Mauro Beting: Maratona contra Grêmio e Corinthians – em 1995
Mauro Beting: Maratona contra Grêmio e Corinthians – em 1995
Cafu, Antonio Carlos, Cléber e Roberto Carlos talvez tenham formado nominalmente a melhor zaga da história do Palmeiras. Jogaram apenas uma vez juntos, na estreia do futuro capitão do penta, e pouco antes de Roberto Carlos ser negociado com a Internazionale – foi 5 a 0 para o Grêmio de Felipão, jogo de ida das quartas-de-final da Libertadores de 1995, no Olímpico.
Foi um jogo maluco além de violento de véspera, pelos confrontos vencidos pelo Grêmio na Copa do Brasil de 1995. Rivaldo, que sempre jogou demais, só ficou 13 minutos em campo até ser justamente expulso por entrada feia em dividida horrorosa entre ele e Rivarola. O Grêmio cresceu, teve três chances na bola aérea letal com Jardel, e o jogo descambou de vez aos 25, quando o volante tricolor Dinho deu uma cabeçada no meia palmeirense Válber, que revidou com um soco fora do lance de bola. Os bandeiras viram e alertaram o árbitro Claudio Cerdeira. Depois de 5min Válber foi expulso e, na sequência, também foi Dinho, depois de certa pressão dos palmeirenses por parecer que o árbitro também não faria o que deveria ser feito. Mais 2 minutos, Dinho e Válber voltaram a se pegar atrás da meta de Danrlei, que saiu para dar no palmeirense (que foi defendido por Tonhão).
O pau fechou de vez.
Menos a entrada da área palmeirense, que levou dois gols de fora da área, de Arce e de Arilson, ainda no final do longo primeiro tempo que durou uma hora. Carlos Alberto Silva resolveu abrir o time e foi ainda pior na segunda etapa: colocou Alex Alves na frente ao lado de Muller, avançou Cafu pela esquerda, deixou só o lento Mancuso na cabeça da área, e improvisou Flávio Conceição na lateral-direita. Nesse 4-1-3 esburacado e desequilibrado, Jardel deitou, rolou, e cabeceou. Fez o terceiro, o quarto e o quinto (mesmo depois de o treinador palmeirense fazer o óbvio ao sacar um atacante Muller e fechar um pouco mais o meio com o volante Daniel Frasson).
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Essa tétrica noite de 26 de julho de 1995 foi numa quarta-feira. No domingo à tarde seguinte, em Ribeirão Preto, primeira decisiva do Paulistão contra o Corinthians. Rival que vinha forte e babando pela vingança do BR-94 perdido sete meses antes, pelo Rio-São Paulo de 1993 também perdido para o misto do Palmeiras em agosto, e pelo 12 de junho de 1993 que acabou com o jejum histórico alviverde.
No Santa Cruz, Cafu não estava inscrito no SP-95. Edilson estava de volta ao Palmeiras por não estar inscrito na Libertadores. O cansaço por atuar desde 13 minutos com um a menos em Porto Alegre (e com 9 com meia hora de jogo no Sul) pesou. Mas nem tanto. Nilson saiu do banco para empatar o Dérbi aos 48 finais.
Na quarta-feira era preciso devolver o 5 a 0 do Sul. O que parecia ainda mais impossível com mais um gol de Jardel, aos 18 iniciais. E com os desfalques para o jogo de volta: os bons reservas índio e Wagner faziam as laterais; em vez de três volantes, Amaral e Mancuso na cabeça da área para liberar Cafu e Paulo Isidoro, com Alex Alves e Muller na frente. Time que não atuara junto. E treinou apenas uma vez.
Ainda assim empatou no Palestra aos 29, com Cafu, e virou com o primeiro gol de Amaral como profissional, aos 39. O Grêmio não tinha o goleiro Danrlei, que havia sido jurado pelo elenco do Palmeiras, e ficou fora da partida. Como o Tricolor pareceu estar na segunda etapa. Paulo Isidoro ampliou aos 13. Mancuso fez 4 a 1, aos 24. Daí os apenas 7.615 palmeirenses pagantes (mas que eram quase o dobro disso, pela promoção que dava um ingresso a mais para quem comprasse uma arquibancada) realmente se animaram e empurraram Cafu aos 38 para fazer inesperados 5 a 1.
Faltava só um gol para os pênaltis. Cléber era praticamente o único zagueiro, ao lado do goleiro Sérgio. Antonio Carlos virou mais um volante, quando não meia (como sofreu um pênalti), como já estava Mancuso em noite inspirada e sanguínea. Magrão entrou como centroavante que era, com Maurílio (que foi a campo quando ainda quando estava 4 a 1) e Muller abertos pelas pontas, e Cafu fazendo tudo. Incluindo dois gols. Mas faltava ainda um.
A chance não veio. Com menos de um minuto de acréscimo acabou o jogo. E começaram os aplausos no velho Palestra. Mesmo eliminado pelo futuro bicampeão da América de Felipão, o Palmeiras foi Palmeiras. Certamente o maior aplauso que um time de verde já recebeu mesmo não seguindo no torneio. E um dos maiores que já vi em um estádio. A torcida cantou o hino inteiro e depois a música que era o mote daqueles dérbis.
No domingo teve mais. Quatro jogos decisivos em 12 dias. Três fora de São Paulo. A última batalha contra o Corinthians que havia derrotado o próprio Grêmio na decisão da Copa do Brasil, no mês anterior. Nilson, o centroavante que fez falta na Libertadores (não estava inscrito, como Edilson) entrou com a bola rolando e fez 1 a 0 aos 11 do segundo tempo. Marcelinho Carioca marcou golaço de falta, aos 15. O estafado Palmeiras não aguentou a prorrogação que precisava vencer e ainda levou outro golaço de fora da área de Elivelton, aos 12 do segundo tempo da prorrogação que precisava vencer.
Corinthians enfim campeão paulista em uma decisão direta contra o Palmeiras. Verdão perdendo a primeira final contra o rival depois de três conquistas seguidas, em 1993-94. Uma delas com o mistão.
Escalação alternativa que não tinha como ser diferente em 1993. E também em 2021. Não tinha outra… Alternativa… Para o primeiro Dérbi do SP-21 irresponsavelmente marcado e mantido pela FPF, no meio das finais da Copa do Brasil de 2020, e no meio de um surto de Covid-19 no Corinthians.
Não deu para o Palmeiras em 1995 no meio da maratona. E mesmo assim deu orgulho pelo que fizeram então. Pode dar em 2021 em outra decisão contra o Grêmio com um Corinthians pelo meio. Rival dirigido por Vagner Mancini. O mesmo camisa 13 gremista que entrou nos minutos finais do 5 a 1 no Palestra, na volta que não teve volta. Mas virou belíssima história.
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