Aprendi que as grandes histórias têm uma essência simples, básica e nada exagerada de amor. Ele que se agiganta nos momentos mais singelos, nas conquistas que quase ninguém vê, nas dificuldades que ninguém quer ver, no esforço absoluto e cego de quem corre por esse sonho. As grandes histórias estão por todos os lados menos vistos do mundo e quando uma delas bate na sua porta, é a pura obrigação humana de dar a mão e conduzi-la ao mundo, mirar os holofotes e fazer com que brilhe, enfim.
É absolutamente comum que um torcedor veja, ao menos de vez em quando, seu time jogando pertinho, na televisão de casa. Pode demorar algumas semanas, pode demorar algumas divisões, mas o momento chega. Se o time estiver na séria A do Brasil, o tempo se encurtaria. Uma semana, duas, talvez. E se forem anos? E se forem meses e meses esperando que o dia de matar a saudade chegue e ele nunca aconteça. A sazonalidade anual, muitas vezes, é a vida dessa gente que faz sofrer por sofrer e levar a vida onde pode, mas apaixonado por quem não pode conviver.
Rafael mora no Piauí. Rafael ainda não viu o Palmeiras jogar em 2018.
Em nomes dos incontáveis Rafaeis que existem por esse mundo, essa hisória será contada como um grito de saudade, uma demonstração de paixão além das fronteiras digitais e geográficas que tomam conta daquilo que é, de fato, a grande paixão dessas pessoas, sejam elas de quais cores e bandeiras quiserem ser. A ordinariedade de um jogo de futebol sendo descontruída da forma mais humana de torcer.
A dona das transmissões de futebol no Brasil comunicou na manhã dessa quinta-feira que no próximo dia 20, outra quinta, Palmeiras e Colo-Colo será assistido pelo país todo, sem estados excluídos. Para todas as mini telas que estão espalhadas nos rincões dessa terrinha. No Twitter, Rafael festeja o momento. Esse cronista quis saber mais. E que história viria daquela conversa.
Palmeiras passou pelo Piauí em 2010 e palmeirenses lotaram o estádio em Teresina
Rafael está há mais de um ano longe do Palmeiras, que é sua foto de perfil na rede social. Ele trabalha nos períodos vespertino e noturno e, apesar de folgas às quartas para tentar ver o clube do coração, a televisão não o aproxima do maior campeão do país. Não há transmissões que cheguem até lá e a condição econômica não permite que as assinaturas online sejam feitas. Muitas vezes, a única solução são os links clandestinos que mal funcionam.
"Por mais difícil que seja, eu dou um jeito"
Qauntos e quantos e quantos não se sentem representados por esse dia a dia? Quantos de vocês que leêm essa história não se enxergam na mesma situação? É um que são milhões, que conta a vida de uma gigantesca parcela da sociedade que ama, mas está afastada do futebol. Esse esporte direcionado e muito caro.
O Norte e o Nordeste têm saudades, como ele mesmo diz: "quanto teve Palmeiras e Comercial, aqui, foram várias caravanas pro jogo, tinha mais torcida que o time daqui, tem palmeirense pra todo lado no Piauí". Tem mesmo, o GloboEsporte.com noticiou em 23/02/2011 que havia mais de 20 mil torcedores alviverdes naquele dia.
Lá se vão 7 anos. Em 2018, o Palmeiras fez uma excursão para amistosos pela América e jogou três vezes para públicos irrisórios. Rafael lembra do caso com uma outra ideia na cabeça: "deveriam ter vindo pra cá, pro Nordeste, fariam uns jogos aqui nos Estados e matava a saudade de um monte de gente". Em época de estádios caríssimos e modernos, quando a televisão cobra para ser vista de qualquer canto, um carinho em quem apoia sob qualquer circunstância, seria uma excelente iniciativa.
E se as lembranças dele dão conta da época que Felipão ainda comandava o São Marcos, os planos são bem mais modernos e atuais: "se o Fortaleza subir, ano que vem vai dar pra ver o Palmeiras aqui. Teve meses atrás contra o Ceará, mas não tive condições pra ir". Que o destino ajude esses tantos Rafaéis pelo Brasil a estar menos longe de suas paixões, menos excluídos do mundo megalomaníaco do futebol, afinal:
O maior legado de um clube é, sempre, o seu torcedor. Esteja ele onde estiver.