Luciano cresceu nas arquibancadas de concreto do Palestra Itália. Tem eternizado na pele o autógrafo do maior ídolo. Do homem que daria nome ao seu sonho de ser pai. Leonardo Evair viria ao mundo com as veias alviverdes e um coração abarrotado de paixão. E faria real todas as noites em que Léo e Luciano dividiam um dia de Palmeiras.
De pai. De filho. De espírito animal. Matador.
Fácil seria contar uma história de super herói e de alegrias, de vitórias. De fantasia. Os sonhos não são assim. Há pesadelo até que o sol apareça e faça clarear. Quando a luz trouxe Leonardo, o pai passou a contar os minutos para transmitir ao amor personificado tudo aquilo que motivou a sua vida. Dividir com aquele pedacinho de si, o sentimento que explodia pelas veias.
Foi quando uma notícia abalou o coração desse pai. Fez dele, vítima. Confundiu suas sensações e desnorteou. O filho havia sido diagnosticado com autismo. Tudo mudaria. O estádio passaria a ser um lugar hostil para o pequeno que não teria conforto naquele lugar. O futebol, tampouco. O sonho do pai, se esvaia entre os dedos. O amor ficava, mas tudo se esfumaçou.
Ao amigo Thiago com uma situação semelhante, pai dividia o sofrimento do filho. Sentiu que não era o único. Viu beleza no amor transformado que aqueles dois construíam. Que sua negação não era o verdadeiro sentimento que tinha no coração. Um dia, não se conteve. Permitiu-se entender a benção que tinha nas mãos. O quanto era amado por alguém tão puro.
Aprendeu o amor.
Dez anos desde que o mundo lhe presenteou com a paternidade, no dia dos pais, no dia da dádiva de ter um fã eterno do super herói que ninguém é, Luciano encontrou o melhor sentimento. Foi buscar o sonho que havia morrido no dia daquele diagnóstico e decidiu vivê-lo durante noventa minutos.
O mundo se encarregava da justiça.
Eles foram ao Allianz Parque. E me faltam palavras que falem melhor que Luciano, sobre o que viveu. Por isso, voz a quem chorou:
“Não dá pra descrever os primeiros minutos com o Léo no Allianz. Eu olhando pra ele, hipnotizado, me vieram várias memórias. Me emocionei demais, abracei ele e chorei, ali, sozinho. Lembrei do dia do diagnóstico. Cheguei às 15h e sai só as 18h e ele não pediu o celular uma vez sequer. Estava hipnotizado. É inexplicável. Amanhã eu viro Sócio Avanti.”
Pai, o amor pelo Palmeiras não se explica. Se sente. Sabemos disso. O Léo viveu o que corre na veia dele desde o ventre da mãe. O seu choro é nosso. É de quem venceu tudo através do amor. O paternal, o do futebol, o pela vida. O que agradece por ter sido agraciado por uma vida.
Você disse que a vida havia parado naquele dia. Ela recomeçou hoje, não há dúvida. Foi nesse sopro de dia que o convite chegou e que o pai sentiu que ele e o filho estavam conectados pelo mesmo ideal. Sentindo juntos. Vibrando juntos. Amando um ao outro. Espalhando o que há de melhor no mundo.
Obrigado por fazer nosso mundo mais verde. E muito mais feliz.