Guilherme Paladino: Apesar de tudo, o trabalho de Abel Ferreira no Palmeiras também merece críticas
Em meio a todos os clichês das óbvias contestações à diretoria, existe uma nuance que, muitas vezes, passa despercebida: há uma parcela de responsabilidade do técnico no mau momento que o clube vive, e é hora de falar sobre isso
Confira a coluna de opinião de Guilherme Paladino para o Nosso Palestra: Apesar de tudo, o trabalho de Abel Ferreira também merece críticas
É do conhecimento de quase toda a torcida do Palmeiras que a diretoria tem uma parcela imensa de culpa nos fracassos da equipe. E não me refiro apenas a esta temporada, falo dos últimos anos, desde o início da atual gestão.
Também é do conhecimento da torcida que, principalmente na temporada de 2021, o processo de auto-sabotagem do próprio clube é ainda mais intenso: apenas um reforço foi contratado, mesmo com o respeitado treinador Abel Ferreira praticamente implorando por mais peças para setores específicos do elenco.
Contudo, em meio a todos os clichês das óbvias críticas à diretoria, existe uma nuance que, muitas vezes, passa despercebida: há uma parcela considerável de responsabilidade do técnico no mau momento que o Palmeiras vive. E é hora de falar sobre isso.
Abel Ferreira não foi contratado para apresentar um futebol vistoso, ofensivo, de muita posse de bola e gols em abundância, e ele próprio jamais prometeu isso. Portanto, seria descabido cobrar algo nesse sentido. Entretanto, Abel foi contratado com o discurso (muito mais por parte dos dirigentes, é verdade) de que era um treinador que gostava de trabalhar com a base. E podemos começar nossa DR por aí.
É fato que, desde a chegada do português, alguns ‘miúdos’ viveram momentos de glória sob seu comando. O auge, certamente, foi a atuação do trio Patrick de Paula, Danilo e Gabriel Menino contra o River Plate, na Argentina, em uma semifinal de Libertadores. Mas, inexplicavelmente, aquilo acabou ali.
Qualquer oscilação, lesão de uma semana ou suspensão já era motivo para abortar a titularidade dos garotos na sequência dos jogos. A escalação titular do Verdão para a finalíssima da Copa do Brasil, que aconteceu dois meses depois da épica noite em Avellaneda, não contou com sequer UM dos três jovens. Todos começaram no banco. E, nos lugares deles, entraram: Felipe Melo, veterano de 37 anos, Zé Rafael, de 27 anos, e Raphael Veiga, de 25 anos.
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Com uma mudança ou outra, essa viria a ser a tônica definitiva do Palmeiras na temporada de 2021. Na partida de ida da Recopa Sul-Americana, primeiro grande confronto da nova fase, o meio de campo titular não teve a presença da base. Na Supercopa do Brasil, contra o Flamengo, quem estava lá na meiuca? Nenhuma das Crias da Academia. Com a justificativa, na coletiva pós-jogo, de que “era necessário contar com mais experiência”. Mas e como fica tudo que a gente viveu na Libertadores? Enfim, questões.
É óbvio que, com a quantidade absurda de jogos no calendário, em determinados dias Patrick de Paula, Danilo, e Gabriel Menino voltaram a figurar no time titular. Juntos, quase nunca, mas separados, receberam chances. E alguns deles protagonizaram bons momentos: os dois primeiros foram titulares no massacre por 5 a 0 diante do Independiente del Valle, no Allianz Parque, por exemplo.
Mas, nos jogos grandes, apenas um era escalado, quando muito. Somente Patrick de Paula foi titular na semifinal do Paulistão diante do Corinthians e no jogo de ida da decisão contra o São Paulo. Na volta? Banco. Em todos os três últimos jogos citados, e até os dias de hoje, Gabriel Menino perdeu sua vaga para Mayke e Danilo virou reserva oficial de Felipe Melo.
E a intenção aqui não é ser advogado destes atletas, ou obrigar a escalação dos mesmos em todos os jogos até o fim do ano. É levantar um questionamento: por que o trio que protagonizou uma das noites mais épicas da história da Sociedade Esportiva Palmeiras jamais teve chance de repetir o feito em partidas importantes?
