Giuliano Formoso: ‘O maior momento da minha vida! Gracias, Montevideo’
Quando a Mancha subiu as faixas, foi impossível não lembrar do antigo Palestra Italia. A tribuna ficou igualzinha à saudosa ferradura, como na foto que ilustra esse texto
Em quatro dias de viagem, passei menos de 24 horas em Montevidéu. Mas foi lá que vivi o maior momento da minha existência (por enquanto! – como bem pontuou um bom amigo).
O Palmeiras é a coisa mais importante da minha vida. Foi com esse pensamento que decidi fazer a loucura de ir à final da Libertadores. Sozinho. No estádio, encontrei diversos amigos, mas os longos caminhos de ida e volta foram solitários. Caso soubesse como seria o desfecho, teria topado ir a pé. Ou até nadando.
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Em 1999, tinha apenas dois anos. Em 2020, fui impedido pela pandemia. Estava decidido que iria assim que fosse possível. Quis o destino que fosse em 2021, menos de um ano desde o último título. Vai saber como estaria a vida se levássemos outros 20 anos para chegarmos lá novamente?
No Uruguai, nem se eu pudesse pessoalmente escrever o roteiro teria gostado tanto. É para passar o resto da vida procurando algo que se iguale ao dia 27 de novembro de 2021. Hoje, não acho que seja possível. Foi perfeito do início ao fim, tanto dentro como fora de campo. O gol do Deyverson, a festa do título, a aula de arquibancada para engolir um adversário soberbo e intragável.
Aliás, que bela cancha o Centenario. Em silêncio, talvez fosse possível ouvir as arquibancadas contando histórias sobre a primeira Copa do Mundo, lá em 1930. Só perguntando aos flamenguistas para saber, porque de nossa parte não houve um segundo silencioso sequer. Mesmo em menor número. Com vento e tudo.
Quando a Mancha subiu as faixas, foi impossível não lembrar do antigo Palestra Italia. A tribuna ficou igualzinha à saudosa ferradura, como na foto que ilustra esse texto. Deu para matar a imortal saudade por preciosos minutos. Foi a maior concentração de pessoas chorando por felicidade que já vi. Homens, mulheres e crianças vivendo o ápice de suas vidas.
Até o sol demorou para se pôr em Montevidéu. Queria ver um pouco mais da festa do Palmeiras e acabou colaborando, deixando o céu alaranjado e produzindo uma fotografia que estávamos emocionados demais para registrar.
Nas ruas, o povo uruguaio genuinamente feliz em receber um evento do tamanho da final de Libertadores entre Palmeiras e Flamengo. Os hinchas do Nacional falando um sorridente ‘saludos, campeones!’ ao nos encontrar depois do jogo. Aconteceu dezenas de vezes. Lá de cima, Eduardo Galeano certamente rabiscou linhas sobre o que aconteceu no dia 27 em sua terra natal. Um dia as lerei.
Em jornada solitária ao terminal rodoviário, no posto de homem mais feliz do universo, parei para me embebedar em um bar pouquíssimo convidativo. Entre uma cerveja e outra, conheci Mauricio e Felipe, dois torcedores locais do Nacional.
Com um tenebroso portunhol alcoolico, conversamos como bons amigos sobre a paixão pelo futebol indo de Matías Viña a Luis Cubilla, Juan Alberto Schiaffino e Enzo Francescoli. Felipe, de 11 anos, foi descrito pelo pai como volante de visão de jogo e bote certo, como o xará Felipe Melo, e prometeu jogar um dia no Palmeiras. Espero que aconteça. Terão um amigo no ‘Nuestro Palestra’.
Depois, com o atraso do ônibus, dormi por algumas horas no chão da rodoviária, que mais parecia o melhor colchão do mundo, agradecendo aos céus por Deyverson, Abel Ferreira e o Palmeiras. Com receio apenas de acordar e tudo ter sido um sonho. Ainda bem que não foi. Gracias, Montevideo.
O que sofri como torcedor até os 18 anos já foi quitado com todos os juros possíveis. Tricampeão da Libertadores. Obrigado por tudo e por tanto. Estamos juntos até depois do fim.
Desfrutem. Avanti, Palestra!
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