E se fosse o River Plate? Faço um convite a você, caro leitor, a um exercício de reflexão.
Num universo fictício, imagine se o River Plate fosse três vezes campeão nacional nos últimos seis anos e, ao invés de ter investido dezenas de milhões em meia dúzia de jogadores renomados, tivesse iniciado a atual temporada integrando à equipe principal oito atletas das categorias de base, frutos de um planejamento e uma reestruturação de longo prazo.
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Imagine se o River Plate tivesse reduzido salários de todo o elenco e comissão técnica durante a quarentena para garantir que nenhum funcionário do clube fosse demitido ou ficasse sem receber seus vencimentos.
E, diferentemente de rivais nacionais, ainda assim o River Plate não tivesse feito pressão para que o futebol voltasse e, mesmo em um contexto de grave crise financeira, fosse contra a volta do esporte sem a autorização e respaldo técnico das entidades médicas responsáveis.
Imagine se o River Plate perdesse seu principal jogador dos últimos cinco anos, além de também dar adeus ao capitão de sua última conquista do campeonato nacional. E, para piorar, imagine se a equipe passasse por um surto de Covid-19 que afetasse mais de 20 atletas em seu elenco e comissão técnica, estes virando desfalques inclusive em jogos de mata-mata.
Agora, imagine se, no momento mais difícil da trajetória, o jogador mais habilidoso do ataque do River Plate fraturasse o joelho. E o capitão do River Plate fraturasse o tornozelo. Ao mesmo tempo em que a maior promessa do elenco do River Plate fosse ausência de todas as decisões da temporada por seguidas lesões musculares devido a uma sequência insana de jogos após ficar mais de cinco meses sem atuar por causa da pandemia.
Imagine se, entre agosto e janeiro, o River Plate tivesse um total de três semanas livres para treinar. Ou seja, de 24 semanas, 21 fossem repletas de jogos (algumas com três jogos em sete dias), sendo a maioria destes decisivos.
E se, mesmo assim, o River Plate fosse campeão estadual em cima do maior rival, campeão do maior torneio do continente sobre um dos seus mais tradicionais adversários e estivesse na final da copa mais importante de seu país. Tudo com participação preponderante de jovens da base.
E se o River Plate utilizasse o dinheiro das premiações para dar um salário a mais para todos os funcionários do clube? Não somente jogadores ou comissão, mas seguranças, faxineiros, cozinheiros, roupeiros, etc.
De que forma esta temporada do River Plate seria analisada pela imprensa brasileira? O planejamento de sucesso, certamente, seria tema de muitas mesas redondas. Dirigentes do River Plate concederiam entrevistas aos principais canais esportivos do Brasil. As torcidas da maioria das equipes brasileiras fariam campanha para a contratação destes dirigentes nas redes sociais.
Agora, imaginem se, uma semana após a conquista de seu título mais importante dos últimos 20 anos, o River Plate perdesse a semifinal do Mundial de Clubes, em um país a 14 horas de distância, contra uma das equipes mais ricas do México (país financeiramente forte no futebol), que tem o mesmo treinador há dez anos e paga 4 milhões de euros por ano ao seu principal atacante. Sendo que, de cinco opções de velocidade para o ataque, o River Plate somente tivesse uma à disposição para a partida (incluindo o banco de reservas).
Será que a imprensa deslegitimaria todas as outras façanhas obtidas ao longo da temporada dizendo que o nível das competições foi fraco? Como se, apesar de todas as dificuldades e de todos os êxitos obtidos, o River Plate ainda assim devesse alguma satisfação a alguém?
E se fosse o Palmeiras no lugar do River Plate? Pois é, amigo leitor. Foi. E adivinhe como está sendo o tratamento dado ao clube que cumpriu absolutamente todos os itens desta lista.
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