Ao meu pai e ao meu avô, com carinho
Um amor que faz falta
Porra, Neneu. Que saudade do senhor. Fiquei com as mãos perdidas quando o Gustavo Goméz fez o pênalti. Eu simplesmente não sabia o que fazer. Foi o senhor que sempre pegou na minha mão desde que meu pai – seu filho – faleceu, em 2007. Graças ao senhor eu não me perdi. Nós vimos nosso time perder bastante. E você sempre era o ponto de referência.
Neneu, eu vi o jogo sozinho no meu quarto. Xinguei o mundo quando o Jô empatou o clássico. Perdi a cabeça, esqueci de tudo, não acreditava no que estava acontecendo. Acho que você deve saber aí no céu, mas o Luxemburgo voltou. Bem diferente daquele. Substituindo mal, jogando para trás, contente só com o resultado magro. Ele destruiu o nosso meio de campo no segundo tempo. Colocou um monte de jogadores sem brilho. O Corinthians levou para os pênaltis.
Neneu, o mundo anda estranho. Ninguém pode abraçar. Beijar é proibido. Uma pandemia tomou conta do planeta. Já tirou a vida de 100 mil pessoas no Brasil. Não tinha ninguém no estádio. Na arquibancada, claro. Quando o senhor foi embora, em 2013, a gente nem sonhava com isso. Você não faz ideia da falta que eu sinto de você. Eu escrevo chorando.
Neneu, eu queria falar que deu tudo certo por aqui. Eu tô trabalhando na rádio que você sempre escutou. Parece mentira, mas eu até falo no microfone da Bandeirantes. Sou amigo de tantos gênios. O Milton Neves, por exemplo. Lembra que me pediu para acessar o site dele na primeira vez que abriu uma página de internet? Eu tô lá no Que Fim Levou. E você também. Tem sua foto.
Nasceu seu bisneto, o filho do André. É a cara dele. A vovó está bem. Ontem disse que sente muito sua falta. Eu até acho que o senhor dá umas passadinhas por aqui junto com meu pai e o Yeye, meu avô assim como você. Deve saber que o Weverton é um baita goleiro. Que o Patrick de Paula será um craque. Que o Menino é gente grande. Tá certo que sempre discordamos em algumas coisas: o senhor, por exemplo, deve adorar o Felipe Melo. E quer saber? Tem razão.
Neneu, hoje foi minha folga.
Hoje eu tirei o dia pra ver nosso time.
Que sorte do meu pai de poder passar o dia com o senhor. Já deu pra matar a saudade, né? Mas aqui todo mundo lembra todos os dias de você.
Manda um beijo pra ele.
Minha mão continua vazia nos jogos mais difíceis. Mas eu vou me segurando.
Um dia a gente volta a se ver. Continue cuidando de mim. Eu te amo.