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Um brother que faz festa no céu

Um brother que faz festa no céu

Marcello di Lallo também foi plantão. E foi de tudo no belo trabalho que Eldorado e ESPN fizeram no rádio. Com Silvio Valente ele foi um dos corações e cabeças de grande equipe. Com Flávio Gomes, dividiu microfone e madrugadas longas como a saudade que já bate depois da perda do amigo mais que colega há um ano. Em um jogo de tênis que ele também manjava e curtia.

Estivesse ainda fazendo o rádio que amava e entendia como poucos, seria o brother Di Lallo quem teria anunciado os tantos gols da grande classificação do Cruzeiro contra o Corinthians, pela Copa do Brasil de 2016. 4 a 2 no Mineirão! Vinte anos antes de partir sem dizer até logo, Marcelo cobriu comigo pela rádio Gazeta a inesperada derrota do nosso Palmeiras na épica final da Copa do Brasil de 1996. Virada celeste por 2 a 1. Aquele maravilhoso time de Luxemburgo teve 25 chances em dois jogos. Fez apenas dois gols. O ótimo Cruzeiro de Levir teve cinco oportunidades. Marcou três vezes e foi campeão. Como explicar? Como entender?

Não tivemos palavras. Como agora, um ano depois da partida dele, ainda não sei o que é falar a respeito da perda de um amigo querido por uma dor no coração grande. Soube pela mensagem de outro irmão que o jornalismo me deu. Sergio Patrick me mandou WhatsApp à tarde, quando eu estava na loja de discos Best Buy, no penúltimo dia das curtas férias em Nova York. As pernas tremeram. Só consegui olhar em volta e ver os poucos CDs que ainda são vendidos. Menos que os LPs que voltaram às prateleiras, num revival inesperado. Quase uma virada como a do Cruzeiro em 1996.

Lembrei do brother Di Lallo entrando comigo na Tower Records de Santa Clara, pouco antes da Copa de 1994, a primeira que cobrimos juntos, pela rádio Gazeta, onde trabalhamos de 1991 até a rádio ser alugada para uma igreja, em 1996. Não sei se o termo é esse, mas fomos desligados na véspera do fim do ano. Naquele mesmo 1996 sem palavras. Dois anos depois daquela Copa de tetra. E das longas horas na Tower buscando e ouvindo todos os sons e sonhos.

O do Di Lallo era viver um dia na praia. Pousada na Bahia. Ligado em alguma alta frequência de alta fidelidade. Desligando deste mundo em alguma vibe do Pink Floyd. Da banda que amamos. Da camiseta que logo vi à venda na outra loja da cidade que nunca dorme nos EUA. Mas que me pareceu perdida naquele momento de perda de um amigo que passou 50 anos pensando o rádio. Ouvindo o rádio. E tendo ideias. Uma delas, se tudo der certo, farei em nome dele. Aviso quando der certo. (E posso avisar agora. É o NOSSOPALESTRA.COM.BR).

Tem a ver com rádio. Tem a ver com o Palmeiras que o levou à rádio Gazeta. Ele começava na produção há 30 anos, com o mestre Pedro Luís. O nosso time perdeu o primeiro jogo da semifinal do SP-86 para o Corinthians em péssima arbitragem. Di Lallo ja produzia programas. Tinha contatos. E perdeu a estribeira. Era Cordenunzzi por parte de mãe. Mas não era cordeirinho para ninguém. Não teve dúvida. Pegou o telefone e ligou pra casa do árbitro. Falou um monte de absurdos e desligou. Sociedade Esportiva Jornalismo em ação. Clamor pro justiça que se viu no jogo de volta, no 3 x 0 no Corinthians. Aquele gol olímpico do Éder. Aqueles dois gols do Mirandinha.

Não é página notável de Di Lallo. Claro que não é. Mas era paixão por fazer de tudo pelos amigos e por aquilo que ele gostava. Ele talvez não tenha ficado triste pela merecida classificação do Grêmio na Copa do Brasil do ano passado. Rival que focava o penta da Copa do Brasil e que eliminou quem foca o enea como o Palmeiras.

(E deu tudo certo. Para nós, em 2016. Para eles, em 2017).

Di Lallo deve ter aplaudido o esforço do Juventude de Antonio Carlos Zago, que só perdeu nos pênaltis para o bravo e favorito Atlético Mineiro. Deve ter aplaudido a superação do Inter que eliminou o favorito Santos. Deve ter acompanhado tudo isso. Di Lallo não para. E crê, pela fé dele, que são estágios nessa e em outras vidas que vivemos.

A religião dele lida melhor com algo que não sei lidar. Ainda mais longe do Brasil. E mais longe ainda do amigo que vi pela última vez no lançamento do meu novo filme do Palmeiras. Cem anos de uma história que nos une.

Brother, bicho, para despedir, coloca aí em cima e no ar VENTURA HIGHWAY do AMERICA. Aquela canção que ouvimos no carro, no rádio, voltando do treino do Brasil, em 1994. E na própria Ventura Highway.

A gente continua nossa aventura por aqui. Um abraço. E já que está por aí, toma aquela com os nossos pais que eram amigos de Pinheiros. E, se tudo der certo, façam festa no final do ano. Vamos precisar de vocês por aí.

(Era o meu pedido em outubro de 2016. Deu certo em 27 de novembro contra a Chapecoense. E mais colegas e gente de Chapecó foi antes da hora lá pra cima com todos eles dois dias depois. Não tem como não ter saudade. Não tem como compreender).