À minha casa, com carinho

São sete anos de vocês, de nós e do que construímos juntos nessa breve e linda história

Confesso a vocês que não estive lá no debute. Fiz uma crônica a respeito, mas não compartilhei dos sentimentos. Só fui conhecer pessoalmente o concreto pulsante em março do ano seguinte, num sábado que mais parecia o quadragésimo dia daquela história bíblica. O que chovia era coisa de cinema. Das arquibancadas, vi o gol solitário de Rafael Marques, mas vi de perto., tanto tempo depois de ter pisado pela derradeira vez na numerada coberta do meu velho querido.

Foi uma vitória simples naquele dia. Valeu incrivelmente a pena ter me molhado o suficiente para regar o jardim suspenso apenas torcendo a camisa número 7 que ostentava com orgulho. E como torci sentado – quase nunca de fato sentado, em cada setor pelo qual passei. Com meus pais, ia de Central, mas logo enlouquecia porque o pessoal era quietinho demais pro meu gosto. Me achei no Gol Norte, com um tanto de maluco que jamais encosta o traseiro na cadeira.

Desde o hino mais lindo que já foi cantado pela torcida, ainda em 2014, o primeiro de todos, passaram-se 7 anos. Ao vivo, vivi a noite que não cabe em linhas escritas, ainda que eu me ache bom nisso. Quem presenciou o segundo dia do último mês de 2015 sabe o que aconteceu naquele lugar. O que chacoalhou o noviço e rebelde concreto armado. O que teve de lágrima nos corredores, o que tomou de tapão, a escada rolante, o que vendeu de copo , o vendedor. O que comemoramos.

SÃO PAULO, SP – 02.12.2015: PALMEIRAS X SANTOS – Os jogadores da SE Palmeiras, comemoram a conquista da Copa do Brasil após jogo contra a equipe do Santos FC, na Arena Allianz Parque. (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)

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Fui testemunha ocular da campanha que livrou nosso povo de uma fila que parecia infindável. Que jornada mais maravilhosa vivemos. A reta final daquele campeonato merecia ser filme. Quanta tensão emanava do coliseu de concreto. Era uma carga emotiva que eu desconhecia. Chorava de emoção até o mais sisudo e insuportável italianão. A tarde do dia 27 (dia 27!) foi uma passagem, um acontecimento, um transe. Eu vi um estádio de futebol assistir a um título enquanto soluçava, ainda que rindo.

Em 2018, minha grande tristeza sentado, dessa vez sim, no Gol Sul. Ouvi a rede fazer contato com a bola de Maycon, e um silêncio que até hoje faz frisson no meu ouvido. Faz parte do processo, não há qualquer história que se conte apenas com glórias – elas perderiam valor, não tenha dúvida. Sofrer é o caminho da oração. Sofremos todos no primeiro dia, bem como no primeiro clássico, do mesmo jeito que nessa final de estadual. Mas sempre soubemos que havia um capítulo seguinte a viver.

Ainda naquele ano, antes mesmo da bonança, uma puta tempestade. Faço questão de apontar, sempre, que essa noite foi a segunda, daquelas que pude ver, na qual o concreto mais foi testado. Balançava a ponto de me fazer colocar a mão contra o chão da Central Oeste para ter certeza. Uma queima de fogos memorável e um barulho que berrava até na Argentina, intimidando qualquer um – menos o VAR. Foi lindo, ainda que triste. Não fazia sentido tanto final ruim num ano só.

(Foto: Alexandre Schneider/Getty Images)

São Januário abrigou o dia da celebração, enfim. Ainda nos vimos para uma tarde de festa, sem compromisso, sempre com corneta, para erguermos uma taça. O dia que meu pai tomou na cabeça um rolo de fita verde, que deveria embelezar as arquibancadas, mas que lhe deu um galo de presente. Foi uma partida deliciosa de viver, talvez aquela que eu passei 90 minutos curtindo cada cantinho, olhando pra cada espaço, aproveitando cada reação. Foi uma comunhão entre nós e ele e eles.

Em 2020, nos despedimos abruptamente e, pô, que coisa mais triste. A gente não sabia pra onde ir nos dias e noites de futebol. Órfãos e sem teto. Tivemos que aprender a rezar de longe e cantar com o coração. Assim, vimos o estado, o país e a América serem nossos. Daríamos a vida para termos visto de perto, mas a vida tem das suas. A saudade cresceu, cresceu, cresceu e… teve que esperar mais um pouco. A saúde tinha prioridade, ainda que a gente tivesse maluquinho pra voltar.

River Plate impôs primeira derrota de Abel Ferreira no Allianz Parque (Cesar Greco/Palmeiras)

O reencontro foi… à nossa. Fomos nos tours pra conhecermos o que conhecíamos. Fomos em visitas que já havíamos feito. Fomos jantar em lugares que nem queríamos tanto, mas que tinham vista para o sintético. Fomos ao jogo, os poucos que puderam, e cantamos mesmo na derrota. Fomos nas vitórias, fomos também no Choque-Rei, que não costumávamos perder, mas perdemos. E saímos de lá cantando, meio com raiva, mas cantando. Porque estar em casa é sentir-se a vontade em qualquer situação.

Obrigado por tanto, minha casa, a casa de tantos milhões de nós por aí.
Feliz 7 anos de vida, conquistas e glórias, Allianz Parque! Vamos por mais.

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