Deyverson é capaz de coisas impressionantes. Nunca duvide dele. Tudo pode acontecer. Qualquer dia, num clássico de domingo, ele vai entrar em campo dando oito piruetas e um salto digno de Daiane dos Santos. Será aplaudido pela multidão. Que, claro, também vai distribuir gargalhadas. Alguns idiotas até cusparadas exaltam. No hino nacional, na sequência, a música tradicional será substituída por "conga la conga", de Gretchen, a pedido de Deyverson. Ele vai dançar e dançar e dançar neste momento. Como se não houvesse amanhã. Ou melhor: como se não houvesse jogo na sequência. O jogo sempre será o menos importante para ele.
Qualquer dia Deyverson não precisará correr. Seus feitos malucos chegarão ao ápice de flutuar em campo. Andará sem encostar os pés no chão e as chuteiras farão laser no gramado. Laser vermelho. Uma nave espacial com cinco ETs vai prestar auxílio ao centroavante. Os amigos do outro planeta derrubarão o goleiro adversário e toda defesa rival, deixando o caminho livre para Deyverson. Que, na cara do gol, só precisando empurrar para abrir o placar, vai voar tipo Buzz Lightyear. "Ao infinito e além", dirá. Ninguém entenderá nada. A torcida, os companheiros e os rivais: ninguém entenderá nada. Todos ficarão perplexos com o show protagonizado por Deyverson.
A impressão que dá é que coisas sobrenaturais estão sempre dispostas a acontecer com ele em campo. Em um momento qualquer, no meio de um confronto de Libertadores, Chacrinha vai invadir o estádio e comandar um programa. O duelo será interrompido para o show de Chacrinha. Chaplin, Bolaños e Mussum chegarão como convidados. Mas a estrela da noite será Deyverson. Ele vai sacar o uniforme do Palmeiras e vestir a peruca do Bob Marley. Receberá um violão vermelho, preto e verde. E, diante de olhares assustados e perplexos, diante de olhares espantados e amedrontados, discursará: "Pensem no Natal. Pensem nas criancinhas". E cantará "é bom para o moral", clássico de Rita Cadillac. Dinossauros começarão a rebolar.
Se tiver gases, qualquer dia, é capaz de explodir como se fosse uma bomba atômica. E eliminar o Allianz. E mandar todo mundo para Jupiter. E Borja continuará com seu rosto imutável: Oi? Quê? Onde? É capaz de Deyverson dar uma piscadinha e apagar as luzes da arena. De dar uma cuspida e pokemons aparecerem do nada. Charmander e Pikachú, unidos, lutando contra aquela tartaruga que eu não lembro o nome. Com Deyverson em campo, meus amigos, é capaz de qualquer coisa acontecer. Inclusive nada. Ele é um fenômeno do imprevisível e do imponderável.
E qualquer dia, no apito final do árbitro, é possível que parem de chamar de menino um sujeito inconsequente de 27 anos.