Opinião: Com respeito ao tempo, Palmeiras vive seu auge técnico na gestão já unânime de Abel Ferreira

Cada jogador tem seu próprio calendário e entende-los é coisa para poucos, os vitoriosos

Abel tem inúmeras qualidades. Um caminhão delas. Eu poderia listar aqui durante meu texto inteiro, mas vocês já sabem quais são. Por isso, prefiro abrir um outro tema, que eu acho fantástico: o respeito ao tempo. Abel tem uma grande habilidade de trabalhar com pessoas e seus próprios calendários. Uns, acham o caminho muito rápido. Outros, levam meses (ou anos) para isso. Compreender e manejar é o desafio de milhões.

Vejam como é engraçado. Rony era o pior atacante do mundo, mas alguns meses depois, quando seu próximo clube seria o Ibis, ele achou um gol numa vitória larga que valia pouco. Desde então, ele ligou uma chavinha mágica chamada confiança e foi peça preponderante para tirar o Verdão de uma fila que já durava duas décadas e fazê-lo, novamente, dono da América. Logo ele, descartável.

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Dudu deu tapa em árbitro, chorou, pediu desculpas, foi banco com Cuca, não era tudo isso, era caro demais, um chapéu falso. Seu tempo de maturação esteve diretamente ligado à pressão com a qual tinha de lidar. Despressurizando com o tempo, foi tomando ar e achando futebol. Tornou-se o grande jogador da década e um dos maiores da história do centenário e colossal Palmeiras.

Kuscevic passou a jogar bem depois de tomar um gelo (?) – que na verdade era tempo de treino e longe dos holofotes, bem como Gabriel Menino, que voltou a ter minutos e mostrou um pouco mais daquele menino que o Menino foi quando surgiu. Maturidade, assimilação, reajuste. São seres humanos, são realidades megalomaníacas e uma dificuldade compreensível de lidar com tudo. Nem todos são Danilos, que tem trajetórias de foguete. Eles são os craques que não pertencem à curva.

Abel é espetacular em administrar o tempo. Ao sacar Navarro por um tempo, fazer o torcedor esquecer a impressão ruim e trazê-lo pra jogo quando a circunstância é favorável, como na estreia da Libertadores. Sua entrada teve um intuito: “Vai lá, faz teu gol e ganha fôlego”. Com dois marcados, o camisa 29 se recondiciona e recoloca num novo local, com confiança e esperança do palmeirense. Qualidade ele tem, juventude, insegurança e vontade de vencer, também. Faltava tempo.

Foto: Reprodução / Conmebol

E depois de relembrar todos esses momentos e nomes, eu te faço pensar: é ou não é o auge? Se você discordar, sinto muito (rs), mas me parece claro que se trata da melhor versão desse trabalho tão vitorioso. Eu, com 27 anos, não me lembro de ver um clube sólido em tantos setores. Físico, técnico, tático, mental, estrutural, financeiro… e na relação com a arquibancada. Hoje, vemos um trabalho ser unânime.

Uns mais fervorosos, outros mais reticentes, mas todos os palmeirenses agora tem fé no plano, coração quente e cabeça fria, bordões assimilados, gosto pelo futebol coletivo, afeição pelo desafio e pelo elenco. Ao ponto de treinador e jogadores em campo estarem representados num mosaico. É uma homenagem “em vida”. E isso é muito raro e parece que estamos acostumados com o mágico, com o extraordinário.

Depois de chegar às finais e perder, o Palmeiras de Abel agora chega nelas e vence. E faz viradas históricas. E é campeão da Recopa sem qualquer esforço. Venceu até a Copinha, que era inédita. Faz 4 a 0 num estádio esquisito da Venezuela como se fosse um amistoso no Canindé. Vocês também notam que se trata de um enorme e incontestável auge? E eu tenho pra vocês uma notícia bem gostosa para pensar quando esse texto (longo demais) acabar:

Auges não são definitivos. Eles podem durar um dia ou uma década, melhorando dia a dia. O Palmeiras está no seu, mas não parece cogitar diminuir a curva. Sorte nossa.

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