Diário de viagem: ‘Primeiro dia da missão Mundial’
Fiz uma foto com eles para marcar minha primeira cobertura jornalística internacional. Era, de fato, um momento a se comemorar
Ouço ‘Some Chords’, um dos maiores sucessos de um dos meus artistas favoritos. Hesitei nas últimas 3h40 minutos a puxar meu fone, aqueles bem grandões com cancelamento ativo de ruído, por não querer mexer na mochila e incomodar o sono tranquilo de dona Vanessa, uma ítalo-brasileira que divide comigo as 3 poltronas da fileira 32 do voo São Paulo – Milão.
Ela está indo de volta pra casa, e me perguntou sobre o motivo do meu boné ser verde e ter tanta gente usando as mesmas cores. Ela, já passando pelos 50 anos, gostou de saber sobre o Palmeiras, que disse não conhecer a fundo, mas já havia ouvido sobre a relação entre meu time o o atual país dela. Me prometeu que tomará o chá das cinco com a televisão ligada no jogo do Mundial – que expliquei longamente sobre do que se tratava.
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Uma ótima pessoa, a dona Vanessa. Apesar do frio absoluto que pairava sobre o avião da LATAM, o clima seguia quente. Já munido de um moletom quentinho, comecei a procurar meus vídeos do dia e fui me lembrando da quantidade incrível de histórias que já encontrei no primeiro dia de Mundial, mesmo ainda em São Paulo. Para contar a vocês, é preciso que rebobinemos a fita algumas muitas horas.
Meu celular marcava 11:22 quando filmei os preços caros do Aeroporto de Guarulhos. Meus pais me levaram até o terminal 3 para o embarque que só aconteceria 6 horas mais tarde. Ainda com eles, já notamos uma quantidade deliciosa de camisas verdes, bonés verdes e um ambiente incrivelmente palmeirense. Enquanto busquei meu PCR impresso na boa CR Diagnósticos, a duplinha mandou minha mala ser embalada num plástico, adivinhe você, verde. Era tudo nosso.
Fiz uma foto com eles para marcar minha primeira cobertura jornalística internacional. Era, de fato, um momento a se comemorar. Me despeço deles, que teriam 5 horas de carro até minha casa, na distante São Manuel. Faço meia volta e encontro Marcos Costi, eterno locutor do Allianz, figura nobre e que, pra minha imensa surpresa, me conheceu e chamou pelo nome. Primeiro gol da minha jornada.
Leandro Boudakian o acompanhava. A eles, desejei boa viagem e segui rotina. Fui para um barzinho chamado Fridays, afinal, era o meu sextou. O local era bonito, com várias televisões e um cardápio americanizado. Pedi um guaraná refil com laranja, que me custou R$ 18,90. Antes mesmo que eu tomasse, um casal vestindo as novas camisetas da Puma chega e precisa de uma cadeira para colocar suas malas, ofereço a minha e abro um diálogo breve.
Diz Flávio, cujo nome só fui saber horas mais tarde, perguntando minha cidade. Ciente da distância, menciono quase sussurrando: São Manuel!. Ele e Paula reagem com euforia, rindo, e eu me assusto. Eles são de Botucatu, vizinha da minha terra, distante menos de 10 minutos. Fazemos boa amizade por ali enquanto eles esperarem pelas costelinhas e pelo camarão que haviam pedido.
Endrick, ingressos, PCR, que eles aguardavam pelo resultado, pautaram pelo menos uma hora de nosso dia. Espero pela chegada do chip internacional que veio até mim pelo Rappi (que serviço!) e também por dois amigos que nunca havia conhecido pessoalmente. Alan, o FalaPorco, e Giuliano, meu editor e amigo de Nosso Palestra. O trio se reúne, enfim, na porta de embarque internacional. Giu trouxe o tênis verde e branco que comprei e mandei entregar em sua casa para que houvesse tempo dele ir pra Abu Dhabi comigo. Jogamos a caixa fora, alojamos o par e fomos para os guichês.
