Opinião

'Queremos realizar mais um sonho de ver mais duas taças no "nosso" Mané Garrincha'

Pai e filho construíram o estádio que pode ser o palco de duas conquista do clube do coração deles

Thiago, na construção do Mané Garrincha (Arquivo Pessoal)
Thiago, na construção do Mané Garrincha (Arquivo Pessoal)

Eu poderia, no auge da arrogância do cronista, contar com minhas palavras a história de Dantas e Thiago. Pai e filho que têm o estádio Mané Garrincha, em Brasília, como um palco quase sagrado na relação deles com a Sociedade Esportiva Palmeiras, mas o relato sincero e emocionado de Thiago me fez notar que a verdade está nas palavras aceleradas e empolgadas dele. Portanto, com vocês, essa família tão alviverde.

“Meu pai, seu Dantas, Mineiro de Calciolândia-MG, trabalhou 47 anos na Andrade Gutierrez. Foi fichado para jogar futebol pela empresa. Era comum na época. Foi assim, pela bola, que também conseguiu emprego para trabalhar um ano na Nestlé, antes da Andrade. Meu pai sempre foi considerado craque nas cidades do interior de Minas Gerais, mas em algum momento optou pela carreira na empresa porque não era fácil conseguir ser jogador naquela época, assim como não é hoje.

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Nessas idas e vindas da área de construção, foi trabalhar na obra do metrô de São Paulo. Meu irmão mais novo, e flamenguista, Diego, é nascido em Araraquara por conta do trabalho do meu pai, sempre admirou o futebol do Ademir da Guia, mesmo antes de se tornar Palmeirense, que ocorreu quando trabalhou em São Paulo. E tudo aconteceu porque pegou raiva de um colega rival que ele achava um chato falando de futebol. O colega dizia: “Gol do Neto vale dois, mêo”, e ele odiava.

Desta forma, começou a torcer pro Palmeiras. E foi me influenciando, ainda pequeno, em São Paulo, e depois que nos mudamos para Brasília em 93, a seguir seus passos. Eu sempre amei futebol e o Palmeiras como time. Pra me formar em Arquitetura, meu tema de trabalho final foi o projeto de um Estádio. Mal sabia eu que, 4 anos depois, meu pai, já trabalhando na equipe que iria construir o Mané Garrincha, mostraria meu trabalho para o chefe dele e o mesmo me daria uma chance para também trabalhar lá. Eram dois sonhos realizados: trabalhar na mesma obra que meu pai e na construção de um estádio.

Pai e filho na construção do Mané Garrincha (Arquivo Pessoal)

E esse estádio é o Mané Garrincha, que agora pode ver dois títulos do Palmeiras. Lá, sempre trabalhei sonhando em ver o Verdão jogando um dia na nossa arena. Enquanto esse dia não chegava, fui realizar outro sonho que era conhecer o Allianz, e aconteceu na final da Copa do Brasil, em 2015. A do Prass. Eu estava lá, mas nada se comparou a estar junto com meu pai e irmão vendo o Verdão ganhar um jogo importantíssimo, contra o Flamengo, no Mané. Se eu morresse ali, já me sentiria com minha missão de Palmeirense finalizada”.

O cronista aqui também estava e também morreria feliz, diga-se.

“Eu assisti ao primeiro tempo do gramado, com a blusa do Palmeiras escondida por um casaco, num calorão absurdo da secura de Brasília. Eu ainda tinha um amigo que trabalhava na manutenção do gramado e me arrumou uma pulseira para “trabalhar” nesse dia. A obra já havia sido finalizada para a Copa de 2014 e nós já não tínhamos mais acesso às dependências do estádio que conhecíamos como a palma da mão e que tem uma parede com os nossos nomes e o de todos os outros funcionários que ajudaram a erguer o novo Mané Garrincha.

Eu fiquei à paisana ao lado do banco de reservas do Palmeiras. Filmei e tirei foto de tudo que pude. Cumprimentei o professor Cuca e dei boa sorte pra ele. Tirei algumas fotos mostrando a camisa por baixo do casaco.
No segundo tempo fui dar atenção pro meu velho e meu mano. Assisti com eles da arquibancada. Essa foi a última obra do meu pai pela Andrade Gutierrez após 47 anos dedicados à empresa. Lá ele pôde tirar nosso sustento e me formar arquiteto. Hoje ele está aposentado e eu sigo tentando fazer o melhor que posso na minha profissão e, sempre que possível, assistindo aos jogos do Verdão juntoT com meu herói e influenciador.

Agora, se tudo der certo, queremos realizar mais um sonho de ver mais duas taças para o Verdão no “nosso” Mané Garrincha”.

Existem histórias no jornalismo que falam por si. Elas não precisam de palavras difíceis, citações artísticas e cheias de técnica. Elas se sustentam na própria verdade e simplicidade. Dantas e Thiago são a realidade do palmeirense e do Palmeiras que se unem, de novo, em prol da glória, que veio de longe e agora pode vir no quintal deles. No palco que se ergueu através dessas mãos tão apaixonadas. Que domingo e segunda sejam tão Palmeiras como esse pai e esse filho.

Pela glória. De novo.

Uma família da família Palmeiras (Arquivo Pessoal)


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