foto: Gazeta Press
Neste ano – acho que em maio, talvez – eu peguei um dia para assistir dois jogos antigos: Palmeiras x São Paulo; Palmeiras x Ponte Preta. Era 2008. Eu estava na numerada coberta. Na última partida, quando encontrei uma equipe de reportagem no Palestra, eu defini que seria jornalista. É o que amo. Assim como amo meu time.
A camisa limão predominava no estádio. O jardim suspenso causa uma nostalgia gostosa. Como se a gente pudesse ver a nossa casa antiga em um dos momentos mais felizes das nossas vidas. Com os móveis no mesmo lugar. Confesso que um dos poucos lugares que tenho lembrança perfeita é o Palestra.
Lá Leandro achou a cabeça de Alex Mineiro. Elder encontrou Alex, que mais uma vez buscou o gol. Martinez rolou para o atacante. E Alex Mineiro, de novo, derrubou a Ponte.
Eu mudei muito desde que Valdivia limpou três adversários e acertou o canto de Aranha. Meus gostos musicais, medos do mundo e timidez ficaram para trás. Lembro que fui para a casa do meu avô corintiano logo depois do jogo e recebi um bilhete na porta: bem-vindo, campeão.
Meu avô, sim, é o campeão de verdade. Veio da Espanha depois de perder o pai em uma ditadura. Veio para o Brasil e venceu. Hoje ele completaria 90 anos. Dois de agosto.
Eu sou apenas o neto dele.
O menino de 17 anos que chorou quando o hino do Palmeiras começou a tocar. Tinha perdido o meu pai um ano antes. O Palmeiras devolveu o sorriso para o meu rosto.
Hoje, vendo o VT do jogo no YouTube, fico procurando nas arquibancadas aquele garoto cabeludo. Que gostava de Jamil, Zezé Di Camargo e Ivete Sangalo. E tantos outros que respeito muito, mas não gosto tanto. Nós mudamos.
Valdivia fintou a defesa e chutou. Será que estou em pé ou sentado na casa que eu sinto tanta falta?
A câmera não me mostrou. Mas ouça: minha voz está no canto da torcida.
Uma voz jovem e cheia de sonhos.
Por Guilherme Cimatti