Mauro Beting – Leitão da boa vontade: São Paulo 1 x 1 Palmeiras

Ter boa vontade independe do humor e dos fatos. Depende de amor e de respeito. Como o que temos pela paixão incondicional que é o nosso time, mais do que pelo futebol, mais do que pelo próprio clube.

Amo meu time de futebol do Palmeiras. Mais do que o sub-20, o feminino, as piscinas, os Periquitos em Revista, os bailes do Furacão 2000, as organizadas, meus craques, nossos ídolos.

Sou palmeirense, não sócio. Sou palestrino antes de ser gente.

A vontade que tenho com meu time não é maior do que a sua que também é – e nem menor. Como também não é maior do que a do torcedor de outro clube (ou time). É como eu querer afirmar que eu amo meus filhos mais do que você ama os seus.

Quem é que sabe? Como medir amor?

O problema é que vivemos diz de récuas que passam a régua sobre tudo. Defecam regras sobre todos. Medem o que não tem medida nem cautelar. Carimbam o que não tem selo de validade. Atestam o que dispensa provas.

Abel Ferreira tem sido vítima de sua voz firme, decidida, competente e eficiente mais do que seu esgarçado porém vitorioso Palmeiras. Ele tem sido cobrado até quando exige o óbvio: mais tempo para descansar e preparar o seu time. Quando o português que veio da Grécia critica com IMENSA RAZÃO o calendário que já era absurdo e abusivo antes da pandemia (e já foi muito pior…), ele APENAS quer melhorar o futebol (do país onde trabalha e do clube que lhe paga). O que Abel fala não tem nada de novo. Mas tem muito de velhaco o acusando por isso: “ele já sabia pra onde vinha…”; “por que não fala disso quando perde…”; “se é ruim por que não volta pro seu país”?

O Jornalismo que praticamos no Brasil vive dias de baixíssimo nível. Vou desistir do ofício que abraço há 33 anos por causa disso?

Existe xenofobia explícita na crítica a Abel. Corporativismo clássico. Umbigocentrismo próprio do país penta mundial. Ele não está inventando e nem dourando a bola. Está apenas pedindo para que sejamos mais racionais, competitivos, colaborativos, inteligentes, respeitosos, pacientes. Ele apenas quer o melhor – como trabalha tanto para isso, nem sempre conseguindo, como alguns jogos ruins do seu time (até quando campeão e ainda finalista).

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Abel é mais um que paga o preço pela própria competência – como o time que dirige. Ou, como disse um dos 97 vice-presidentes da CBF, Elias Noveletto, para a Rádio Bandeirantes, com ironia desmedida e desnecessária: “quem mandou ganhar tudo?”.

A competência se pune no Brasil de bola – e não só de boladas. Mas nem a CBF que deveria respeitar mais o clube que melhor a defendeu na Libertadores, nem a FPF que atola o clube com Dérbi entre as finais da Copa do Brasil da CBF, dão pelota a quem melhor joga por elas. Ou quem mais vence.

Também porque é baixo há anos o nível do futebol brasileiro que mais joga do que treina e que leva a isso tanto quanto a falta de paciência com treinadores e trabalhos. Abel também quer melhorar o nosso jogo. Mas quem se importa com profissionais importados?

Falo tudo isso antes do péssimo Choque-Rei porque no primeiro tempo numa noite de sexta no Morumbi só houve uma cabeçada perigosa de Luiz Adriano para fora e outro chute perigoso de Igor Gomes.

Além de um pênalti que eu não marcaria, mas que se pode discutir em Luiz Adriano – como no turno se discute muito o pênalti dado para o São Paulo no Allianz Parque, em lance parecido. Luciano fez aos 28 batendo muito bem o pênalti, teria mais uma chance aos 36, e mais nada para o clube que precisava da vitória para se manter com mínimas chances de título que se esvaíram aos 47, quando Rony achou o empate de outro zero a zero com gols. Outro jogo fraco como argumento de quem se sente incomodado pelas críticas oportunas de Abel e de outros estrangeiros e também brasileiros ao nível de nosso futebol que não melhora com tanto jogo. E com tanta gente jogando contra.

Embora Abel outra vez tenha se perdido nas reclamações desmedidas com a arbitragem (que acertou ao marcar o pênalti infantil de Mayke, que deixou o braço solto para a bola atingi-lo), ele mais uma vez foi o que se quer ver: sangue em campo. Atento ao jogo. Até “passando” a bola para iniciar o lance que daria no empate verde.

Resultado que aumentou a esperada espera tricolor por um título em uma temporada em que o Palmeiras foi campeão paulista sobre o Corinthians no último pênalti, campeão continental na última cabeçada contra o Santos, e agora impedindo o hepta são-paulino na última bola desviada de outro jogo muito fraco.

Mas claro que ainda vão perguntar se tudo isso e muito mais é “suficiente” para o palmeirense…

E como estou cansado de só ser jornalista nessas horas de birras e alguns burros mesmo, vou apelar como alguns coleguinhas: o futebol também é maravilhoso por nos dar a chance de ser feliz com a infelicidade alheia – e isso não e crime dentro de campo. Nem sempre o meu time vai me dar alegrias (ainda mais com algumas atuações porcamente jogadas, e não na melhor acepção suína). Mas, em 2020, os rivais ajudaram o palmeirense a ser mais feliz do que é de berço.

Colegas, perdão pelo parágrafo clubista acima. Mas alguns de vocês merecem pelo que distorcem e torcem contra o clube pelo qual não torcem.

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