Mauro Beting: Allianz Parque vincerò!
Hoje, 5 anos depois, dois brasileiros e um Paulistão, sabemos que ali viramos o jogo. Voltamos, Palmeiras!
Quando Ricardo Oliveira foi bater o último pênalti do Santos na final da Copa do Brasil de 2015, Marcelinho Carioca começou a correr para a bola em 2000 na mente de muita gente. Há 20 anos, na semifinal da Libertadores, o Palmeiras foi Brasil.
A maior torcida alheia que o campeão da Libertadores de 1999 recebeu desde a Copa Rio de 1951.
Marcos espalmou em 2000 com a mesma torcida brasileira que seria santificada por ele na Copa de 2002.
Ricardo Oliveira fez com categoria o pênalti na primeira decisão do Allianz Parque, em 2015. No camarote dos ídolos da arena que então tinha um ano estava a corrente pelo Palmeiras de Ademir da Guia, César Maluco, Edu Bala, Evair, Tonhão, Amaral. Em todos os cantos do estádio estava o alviverde inteiro que fizera emocionante corredor para a chegada da delegação, mosaico para o goleiro Fernando Prass, força e luz para o elenco desacreditado que ficara o novembro azul em vermelho sem vencer.
Prass treinava os tiros da marca penal em silêncio na Academia. Discreto como é nas atitudes e na colocação na meta e fora dela. Defendendo o Palmeiras dos chutes alheios e das caneladas da imprensa. Falando e jogando sério.
Quando Prass se aprontou, me veio a imagem do cemitério Morumbi.
13h de uma quinta-feira como aquela que começara nos pênaltis, em 3 de dezembro de 2015.
Só que era 29 de novembro de 2012. O féretro do meu pai deixando o cemitério para um crematório em Itapecerica. O então presidente alviverde Arnaldo Tirone chegando para dar um abraço depois de ter mandado uma bandeira para o caixão do meu Babbo.
- Mauro, acabei de fechar a primeira contratação para o ano que vem. Há quanto tempo não compramos um goleiro?
- Presidente…. Acho que o último foi o Gato Fernández, em 1994.
- Fechei com o Fernando Prass.
- Ótimo negócio. Cara do bem, bom goleiro, experiente, e já jogou a Série B. Uma boa.
No dia mais triste, Prass era boa notícia.
Mas quem poderia imaginar em 2012 o que seria em 2015 Prass x Petros em Itaquera que não existia? Prass x Gustavo Scarpa do Fluminense no Allianz que não tinha nome? Prass x Gustavo Henrique que na final da Copa do Brasil não tenho palavras.
Naqueles 52 segundos entre o gol de Ricardo Oliveira e o gol de Prass ainda deu para lembrar eu me atirando aos pés do goleiro alviverde nos estúdios do Fox Sports, depois de Itaquera, emulando a defesa na semifinal do Paulista de 2015.
Juro. Tudo isso eu pensei naqueles 52 segundos entre o gol de Ricardo Oliveira e o chute de Prass.
Segundos?
Minutos. Horas. Dias!
Oito passos até a bola, pé direito nela, Vanderlei num canto, a bola no outro, você em outro mundo. Ou de volta ao planeta. Pulando da terra que tem mais Palmeiras.
Ninguém tem mais títulos nacionais no país que mais tem títulos mundiais.
12 canecos então.
Doze como São Marcos. O número um do país. Como Fernando Prass.
Nilson César narrando o gol do campeão na cabine da Jovem Pan no Allianz. Eu anotando o canto da cobrança e cantando já com o torcedor que batia no vidro da cabine. A camisa com a frase do meu pai levantada no vidro para celebrar. O abraço com os torcedores na frente. O pensamento nos filhos que estavam no Gol Norte com o amigo Jaiminho. Calabar e meu amigo Cecchini ganhando o presente de aniversário antecipado. Neto do diretor de futebol do Palestra que virou Palmeiras na Arrancada Heroica.
Herança palestrina perpetuada por Prass. Meu amigo Eduardo. Chamado de Dudu na família.
Dudu? 1 a 0. Dudu! 2 a 0.
Menino Jesus no sacrifício. Muita fé e oração.
Larguei o microfone por um pouco para abraçar a equipe que cuida do som e do vídeo no Allianz. Não vi Marcos Costi. Mas corri para o outro lado da tribuna de imprensa pra gritar “festa no chiqueiro” com Edmundo, na cabine da Band, e com muita gente à frente.
Voltei para a Pan. Comentei com Flávio Prado a grande final. Tentei falar pelo Facebook com minha Silvana trabalhando em Minas Não conseguia achar meus filhos. Por que chegando ao estádio, abraçado e emocionado com o carinho dos palmeirense, acabei sem celular. Mas com uma conexão enorme com nossa torcida.
Ainda maior na saída. Não fossem dois amigos da hora que me ajudaram a se desvencilhar de tantos abraços e atenções, não teria conseguido chegar até a avenida para pegar uma carona com o parceiro Alvaro Parisi. De lá para a Academia tricampeã e até a Fox, pegar meu carro, pegar meu caçula Gabriel na casa da mãe dele, e passarmos buzinando pela cidade. Até passar por um grande grupo de palmeirenses na Paulista. Quando parei o carro, saí pelo teto, e ficamos quase meia hora berrando, tirando foto, dando autógrafo.
