E como sangra
E tem que sangrar mesmo. É pra quem tem sangue, tem alma, tem história. Como o Dérbi. Como Corinthians x Palmeiras. E que história cada um tem.
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Você pode sangrar usando uma lanceta. Ou um lance como os tantos de Imparato e Romeu nos 8 a 0 de 1933. Um gol de Ronaldo antes de Dudu desmaiar em 1974 com a Academia de da Guia. Hemorragia interna como eu sentia até Mirandinha abrir o placar no Dérbi do SP-86. Sangue nos olhos como Zinho de pé direito, Evair de pênalti em 1993. Edmundo no mesmo ano no Rio-São Paulo. Rivaldo no BR-94. Marcão em 1999 e com Galeano e Alex em 2000. Prass em 2015. Patrick de Paula e Weverton em 2020.
Sangria desatada.
Sangria que foi remédio para tudo e pra todos, dos séculos XVI a XVIII. “Sangrai e purgai-o. E se morrer enterreai-o” era adágio popular na época em Portugal. Sangria que realmente continha os “humores danosos”. Internos às vezes mais que os externos. Também pelas pragas de algumas sanguessugas em todos os campos.
Era a flebotomia que curava quem tinha sangue.
Dando sangue como Lucas Lima está brigando por bola perdida como tanto tempo dele no Palmeiras e achando Willian para servir Gabriel Verón. Sangue jovem e verde e azul de Savoia.
Sangrar também é gotejar. Como o Palmeiras no Dérbi na Neo Química Arena enfim não se intimidou, fez seu jogo como se estivesse em casa, e jogou com suor e saber, não contando gotas por terem sido inúmeras. E sabendo dosar as gotas e os humores. E poderia ter feito até mais depois do primeiro gol e da expulsão justa de Fagner, como seria a de Danilo Avelar aos 39 finais.
É exsudar. No calor da disputa sentir a energia em trânsito para esquentar o ataque com Wesley de novo bem pela esquerda, Luiz Adriano menos isolado, Menino e De Paula gigantes, Lucas Lima merecendo elogios. Como o time de Luxa. E Luxa. Sem sangrar a alma por elogiar quando merece. Sem singrar esgotos quando joga mal e não porcamente.
Sangrar é verter o que se viu de verde em Itaquera. Não foi só “raça” tão subjetiva. Foi bola mesmo. Desempenho. Enfim a aproximação sem distanciamento social e esportivo. A compactação sem a bola dando poucas chances a um Timão que tem jogado muito mal, também.
Sangrar é cortar uma barragem, um rio, uma barreira, dar o passo além, e não tantos passes em falso. É dar vazão a sentimentos e energias represadas. Perder recursos físicos – mas responder na química da vitória verde. Sangrar é extorquir o que não pode. Sangrar é tomar dinheiro emprestado e não devolver. Sangrar é fazer a escória de dejetos. Sangrar tem várias acepções.
Mas a grande maioria é positiva. É questão de química. Geografia. Português. História. Futebol. Dérbi.
Só sangra quem tem o que o Palmeiras teve no Dérbi. E costuma ter mais vezes que o rival, sobretudo nos clássicos realmente decisivos. Nos que ficaram para a história que precisa sempre se respeitar mais do que as pessoas pensam.
Se é que pensam.
O Palmeiras fez sua melhor exibição em 2020. A melhor no Brasileirão junto com a vitória sobre o Santos. Está melhorando, ainda mais nos jogos grandes. O que é sempre melhor. Dar e doar sangue quando mais precisa.
É questão de quem tem sangue.
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