Com alguma dificuldade tecnológica ou outra, vencemos as revistas, checagens e afins. Fiz imagens do Free Shop e segui vendo uma invasão de palmeirenses. Sentamos, então, no Pizza Hut. Um combo com pizza, sticker, sobremesa e refri nos custou R$ 55, mas entregou um almoço bem bom. Um pedaço de pepperoni digno de foto, vídeo e inveja em todos os meus grupos de WhatsApp. Depois de pagar, procuro por um banheiro e ouço: PALMEIRENSHE?
Olho pra trás, repondo que sim e o rapaz magro, com roupa preta, pergunta, abusando de seu sotaque marcante, onde era o jogo. Conto ser o Mundial em Abu Dhabi e ele afirma: vocês têm Abel Ferreira. Confirmo a empolgação, elogiando o comandante, e ele me conta ser torcedor do Sporting. Entre uma fala e outra, Fernando confessou achar que Abel era um treinador mediano, mas fez questão de exaltar o trabalho no Palmeiras e me deixou com uma pulga atrás da orelha:
– Estamos esperando pelo retorno dele.
Eu tento insistir no tema, mas ele só conta que os portugueses passaram a admirar muito o que Abel tem feito por aqui e querem muito vê-lo comandando um time grande do país. Nada que surpreenda, convenhamos. Simpático, o portuga deseja sorte a todos nós e vai encontrar sua família. Já no avião, ele fez questão de passar por mim e mandar um ‘Alô, amigo do Palmeiras’. Grande sujeito.
Na fila de embarque, um rapaz indaga a mim e Alan sobre ‘esse monte de palmeirense’. Explicamos ser a viagem pro Mundial, mas o bom humor não parece ser especialidade da casa. Com cara de ué, o cidadão responde com um espetacular: ‘Ah!’ e sai andando. Deve ser rival, né. Mal amado e mal educado, mas eu entendo que é péssimo não ser palmeirense.
No caminho para a aeronave, um funcionário da LATAM grita, mas grita mesmo: ‘SEREMOS!’. Gesto suficiente para causar um breve terremoto na passarela. Sentados e esperando que o banheiro para cadeirantes fosse arrumado, ouvimos, ainda tímidos, cânticos da torcida, não resistimos eu e Giuliano a batucar nas janelas e cantarolar com o pessoal. Os avisos no sistema de som acabam por encerrar nossa festa antecipada. O avião, 45 minutos depois, decola rumo a Milão.
Agora, 9h43, encerro o relato dessas primeiras horas de aventura com a certeza plena e absoluta de se tratar de uma jornada memorável. Vamos invadir os Emirados Árabes como jamais aconteceu antes na história. Não sei quando esse texto vai ao ar pra vocês, mas ele é só o primeiro. Vamos juntos em busca do bi. Boa noite, eu preciso dormir um pouquinho.
PCR, medos e Listerine: pré-viagem do palmeirense em Abu Dhabi
Se existe um inimigo de todo torcedor que quer ir pra Abu Dhabi acompanhar o Palmeiras no Mundial de Clubes, ele é o exame RT-PCR. Pré-requisito obrigatório para o embarque, o certificado trouxe drama, celebração e muita correria para os incontáveis torcedores que vão atravessar o mundo.
No Aeroporto de Guarulhos, ao longo da última sexta-feira (4), vi pessoalmente acontecer uma série de histórias que vão do êxtase à tristeza profunda. Flávio e Paula moram no interior paulista e foram a São Paulo com malas e esperança, mas sem exame. Meio dia, colheram amostras no laboratório do GRU e esperaram pelo resultado ao longo do dia.
Enquanto estive com eles, foram pelo menos 20 refreshs no site para ver se o diagnóstico havia sido liberado. No mesmo voo que eu, só fui saber deles que o negativo veio próximo das 16h20, quando o embarque já estava em andamento. A mensagem era de plena euforia e alívio. O casal vai viajar atrás do time do coração, ainda que sem o filho, de 2 anos, que já cantarola ‘Palmeeeeilas’, mas que vai ficar com os avós
Na fila do embarque, Guilherme aparece perto de mim e conta a um amigo em comum que seu exame era antígeno, mas o modelo é inválido. Ele havia acabado de fazer um PCR no Aeroporto, cujo resultado pede até 4 horas para ser liberado. Apesar dos pedidos para antecipação, o relógio, àquela altura, marcava 14h15. Ele não pôde dividir viagem conosco. Vai precisar encaixar uma remarcação.
