De todos os seus defeitos, ser torcedor é sua maior qualidade

Abel tem mestrado e doutorado em Palmeiras. E nem foi por estudar demais, nem foi por ler demais. Ele é estudioso, sim, mas ele é visceral, maluco, entregue e PALMEIRENSE

Se pudéssemos criar um treinador sob medida, à nossa imagem, ele fatalmente seria um tanto diferente do que somos, por essência. Abel, português de convivência grega, resolveu, sem pretensão alguma, ser a perfeita referência ao Parmerismo. Nem se quisesse, ele reuniria as características, as intensidades e os erros que só nós temos, nessa combinação. Ele é um puta corneta apaixonado.

Birrento, chato, briguento, irritadiço, pidão, incomodado, alérgico à calmaria, insolente para com a derrota, intenso com os seus. Ele é coração além do que a saúde indica. Ele não comemora, ele desabafa, destrói um copinho, espezinha, xinga e ainda jura o pobre pedaço de plástico. Ele esmurra a câmera e diz: ‘vamos, caralho’. Sabe quem mais é assim? Você.

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Você, que frequentava as numeradas cobertas com seu pai e aprendeu a xingar todos os momentos do jogo. Todas as decisões do treinador, todos os erros dos jogadores. Que falava mal de todo mundo, que comparava aquele time com todos os anos passados como se fossem a Holanda de 74. Que chorava pelos jogadores dos outros times que poderiam ser reforços. Que chamava a televisão de corrupta. Que comemorava a vitória como se fosse título – todos os dias.

Abel pode ser um treinador com defeitos, e eles são muitos, mas ele não nega. Abel pode ser um cara tomado pelas emoções, e muito, mas o Palmeiras é feito com base nelas. Exclusivamente nelas. No futebol ou nos livros, o romance é aliado e inimigo íntimo da guerra. A linha é minúscula entre o lado de cá e o lado de lá. Abel chegou no amor, no romance, no encantamento. Conquistou. A vitória trouxe os olhos esguios e dissimulados e ele contra-atacou com a guerra. E a história sempre provou que a luta aproxima, conecta, liga, une, semeia. Ele sabe que seu único aliado é o palmeirense.

O Palmeiras, e o palmeirense, alimentam-se da gana. É o almoço e o jantar desse povo que se acostumou a estar com ele e somente com ele. E não importa o que diga. Nasceu de luta, conquistou por luta, se reergueu na luta, venceu noites épicas quando foi piada, dobrou o continente e embolsou quando ninguém acreditava. A pedra fundamental deste clube é ser lutar, sofrer e desabafar.

Abel tem mestrado e doutorado em Palmeiras. E nem foi por estudar demais, nem foi por ler demais. Ele é estudioso, sim, mas ele é visceral, maluco, entregue e PALMEIRENSE. Não, não preciso que ele tenha nascido como nós nascemos, ele viveu uma vida em alguns meses e, tenham certeza, isso é suficiente para unir essência e realidade. O maior defeito de Abel é ser idêntico, em tudo, ao palmeirense – seu sobrenome.

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