequência eleva a confiança dos atletas e gera grande número de bons resultados. Esse Palmeiras de Luiz Felipe Scolari é completamente diferente dos últimos trabalhados por Eduardo Baptista, Cuca e Roger Machado. Não que eles estivessem errados em seus trabalhos, mas um precisaria de mais tempo para que sua ideia caísse no gosto do torcedor, outro não aparentava tanta motivação para se reinventar e um último não conseguiu tirar de seus comandados os resultados (principalmente defensivos) que se esperava. Cada soma de ideias exige seu próprio tempo para correções, evoluções e alcance dos objetivos, porém Luiz Felipe Scolari foi aquele que chegou mais próximo do que desejou construir com essa equipe no espaço mais curto de tempo.
O PALMEIRAS DAS QUARTAS DA COPA DO BRASIL FOI TÃO PERIGOSO QUANTO OS OUTROS CLASSIFICADOS PARA A FASE SEMIFINAL
Nas quartas de final da Copa do Brasil, o Palmeiras venceu por 1 a 0 a equipe do Bahia no placar agregado e alcançou a fase semifinal junto com Cruzeiro, Flamengo e Corinthians. O bom desempenho defensivo do time de Felipão aparece no momento em que se observa que o Palmeiras é a equipe que mais rebateu e interceptou bolas entre os quatro que avançaram das quartas de final do torneio. Entretanto, embora alguns julguem a equipe pouco perigosa, o time concluiu no alvo, ou seja, na direção do gol, as mesmas nove vezes que Corinthians e Cruzeiro, abaixo apenas do Flamengo, que acertou o gol dez vezes. Além disso, também é a equipe que mais acerta lançamentos (40 contra 33 do segundo colocado Cruzeiro) e cruzamentos (11 contra 7 do segundo colocado Corinthians).
O GOL DA VITÓRIA CONTRA O BAHIA NÃO É APENAS UM CRUZAMENTO
A assistência que deu ao Palmeiras a classificação para a semifinal da Copa do Brasil veio dos pés de Mayke, mas a construção de jogada teve início em Weverton, passando por todo o campo com bola no chão até culminar na tabela que virou cruzamento na cabeça de Dudu, como você pode conferir aqui nas minhas imagens em câmera aberta no link abaixo:
Concluindo, é preciso entender que há muitas formas de se conquistar um objetivo no futebol. Algumas somas de ideias trazem no gramado um jogo mais vistoso, outras geram um futebol mais objetivo. Independente daquelas que se escolhe implantar, a meta é sempre o resultado final. E se ele chega, não há o que discutir. Os erros que um técnico não pode cometer são simples: o primeiro é não estar convicto daquilo que entende ser o melhor para um grupo e o segundo é fechar os olhos para correções e ajustes que precisam ser feitos no decorrer do trabalho. Ah, sim! Antes que eu me esqueça, errado é aquele que rotula sem analisar e se debruça no senso comum. Quem elogiou o moderno Carille, que trate de elogiar o ultrapassado Felipão.