Por: Gustavo Nogy
Escrevo esta crônica na manhã de sábado, 30 de janeiro.
Algumas horas mais tarde, Palmeiras e Santos decidirão a Libertadores da América. Minto: Palmeiras e Santos decidiram a Libertadores da América. Você, leitor, sabe o resultado. Eu, enquanto escrevo, não sei.
Não sei, mas adivinho como foi o jogo antes que tenha havido jogo porque, sub specie aeternitatis, todas as partidas de futebol, todas as finais de campeonatos, todos os clássicos regionais, toda a glória, toda a humilhação – tudo já aconteceu. Narro a história do futuro.
Weverton fez duas, três, quatro defesas improváveis para outros goleiros, cotidianas para ele. Se calhar, pegou o pênalti do título (Deus nos livre dos penais).
Embora Marcos Rocha tenha o costume de oferecer latifúndios às hostes inimigas, deu a assistência em diagonal que Rony, a seu modo, concluiu a gol.
E por que não um tento de cabeça do espartano Gustavo Gomez? Talvez num cruzamento do maratonista MatÍas Viña, lance ajustado, cinco minutos de VAR, confirmado, comemoramos duas vezes.
Ou isso ou o golo foi construído numa transição rápida e coordenada entre Menino, Danilo e Patrick de Paula, que serviu a Veiga, que, da entrada da área, serviu o prato da derrota ao time de Pelé.
Patrick não começou jogando? Muito bem, foi o Zé Rafael, distração minha.
Mas distração é pecado quando sabemos que Luiz Adriano precisou de um nanossegundo e de alguns poucos milímetros para executar o adversário sem piedade pela família do executado.
Se nada disso tiver dado certo, William entrou no meio do segundo tempo, aproveitou uma sobra na pequena área e, desta vez, foi preciso como um entomologista. Ele merecia.
(…)
Nada disso aconteceu?
Foi o contrário disso?
Weverton falhou, Rocha deixou o latifúndio ser invadido, Rony, a seu modo, tropeçou na bola, Gómez estava impedido, Viña errou o cruzamento, Menino, Danilo e Patrick sentiram o peso de uma tonelada de verde sobre as costas, Zé entrou e foi um joão, Veiga se arrastou no relvado, Luiz Adriano saiu lesionado, Willian perdeu outro dos muitos que tem perdido, e nada, nada, nada pôde evitar o inevitável.
Nem mesmo Abel, estrategista português que cruzou mares para redescobrir outro país dentro do Brasil.
Tenha sido assim, tenha sido assado, o que de fato importa?
Como num voto de casamento, torcer para um time de futebol é para sempre. É prometer estar junto na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Amando, respeitando e sendo fiel todos os dias da vida.
Até que a morte nos separe.
*
Aos 53 minutos do segundo tempo, Breno Lopes provou que não é possível adivinhar o futuro quando se trata de um jogo de futebol.