Opinião

Guilherme Paladino: O que vier é lucro para o Palmeiras em 2021

A decisão de quem cabia decidir já foi tomada há meses e não há nada que possamos fazer

Palmeiras e Cuiabá no Allianz Parque (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
Palmeiras e Cuiabá no Allianz Parque (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Leia a coluna de opinião de Guilherme Paladino para o NP: O que vier é lucro para o Palmeiras em 2021

A dolorida derrota por 2 a 0 para o Cuiabá na 17ª rodada do Brasileirão, em pleno Allianz Parque, veio cinco dias após uma das vitórias mais épicas da história do Palmeiras na Libertadores: um 3 a 0 contra o rival São Paulo pela volta das quartas de final. Essa reviravolta de emoções em cinco dias, que só o futebol sabe proporcionar muito bem, serviu para fazer o palmeirense racional lembrar do verdadeiro objetivo para a temporada de 2021: um grande ‘o que vier é lucro’.

Conquistar títulos não é tarefa fácil e não há qualquer garantia de que um clube vá obter êxito em todas as temporadas possíveis. Em 2020, o Alviverde conseguiu um feito histórico: conquistou três dos quatro grandes títulos possíveis em uma mesma temporada, algo raríssimo no futebol brasileiro. Dado este cenário, duas reações possíveis poderiam surgir no clube para o ano subsequente, que seria eleitoral, ou seja, marcado pela transição política: a ambição aumentaria e os gestores fariam de tudo para ver as glórias se repetindo, ou ‘a barriga já estaria cheia’ e só ligariam o piloto automático até que o mandato terminasse.

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Deixando a situação ainda mais espinhosa, a pandemia continuou avançando em 2021 e a economia passou longe de voltar ao normal, inclusive no esporte. Para reforçar o elenco neste contexto, seria necessária muita vontade e, principalmente, habilidade no mercado para encontrar soluções boas (achar jogadores livres, se livrar de jogadores caros para abrir espaço na folha de pagamento ou buscar soluções criativas com outros clubes). Vendo tudo isso, a gestão palmeirense optou pela inércia; em outras palavras, por abdicar de fazer questão de competir. Ela somente confiou no elenco que já tinha dado excelentes resultados na temporada passada, mesmo com o treinador pedindo reforços.

Se esta estratégia dará certo, só o tempo dirá. O clube perdeu a Recopa, Supercopa, Campeonato Paulista e foi eliminado da Copa do Brasil logo na primeira fase em que entrou, mas, em compensação, está em segundo lugar no Brasileirão e na semifinal da Libertadores. Entretanto, independentemente do resultado final, vale lembrar à torcida que o que vier é lucro. Isso porque o Palmeiras não se planejou para uma temporada de sucessos: entre tomar decisões importantes de reformulação de elenco ou manter tudo como estava, a opção foi por manter tudo como estava. “Presidente, o senhor vai renovar com o Felipe Melo e Jailson?” A resposta: “Não sei, quem sabe é a próxima gestão.” “Mas, presidente, o senhor vai manter Anderson Barros no comando do departamento de futebol?” A resposta: “Não sei, quem sabe é a próxima gestão.”

Em relação aos jogadores caros e pouco utilizados do elenco, nada foi feito, embora os salários deles estejam impedindo o clube de contratar bons (e, também, caros) jogadores. Em relação às lacunas do plantel, novamente, nada foi feito, mesmo com Abel Ferreira implorando por um centroavante desde o início do ano. Então, racionalmente, não dá para esperar que algum título venha, porque nada foi feito para isso. As contratações da temporada somente surgiram para repor eventuais perdas, como a saída de Matías Viña ou a provável venda de alguma das Crias da Academia que atua como volante. Nenhuma surgiu com o intuito de elevar a qualidade do elenco para competir.

Jorge e Joaquín Piquerez foram as últimas contratações do Palmeiras; ambos repõem Matías Viña (Foto: Cesar Greco)

E, enquanto isso, os rivais diretos estão criando uma distância considerável no nível técnico do plantel. O Flamengo, que já era absurdamente forte com Gabigol, Pedro, Arrascaeta, Bruno Henrique, Everton Ribeiro e companhia, está contratando Andreas Pereira e Kenedy. O Atlético-MG está se tornando uma superpotência com Hulk, Diego Costa, Nacho Fernández, Zaracho, Savarino, Guilherme Arana e etc.

E, apesar de parecer, não há qualquer tipo de juízo de valor neste texto. Somente foram expostos fatos: o Palmeiras não contratou para elevar a qualidade de seu plantel, enquanto outros o fizeram. Há boas justificativas dos dois lados: o Alviverde conquistou títulos históricos na temporada passada e, agora, pensa em uma maior segurança financeira, dado o contexto delicadíssimo da economia global. Seus rivais, por outro lado, enxergam a situação de outra forma e viram neste momento de dificuldade uma oportunidade para abrir distância em relação ao restante dos adversários.

Por tudo isso, torcida alviverde, o que vier é lucro. Se não der certo, pelo menos a memória das conquistas ainda está bem fresca (e foi reforçada com a maravilhosa partida contra o São Paulo da última terça-feira) e, querendo ou não, o time terá um equilíbrio econômico interessante para o próximo ano; se der certo, mesmo com essa concorrência forte, será ainda mais maravilhoso. Desfrutemos mais e estressemo-nos menos, a decisão de quem cabia decidir já foi tomada há meses e não há nada que possamos fazer.

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