30 anos depois, o palmeirense celebrou sua própria história no Morumbi

Em noite de Marty McFly, torcedores puderam viver o que só viam nos vídeos e nos livros

Não foi legal caminhar dois dias e meio para achar o portão 17. Também não foi super agradável passar por ruas, bares e monumentos que remetessem a outras cores e histórias. Até chegar à arquibancada do Morumbi, me senti forasteiro em busca de mais três pontos.

No caminho, a gente até pensa se valeria a pena, já que estava se avizinhando uma chuva espetacular e o Morumbi não é exatamente o melhor lugar para se estar debaixo de um temporal à paulista. Me apeguei numa ótima frase que levo agora como mantra:

– Bem-aventurados os que sofrem por seus times, porque deles é o reino das arquibancadas – José Roberto Torero.

Palmeiras atuando no Morumbi diante do Santos (Foto: João Gabriel Falcade)

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Dessa hora em diante, buscando um conforto emocional, comecei a lembrar do meu pai me dizendo sobre os “cento e poucos mil no Morumbi”. O bandeirão, o gol de Evair. Os livros que li e que falavam desses momentos com tamanho afeto ao ponto de me darem uma imensa vontade de viajar no tempo para provar que tudo era tão bom quanto me faziam crer.

Sentado na cadeira inferior do estádio, ainda vazio, percebi que não era um jogo contra um rival em decadência, mas uma gigantesca celebração sobre quem somos, dos nossos pais, tios, avós, amigos, e até nossas versões mais jovenzinhas. Era exatamente o meu dia de ser Marty McFly do futebol.

E, caras e caros, sou um sujeito abobalhado pelas emoções quando o assunto é meu time. Fui com a missão de trabalhar, mas quando o bandeirão da Mancha Verde se abriu logo ao meu lado, sob os sons que cresci sabendo cantar, vi a história se materializar bem diante dos meus olho, que inevitavelmente cederam. E o jogo nem havia começado.

Palmeiras atuando no Morumbi diante do Santos (Foto: João Gabriel Falcade)

A visão que tive do gramado não era boa, pouco vi os gols do primeiro tempo e vi a oito quilômetros o que fez Giovani, tão talentoso que é, mas te confesso, leitor, que isso importava muito pouco. Fiquei maravilhado de estar presente nesse enorme emulador das várias copadas que fizemos naquele campo. Pela memórias dos que me fizeram palmeirense.

Me sinto um privilegiado por poder viajar ao século passado, viver meus contos de futebol e agora entender sobre aquilo que só me relatavam. Entendi o que é um Palmeiras debaixo de uma puta chuva num jogo que vale quase nada e fez cada um de nós pular mais a cada tempestade, que fez com que desfilássemos nossas melhores canções, do passado e do presente.

Teve olé, teve ola, teve palavras de ordem, teve batuque, bandeira de mastro, coreografia, sorrisos fáceis, choros nostálgicos, teve passado e futuro fechando um acordo de lealdade aqui, no presente, unindo gerações e celebrando nossas vitórias, em vida. Memórias que agora estão remasterizadas em 4K, em todos os ângulos possíveis.

Palmeiras atuando no Morumbi diante do Santos (Foto: João Gabriel Falcade)

É fascinante assistir a cultura se perpetuar. Foi tudo muito parecido como se fazia há 30 anos, e por novos nomes, novos braços e vozes. Isso se chama filosofia, postura, legado e compromisso com a causa. A gente passa todo esse amor para os filhos, muito além de um refrão de arquibancada. A gente desbloqueia sentimentos por além dos anos.

Fez sol, teve pôr do sol alaranjado, tempo nublado, chuva, muita chuva, vento, muito vento, e um fim de noite calmo, como quem faz uma despedida carinhosa. As 4 estações em 90 minutos, porque todo mundo sentia saudade de reviver o Palmeiras vencedor no estádio municipal construído no Morumbi.

Palmeiras atuando no Morumbi diante do Santos (Foto: João Gabriel Falcade)

Foi um ótimo dia para se estar vivo.

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