A camisa santista, Neymar, Federer e a chance de sermos melhores

Nossos grandes heróis não tem uniforme. Aliás, tem sim, mas eles não excluem a diversidade do afeto

Bruninho ama Jaílson, amado pelos palmeirenses por pegar tudo e mais um pouco usando verde. Inclusive contra o Santos, que é o time do coração jovem de Bruninho. Ele também ama Weverton, que também é idolatrado pela torcida do Verdão, que detesta o Santos, rival de tantas alegrias recentes. Weverton, inclusive, defende a Seleção Brasileira, onde joga Neymar, o super herói do pequeno santista. O ciclo tem um fator em comum e que independe das cores: amar o futebol.

Eu não amo o futebol, não. O grande amor da minha vida sempre foi o tênis, esporte que aprendi a jogar bem mais novo do que o Bruno pequenininho. Mas eu entendo do que se trata esse sentimento. Idolatro a atitude de Djokovic e seu ódio da derrota. Tenho fascínio pela luta e a aplicação de Rafael Nadal, que jamais caiu sem lutar. Ainda que meu grande ídolo seja Roger Federer, o grande rival dos outros dois. O que nos une? O tênis.

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Quando eles se confrontavam, eu só queria saber da vitória. Celebrava os erros dos adversários e quase gritava gol nos break points. Quando ‘vencemos’ o Australian Open, em 2017, comemorei como Copa do Mundo, Federer havia retornado e batido Rafa em uma batalha épica. Depois do cumprimento deles, na rede do Ash, eu já queria aplaudir Nadal e pedir sua raquete – ou a suadeira mesmo, como um trofeu para a minha coleção. Eu não traí Roger, eu apreciei o nosso esporte e suas lendas.

Federer no Australian Open 2017 (Foto: Reprodução)

Você trabalha com futebol, como que pode falar sobre tênis? Falo do que amo como esporte, mas o meu sentimento platônico e doentio é o Palmeiras. Nada me faz tão feliz e tão triste como o Palestra. De chorar de raiva quando era uma criança e seguir chorando de raiva já com quase 30. De me emocionar com um título, de não dormir, de não comer, de pautar tudo por conta dessas cores. É um sentimento que não se cria, ele te pertence. E isso Bruninho também tem.

A grande questão é que eu, como jornalista e agora como um adulto, preciso ser melhor. Assumir que admiro muito a carreira de Hernanes, que jogou pelo São Paulo. Que fui à Vila Belmiro para ver o Santos de Neymar e Ganso e achei tudo aquilo uma maravilha sem tamanho. Se pudesse, teria a camisa do craque num quadro guardado com apreço e carinho. Qual o problema? Eu não fiz, e nem falei, por medo. Mas chega. Eu não posso carregar mais essa ideia e nem vocês.

Nossos grandes heróis não tem uniforme. Aliás, tem sim, mas eles não excluem a diversidade do afeto. A Vila pode me receber, como o CT Dr. Joaquim Grava me recebeu quando fui cobrir um treino do Corinthians, vestido de verde escuro apenas pelo deboche. Como o Morumbi me acolheu quando fui torcer contra o Tricolor Paulista num poderoso São Paulo e River Plate. Tá tudo bem. Para isso existe o espaço do visitante. Não somos selvagens que vão podar a vida alheia porque o time não é o mesmo.

Bruninho foi à Academia de Futebol, casa do Palmeiras, vestido de Santos, ao lado do pai, também com o uniforme do Peixe, e saiu de lá com a vestimenta da Seleção, assinada por Neymar. Que também assinou a de Garcia, Vanderlan e Fabinho, jogadores do Palmeiras e fãs do craque. Caras, é só e é tudo futebol. A gente não escolhe a cor que acelera o coração, mas pode escolher respeitar quem não é como somos. Ainda mais se ele for uma criança com tanto amor para dar.

A casa é sua, Bruninho. Hoje e sempre. Nos vemos por aí.

Neymar e Bruninho na Academia de Futebol (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

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