Já era madrugada de 02/11 em 2020, quando Gabriel, não esse, o mais famoso e dono do Podporco, foi ao Aeroporto de Guarulhos em busca de uma palavra do forasteiro Abel Ferreira, um ilustre desconhecido. Eu, esse outro Gabriel, mais conhecido como João, descobri na tarde do dia 28, sobre o português em uma ótima conversa com outro lusitano, que hoje posso chamar de amigo. Neste breve intervalo de horas, Nosso Palestra e Abel Ferreira se conheceram. E que dia lindo, o 29.
Depois, publicamos todas as análises e opiniões que vocês possam imaginar. Quem era, como jogavam seus times, qual era sua personalidade, o que esperar de uma aventura tão incomum. Um gringo inexperiente no time mais exigente do Brasil. Em sua primeira coletiva, um respeito tão terno e cativante que chegou a emocionar quem tem o Verde no coração. Começava ali um casamento muito mais invejável que os de revista.
Permito ao meu texto um uso anacrônico da crônica para cortar a linha do tempo e chegar até 2022. Ao iminente Abel Campeão Brasileiro, os pontos corridos que faltavam à sua mágica passagem pelo Maior do Brasil. E lembrar a todos nós que quando ele está à beira do campo, o (nosso e dele) sangue esquenta, a voz amplifica e o coração dispara. É romanticamente ríspido. Abel não é um lorde inglês que te mostrará uma prancheta. Ele vai olhar na tua cara e berrar até saltarem as veias, as pupilas e os batimentos cardíacos.
Abel é um português carcamano, no melhor sentido do termo. Como nos chamavam de porcos e assumimos o Porco, ele assume o espírito de luta. Ele já entendeu que a satisfação, quando palmeirense, é combatida. E não há omissão a um bom combate. Bíblico, até. Abel é maluco, doidinho de tudo, raivoso, pilhado, maluco, briguento e irritadíssimo. Em outras palavras: ele é um puta palmeirense.
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Me emociona, genuinamente, vê-lo no banco de reservas do meu time. Na área técnica do meu estádio. E justamente por essa mistura de características extremas de tudo aquilo que somos. Não somos calmos, não somos controlados, não somos tão ligados assim à razão. A gente comemora chorando e sorri da desgraça. A gente dá um bico numa garrafa d’água pra celebrar, sim.
Porque desabafamos, porque celebrar é desentalar sentimentos que guardamos. A gente não consegue comemorar antes da hora, Abel também não. Quarenta mil gritam o gol e ele diz: ‘shhh!, me escuta!’, enquanto orienta um marcação pro lance seguinte. E quando ele sente que venceu, explode. E numa mesma comemoração, faz tudo:
Chuta o ar, esmurra o vento, quase rasga a camisa, sai correndo, pula, abraça, empurra, manda uma garrafa de plástico no banco de reservas rival e nem repara. Quando se dá conta, está expulso de campo por ser feliz demais. E sai ovacionado por seu povo, justamente porque eles, que somos nós, nos sentimos representados. Sentimos que há alguém lá dentro que é a nossa absoluta feição.
E eu nem comecei a exaltar as valências práticas e táticas de um treinador brilhante. Que encara o Chelsea de um jeito, o que deu, e mostra supremacia contra o Flamengo, porque era possível. Que se reinventa, que não tem as peças que merece, mas mantém as suas no melhor nível que podem chegar (ou além!). Abel é bom pra cacete em tudo o que faz. Inclusive em causar inveja em quem torce o nariz e tem inchaço no cotovelo.
Que seja eterno, Abel. Eu te entregaria um vitalício com a maior alegria do mundo. Você deve ter outros planos, mas o plano que você tem pro Palmeiras é o melhor e o maior que eu já vi. Você é o craque do Palmeiras e o mais querido de uma torcida. O elo forte de um clube. A confiança de milhões. A esperança de mais glórias e a fé de todos os dias. Há exatos 730 dias.
Obrigado por tanto. Avanti, Palesxtra!