E pior: a tolerância com estes, que apresentaram um potencial imenso, é mínima em caso de queda de desempenho. No entanto, jogadores mais experientes, que também oscilam, falham e apresentam até deficiências técnicas ou físicas, quase nunca perdem a vaga; na verdade, ganham ainda mais espaço, dia após dia.
Outro exemplo claro para ilustrar o meu ponto: o planejamento do Palmeiras no Campeonato Paulista de 2021 ficou conhecido popularmente como o “laboratório da base”, pois garotos promissores da Academia de Futebol foram testados nas mais diversas posições. Entre eles, destaco Vanderlan (zagueiro e lateral-esquerdo), Michel (zagueiro), Fabinho, Pedro Bicalho (volantes) e Giovani (atacante) como peças interessantes que apresentaram potencial para ajudar no futebol profissional.
Contudo, após o Paulistão, o sumiço destas promessas da base foi quase geral. O único que apareceu em campo depois da conclusão do Estadual foi Michel, que entrou aos 38 minutos do segundo tempo no jogo de ida contra o CRB pela Copa do Brasil.
E não é como se o time estivesse em uma situação de plenitude. Pelo contrário: há urgências nos setores citados: na lateral esquerda, Matías Viña foi convocado à Seleção Uruguaia; no meio de campo, Patrick de Paula, Danilo e Danilo Barbosa têm lesões. No ataque, Gabriel Veron está sem condições de jogo e as únicas opções de velocidade são Rony e Wesley.
O que é visto, na realidade: na lateral esquerda, a titularidade absoluta é de Victor Luís, nada de Vanderlan. No meio de campo, Felipe Melo tem vaga cativa, jamais Fabinho ou Pedro Bicalho. No ataque, até Breno Lopes tem preferência, Giovani quase nem relacionado é. E isso vindo de um técnico que “gosta de atuar com a base” e que reclama da falta de reforços. O Paulistão foi um “laboratório” ou o uso dos garotos foi meramente circunstancial para dar descanso às verdadeiras opções da comissão técnica?
E como justificar a postura do time nos grandes duelos? A torcida quis acreditar que a tensa atuação na final da Libertadores ocorreu devido à extrema pressão, o que seria totalmente justificável. Mas, no Mundial, o Palmeiras acertou apenas uma finalização no gol do Tigres. Na final do Paulistão diante do São Paulo, no Allianz Parque, o Alviverde chegou à meta de Tiago Volpi somente duas vezes, assim como no Morumbi.
E, mesmo quando a equipe dá sinais de vida contra adversários incômodos, isso dura pouco e a frustração acaba sendo ainda maior após o apito final. Foram começos fulminantes contra o Flamengo, tanto na Supercopa quanto no Brasileirão 2021; depois, ao longo do jogo, o Alviverde se retraiu e, apático, sofreu gols. O roteiro foi parecidíssimo contra o Corinthians no último sábado (12), também pelo campeonato nacional.
E não estou falando aqui de preferência por um estilo de jogo ou outro. O fato é que a amostragem de desempenho insuficiente nos confrontos importantes está aumentando. E, quanto mais isso acontece, mais o Palmeiras vem deixando de se impor em campo, seja contra adversários melhores ou piores. Não é questão de ser “reativo” ou propositivo”, é questão de ser deliberadamente omisso dentro das quatro linhas.
Feita toda essa DR, isso significa que o namoro acabou? É claro que não. Nem precisa, necessariamente. Todo relacionamento passa por altos e baixos e, acima de tudo, é fundamental manter a confiança para que os erros possam virar aprendizados e evoluções.
Mas, justamente por isso, é fundamental que essa discussão exista. Há margem para melhorar, e o primeiro passo é reconhecer onde estão alguns dos problemas. Ninguém é perfeito, nem mesmo o campeão da Libertadores; o que não quer dizer que Abel Ferreira é um treinador descartável, sem repertório ou sem algo a mais para agregar ao Palmeiras. Ainda é possível crer que ele tem capacidade para refletir, reconhecer o que considera certo e errado, recalcular a rota e seguir em frente.
Todavia, é importante que ele tenha em mente que a paciência da torcida tem limite. E, diretoria, por favor: reforços não cairiam mal. Ajude o homem a te ajudar.
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