Fazendo tudo que um jornalista não pode fazer enquanto trabalha. Tudo que um jornalista talvez não devesse fazer em público, com tantas redes sociais.
Mas, qual o problema?
Só sou jornalista por ser Palmeiras. E sou mais jornalista por entender a emoção do torcedor. Bola rolando, não torço, e nem distorço. Bola parada, meus filhos e amores são meus parceiros de vida e paixão.
Tudo que não pude estar com eles perdendo o controle no gol perdido pelo Gabriel Jesus, a respiração na bola na trave santista, os sentidos no gol de Dudu, o chão no segundo gol dele, a esperança no gol de Ricardo Oliveira, eu fui ganhar a minha vitória para a minha vida rondando a cidade a procurar a felicidade de estar com meu filho celebrando a 12ª conquista nacional do Palmeiras.
Foi o meu relato naquele dia.
Mas teve mais história naquela conquista das mais inesquecíveis.
Como aos 42 minutos da quinta-feira do 3. O início da arrancada para a volta olímpica do maior campeão nacional no seu novo lar.
A Arrancada Heroica para o Palestra morrer líder e o Palmeiras nascer campeão. E depois se transformar no maior vencedor no país que mais títulos mundiais conquistou.
- O número do bicampeão Betinho em 2012.
- O número do melhor tricampeão palmeirense: Gabriel. Jesus que multiplicou porcos.
3:00. O tempo de “Nessun Dorma”, a ária de Turandot, talvez a mais linda, na certamente mais tocante versão, a de Luciano Pavarotti.
14h19. A hora em que comprei no Itunes na quarta-feira essa versão que encaminhei para o amigo Luciano Kleiman mandar para o sistema de som do Allianz Parque, no final da volta olímpica do campeão que retornou. Ideia do palestrino Paulinho Corcione, que assina a trilha sonora de nosso filme “Palmeiras – O Campeão do Século”, que eu apenas encaminhei para o clube e para o estádio. E que me custou os mais prazerosos 0,99 dólares.
E quem diz que 0,99 é pouco?
E quem diz que o Palmeiras estava apequenado? Que seria massacrado? Que… Que… Quén, quén…
KKK.
Nós que tanto desejamos e conseguimos.
Queremos a Copa?
Queremos Palmeiras!
Querer todo mundo quer. Mas quem é que pode 12 canecos nacionais como então?
Quem pode é Palmeiras.
Queremos a taça. Um brinde.
Queremos o campeonato. Vem de brinde.
Queremos tudo. Não brinque com essa gente que corneta. É sério. É Palmeiras.
A gente detona tudo. Depena de dar pena nossos palmeirenses de chuteiras. Depreda sem piedade o patrimônio. Deprecia o que é nosso. Depaupera o pau da imprensa deles. Dá porrada em tudo.
Somos bravos.
Bravíssimo!
Nessa ópera por vezes bufa cantamos a plenos pulmões que somos Palmeiras até morrer.
Ainda morreremos de Palmeiras. Mas é ele que nos faz mais vivos. Tirando o ar e o sangue. Dando energia e amigos.
Pelo Palmeiras não somos loucos, apenas insanos.
Pelo Palmeiras não somos fiéis, apenas leais.
Pelo Palmeiras não torcemos, apenas somos.
No que há de Darinta e no que há de Divino, de capetas ao Santo nessa família.
Brigamos entre si. Lutamos contra todos.
Nós falamos mal de nós mesmos. Vocês, não!
Nós somos porcos. Assumimos e viramos mais um bicho. Vocês não podem nos chamar de porcos. Só nós.
Vocês que assumam outros animais. Aqui é porco tanto quanto periquito. Aqui é Palmeiras. Aí é com vocês.
Eu falo mal de mim mesmo quando eu falo mal do meu time. Eu não gosto do jornalista que não vê graça, futebol e pênalti no meu time. Eu não gosto de quem tem outro gosto. Eu sou assim. O Palmeiras é assim.
Não peça razão. Só peço Palmeiras. Não tem preço.
Por isso peco como palestrino por imprecar contra o time na imprensa. É o que me paga. Mas é gratuito o estado de graça de ser palmeirense. Seja jornalista como eu, seja o que você for. É profissão de fé. Bem de família. Cromossomo de como somos felizes por ser Palmeiras.
Queremos a Copa. Sempre. Mas o que queremos mesmo independe dela. Pra sempre queremos Palmeiras.
Verdão que vem, vê e vence. Até quando não ganha.
Quisemos a Copa. Ela veio. Nos pênaltis. Nas meias brancas. Pras cabeças. Pros corações. Prass. Pelas mãos penais. Pelo pé do campeão.
Estava na hora. Faltou pouco para perder. Mas nunca vai faltar tantos que te apoiam.
Vamos, Palmeiras. Amor é na Academia e na dor.
Amor cala fundo. E cala quem não gosta do espírito de porco.
Em 2015, no Day After do título, fizemos festa tão linda quanto palmeirense.
Hoje, 5 anos depois, dois brasileiros e um Paulistão, sabemos que ali viramos o jogo. Voltamos, Palmeiras!