Opinião

Opinião: 'Vergonha histórica do Palmeiras só é surpresa para quem não acompanha time'

Verdão foi eliminado do Paulistão com um vexame que poderia ter sido evitado

(Foto: Luiz Guilherme Martins)
(Foto: Luiz Guilherme Martins)

Domingo, 11h da manhã. Pouco depois de acordar, é hora de sentar na frente da TV. Nem todo mundo vai entender, mas não importa. Quando o Palmeiras joga, estaremos lá, não é? De perto ou de longe. Ainda mais em um Dérbi, a esperança é a última que morre. E o juiz acabou de dar o apito inicial. E gol delas.

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A cada apito de gol, um sentimento diferente. Primeiro a raiva. Não pode sofrer assim, mesmo jogando fora de casa. Depois, a vergonha. Foram oito comemorações diferentes, oito bolas na nossa rede. Zero na delas. Por fim, a indignação.

TV apagada, lágrima nos olhos. Nem sempre vivemos a história boa. De tempos em tempos, ocorrem tempos sombrios e acontecimentos que não gostamos de lembrar, mas precisamos. Não podemos reduzir questões difíceis a respostas simples, porque esse é o caminho para a repetição. Se não resolvemos a base do problema, ele volta – e sempre mais forte.

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Diretoria

Todo time é reflexo de seu capitão. Se a gestão é boa, o time prospera. Caso contrário, os resultados em campo apenas espelharão os problemas existentes no extra-campo. No Palmeiras, isso não é diferente.

A diretoria do clube tem um planejamento extremamente questionável – algo que não é novidade em 2023. Além disso, há grande disparidade entre o apresentado como prioridade ou planejamento e o que realmente é feito pelo clube.

Em relação ao time profissional, a alta cúpula palestrina olha apenas para o hoje, uma estratégia fadada ao fracasso, uma vez que demonstra a falta de projeto existente. Afinal, como uma equipe pode prosperar se as jogadoras contam com contratos de apenas uma temporada.

Faz anos que vemos grandes desmanches e a perda de grandes jogadoras ao final dos anos. Após o título histórico da Libertadores 2022, Ary Borges, Júlia Bianchi, Byanca Brasil, Patrícia Sochor e outros nomes que foram importantes para o time ao longo do ano saíram.

Isso, no entanto, não está restrito à temporada passada e deve ocorrer novamente nos próximos meses. Anos atrás, a zagueira titular Tainara – atualmente no Bayern de Munique – também saiu do clube ao final do contrato. Nunca vendas, sempre perdas irreparáveis sem qualquer compensação financeira.

Alberto Simão, diretor de futebol feminino do Verdão, comandou a apresentação (Crédito: Fabio Menotti/Palmeiras)

No final de 2021, para explicar a opção por contratos curtos, Alberto Simão, diretor de futebol, foi categórico. Para ele, se contratos mais longos forem aplicados, as jogadoras se acomodarão – afirmação que ignora os projetos mais bem-sucedidos do futebol feminino nacional que aplicam vínculos maiores, como o caso do Corinthians.

– É muito relativo. O universo feminino está se profissionalizando, então temos jogadoras que se acomodam com mais de um ano de contrato. A gente sabe que, a cada ano, evolui mais. Estamos falando de evolução estrutural, de merchandising, profissionalismo, de tudo. A gente vai fazer o que for melhor para o Palmeiras. Sempre tivemos uma estrutura invejada e as grandes jogadoras sempre buscaram jogar aqui no Palmeiras. Não acredito que o tempo contratual mude muita coisa para a gente. Óbvio que, quando temos a certeza de que a jogadora está rendendo e tem a cara do Palmeiras, podemos sim pensar num contrato maior e a longo prazo – disse Simão.

No entanto, há outras questões que dificultam ainda mais o desenvolvimento do futebol feminino no Palmeiras, como a inexistência de categorias de base no clube. Nas próximas semanas, a Copinha Feminina terá início, e o Verdão não participará.

Na mesma entrevista em que comentou do tempo contratual das jogadoras, Simão afirmou que a criação de uma base era prioridade ao clube. Dois anos passaram, e isso ainda não aconteceu. E pior, houve a ilusão de que o projeto iniciaria em 2022 com a chegada de Hoffmann Túlio.

O treinador foi anunciado pelo clube no dia 29 de outubro de 2021 como treinador das categorias de base (que não existem) do Palmeiras. Assumia-se, então, que esta promessa da diretoria se tornaria verdade.

No entanto, a chegada de Hoffmann nada alavancou este setor dentro do Palmeiras. Isso porque, com a saída de Ricardo Belli, o comandante assumiu o time principal. E a base nunca apareceu.

Alberto Simão prometeu investimento na base, mas isso não aconteceu (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

Treinador

Outro culpado pelo vexame diante do Corinthians é o treinador Ricardo Belli, que foi demitido na última terça-feira (14). Comandando as Palestrinas desde a metade da última temporada – quando reassumiu o cargo após a saída de Hoffmann Túlio -, o técnico somou resultados inexpressivos diante dos maiores rivais e demonstrou não ter condições de liderar o time a feitos maiores.

Em 2022, o técnico conquistou a Libertadores e o Paulistão. Na competição continental, não precisou enfrentar nenhum dos representantes brasileiros ao longo da campanha. Contudo, esta sorte não se repetiu na edição de 2023.

Após um desempenho muito ruim no Brasileirão – quando foi derrotado pelo São Paulo nas quartas de final do torneio -, o Palmeiras precisava vencer a Libertadores para garantir uma vaga na competição em 2024. No entanto, isso não aconteceu.

Enquanto enfrentava equipes de qualidade inferior, o time de Ricardo Belli foi dominante. Na final, porém, a história foi diferente.

A estratégia utilizada por Belli não foi boa, e o técnico precisou mexer na equipe ainda na primeira etapa para corrigir os erros que davam espaço ao Corinthians. Mesmo assim, o time encontrou muitas dificuldades e não conseguiu superar as adversárias, saindo com o vice-campeonato.

(Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

Os números do técnico diante do rival demonstram a dificuldade que ele tem quando enfrenta uma equipe desta qualidade. Isso porque o comandante nunca – repito, NUNCA – conseguiu vencer um Dérbi quando as adversárias utilizaram o time titular. O único triunfo foi contra um 11 inicial misto composto por reservas e atletas de base – que elas têm.

Nos outros clássicos, o desempenho é melhor, mas ainda abaixo do esperado. Na temporada atual, a eliminação no Brasileirão diante do São Paulo praticamente acabou com a temporada palestrina, que não conseguiu atingir sequer a semifinal do campeonato nacional.

No Paulistão, uma nova derrota. Desta vez, contudo, não foi apenas uma derrota. Foi a maior derrota da história, a maior vergonha possível. Um final vexatório para uma temporada que foi minada desde o começo com decisões questionáveis e poucas respostas.

Continuar desse jeito é jogar a história do Palmeiras no lixo – e seguir desrespeitando o torcedor que tanto torce e apoia, apesar do estresse causado por constantes campeonatos perdidos para os mesmos vilões.

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