Opinião

'Foi para o meu pai': a história de Cláudio, nas palavras de Heloísa, sua filha

Não há nada tão Palmeiras quanto o amor entre um pai e uma filha

'Foi para o meu pai': a história de Cláudio, nas palavras de Heloísa, sua filha

Essa é a história de Heloísa, filha do Cláudio, dois palmeirenses que tiveram suas imagens viralizadas após a vitória épica do Palmeiras sobre o Atlético Mineiro. Eu até poderia contar por meio das minhas palavras, mas ela detalha com as letras do coração. Do mais puro entre todos os sentimento. Confira e se emocione.

Desde pequenininha, sou palmeirense. Meu pai sempre me levava ao estádio, porque meu avô também era fã do Palmeiras. Meu avô, o pai dele, era Alviverde, em São Paulo, e Galo, em Minas. A primeira vez que ele me levou no Palestra Itália, eu tinha 13 anos e a gente não parou mais de ir. Eu tenho mais dois irmãos, um irmão e uma irmã, mas fui a única que acompanhou ele a vida inteira. 

A gente já foi em muitos jogos, não íamos em todos, mas em muitos. Ele sempre foi meu companheiro de jogo, de Palmeiras. Quando não íamos ao estádio, assistíamos em casa. Aí veio a pandemia, a gente comemorou o título do Paulista, em 2020, já isolados. A gente pulou junto aqui e nesse mesmo ano ele teve um AVC. 

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Em decorrência do AVC, falaram para a gente que ele teria uma morte cerebral nas próximas horas, era muito grave. Transferimos ele de hospital e neste novo, o prognóstico foi diferente. Falaram que era muito grave, mas que ele tinha grandes chances de sobreviver. Todo mundo lá sabia que ele era palmeirense, então, mesmo entubado, sedado, todo mundo que vinha conversar com ele falava do Palmeiras, dava as notícias do Palmeiras, e isso ajudou muito na recuperação.

Tinha dias nos quais ele não tinha nenhuma reação, mas as notícias do Palmeiras geravam nele algum espasmo, como apertar a mão e esboçar um sorriso. Ele gostava de escutar o Verdazzo, sempre acompanhou o pós-jogo, pré-jogo, antes do AVC. A gente continuou mantendo essas rotinas de receber as informações pelo fone de ouvido. Isso alavancou demais a recuperação.

Ele, então, foi para o quarto, abriu o olho e começou a se comunicar com a gente. Por ser traqueostomizado, não conseguimos conversar muito, mas ele sempre pedia para saber coisas do Palmeiras. Para trabalhar a cabeça, eu sempre mostrava fotos dos jogadores para ir lembrando, para estimular. Ele veio para casa e pudemos comemorar juntos dois títulos da Libertadores, além das outras emoções. 

Eu nunca mais tinha ido ao estádio, porque eu não conseguia sem ele. Ele era meu parceiro. No final do ano passado, contra o Atlético-MG, meu sobrinho foi comigo, fizemos uma chamada de vídeo. Foi como se ele estivesse comigo. Então, eu vou em alguns jogos ainda, mas jogos decisivos eu prefiro assistir com ele em casa. O jogo de ontem teve um significado absurdo para a gente. Meu pai ficou internado dez dias, ele estava internado na semana passada, inclusive o primeiro jogo eu assisti sozinha em casa porque ele estava no hospital. 

Tê-lo conosco foi uma alegria imensurável. Eu até fiz um post no Instagram dizendo que fiquei nervosa, mas acho que o que passamos na última semana me deixou mais. Ontem foi uma mistura de nervosismo, alegria e alívio. O meu sobrinho colocou para filmar a nossa reação nos pênaltis, mas no momento você até esquece, e aquela foi a minha reação, de abraçar muito ele. Era isso que ele merecia, a vitória foi para ele mesmo. 

No vídeo até aparece ele dando um sorriso. Nos últimos dias, ele estava com uma cara muito fechada, e ontem, depois do jogo, ele soltou os primeiros sorrisos pós-internação. Era de emocionar. Eu de mão dada o jogo inteiro com ele. Quando a gente ficava nervoso, ele esboçava na feição. Felicidade absurda, tanto é que fomos dormir às 3h da manhã. Ele quis escutar todos os programas possíveis e continua muito feliz. 

Durante os jogos, meu pai fica mais calado. Acho que não temos nenhuma superstição. Eu fico mais agitada, ele fica mais calado. Acho que pode até ser uma superstição. Se você pergunta para ele o placar, ele sempre vai dar um placar negativo para o Palmeiras, tanto é que ontem ele falou que ia ser 2 a 1 para o Atlético-MG. Então a gente fica tranquilo, porque quando ele fala um placar negativo, vai dar bom. Acho que essa é uma superstição dele para chamar a vitória. 

O meu pai precisa de cuidados 24h. Como ele usa a traqueostomia, a gente precisa manter uma limpeza do pulmão. Então, nesses minutos que antecederam os pênaltis, eu fui cuidar dele, fiz tossir para limpar o pulmão, coloquei remédio para manter distraído, porque ele estava muito tenso. A testa bem franzida. 

Uma coisa que ele sempre fez: ele se preocupava em me acalmar, me preparando para o pior. Sempre que presenciamos pênaltis, ele se preocupa em me acalmar. Mas ontem, por conta dele ter voltado do hospital há poucos dias, eu fui fazer as coisas com ele para ele tirar o foco um pouco. Mas a gente foi unânime, falando que já saiu a zica do Veiga, e a nossa zica dos pênaltis saiu junto. 

Hoje, o sentimento é de tanto alívio. Ontem, o que o Palmeiras protagonizou esse fato tão heróico veio para trazer a nossa calmaria, pelos dias que passamos. Ele acordou, eu estava aqui em casa, a primeira coisa que eu falei foi: “Bom dia, semifinalista”. Ele deu um sorriso, mesmo com o olho fechado, segurou na minha mão. Ele está, desde então, muito bem humorado. Ficou mais preocupado agora que eu comecei a contar para ele que o vídeo tinha viralizado, as pessoas queriam falar comigo. Ele começou a ficar meio tenso. Eu falei: “Pai, isso é muito divertido, vamos curtir o momento”. 

Heloísa, a filha do Cláudio.

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