André, em novembro de 2003, você tinha três anos, eu escrevi o texto da foto, pra edição especial da Revista Placar, que contava a volta do Palmeiras para a Série A, em 2004. Era a vitória contra o Marília, no Palestra. Sábado à noite. 2 a 0. No seguinte, virada por 2 a 1 em Garanhuns contra o Sport garantiu antecipadamente o título da Série B.
O texto da foto eu escrevi antes da mais que provável volta. Era uma crônica a respeito do Palmeiras em 2003. Mas era muito sobre paixão desde 1914. Pais e filhos. Amigos. Rivalidade. E respeito ao futebol, à amizade, e à família.
Era uma enorme torcida colorida pelo seu pai. Da minha parte, também pelo
Palmeiras. E por você, pelo time do seu pai, pelo clube do seu avô.
André, leia o texto da foto que soube na véspera do Choque-Rei do returno do BR-17, 4 x 2 Palmeiras, que você nunca havia lido. Leia agora. Depois volte aqui.
A família inteira da sua mãe é são-paulina. Seu avô, já o conheci, muito tricolor. Difícil manter a paixão do pai. Ainda mais quando em 2005, você com cinco anos, viu o clube que você adotou ir ao Japão e ganhar do Liverpool.
Como o seu pai viveu a vida inteira ao lado do banco vendo a gente jogar como o nosso Palmeiras, nem sempre podemos ser o que sonhamos. Sei que meu amigo JP está feliz com o belo filho que a Paula criou. E sei ainda mais que o coração enorme dele aguentaria um filho não-palmeirense.
JP não pôde te levar na estreia na Série A em 2004. Ele trocou o coração que não aguentou. Morreu logo depois. Seu pai, André, não viu o tri do seu time. Mundial, continental e brasileiro. Amaria ter visto o nosso paulista de 2008. Valdivia que ele nem soube quem foi. A Copa do Brasil de 2012 que a gente ainda não sabe quem é Betinho. A volta pra B em Volta Redonda no fim do ano em que meu pai foi encontrar o seu pai, André. O Prass de 2015. O enea de 2016. Tantas coberturas. A virada de hoje.
Uma que ele iria te zoar até você dormir neste domingo – se você fosse o que virou desde 2005. E o JP aceitaria numa ótima. Como ele levou a vida sempre na boa e pra cima.
Mas todo esse textão, André, não é pra te cobrar pela casaca compreensivelmente virada. É só para você saber que, desde 2004, os amigos de credo e de cores de seu pai sempre lembram dele. E eu, de você.
Este texto é só pra você dormir menos triste, André. Sabendo que o Papai do Céu, e o seu pai no céu, estão sempre contigo.
E todos nós, sempre com o Nosso Palestra.