E esse não foi o único caso. Moisés já tinha malas no carro rumo a Guarulhos quando recebeu um resultado positivo pra Covid-19. Ficou em casa e, apesar da imensa frustração, vai tentar refazer diariamente o PCR em busca de sinal verde para ver o time pelo qual torce ao longos dos seus 53 anos. Ele vai tentar até o dia 6 para poder chegar em tempo da semifinal.
Da comissária de bordo da LATAM, ouvi o relato de 12 casos de no-show, quando uma pessoa não comparece ao voo. Ela não soube precisar se todos eram motivados pelo caso positivo no teste, mas salientou que diariamente são alguns vários que ficam pelo caminho por conta do vírus. Uma situação que entristece todos que veem amigos impedidos de seguir viagem.
Na tentativa de auxiliar às pessoas que já estão curadas da doença, mas que por algum motivo tem seus PCRs positivados, circulou nos grupos de WhatsApp uma técnica de uso do enxaguante bucal Listerine aplicado no nariz para que o exame seja superado – sem prejuízos ao contágio de novas pessoas, afinal elas já cumpriram quarentena e estão clinicamente liberadas.
Existem relatos de sucesso no improviso, mas a peculiaridade da tarefa acabou fazendo do Listerine um grande meme das histórias de palmeirenses em Abu Dhabi. Se quem viajou não ouviu ao menos uma vez sobre isso, ela certamente é pouco sociável na internet (e na vida). Fato é que a vontade de viajar tem criado situações muito incomuns.
Entre celebrações e tristeza, o Brasil vai exportando diariamente centenas de palmeirenses para uma invasão histórica nos Emirados Árabes. O momento máximo da viagem é celebrar um gol, um título, mas as celebrações de um teste negativo não ficam atrás. É digno de festa. Basta ver o que acontece no Aeroporto de Guarulhos.
Como foram os protocolos do meu embarque para Abu Dhabi
Levei exatamente 21 documentos, entra bilhete, trechos, cópias e certificados, para meu embarque. O guichê da LATAM já parecia bem preparado para o ‘grupo do Palmeiras’ como se referiu a nós o rapaz que orientava a fila. Foram vários protocolos diferentes para diferentes pessoas. Pra começar, conto a vocês como aconteceu comigo.
5 horas antes do horário marcado para o voo, cheguei à fila da empresa, que me questionou trajeto, conexão e destino final. Confirmei que Milão era apenas escala e segui rumo ao balcão. Com meu teste de COVID em mãos, me foi solicitado apenas o passaporte. Em pouco mais de 2 minutos, sem qualquer pergunta, a atendente me orientou a colocar a bagagem na esteira e me entregou o bilhete, desejando boa viagem. E foi só.
Já dentro da ala internacional de embarque, passei por uma revista bastante simples, sem qualquer interrupção, e depois por uma máquina onde escaneei meu passaporte e fui ‘vítima’ de uma foto eletrônica. Nada além disso. Horas mais tarde, entreguei bilhete e passaporte na fila de check-in e fui liberado para acessar a aeronave.
Outras muitas pessoas relataram situações distintas. Foram requeridos o passaporte vacinação, o seguro saúde, o PCR para consulta e demais documentos. Coisa que não aconteceu comigo, mas parece ter sido uma espécie de padrão mas horas consecutivas, quando o movimentos de pessoas já era bem maior do que usando eu estive.
Milão não exige documentos extras ou qualquer protocolo de segurança. Passamos pela imigração apenas com passaporte e comprovante de bagagem. Durou pouco mais de 2 minutos. Agora, em Milão, os viajantes vindos do Brasil não podem sair do aeroporto. Todos se reuniram no café para comerem algo, que é caro, um salgado passa dos 40 reais, no aguardo da segunda perna da viagem, rumo a Abu Dhabi.
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