Mauro Beting: ‘O maior do Brasil’

Só sobe a cólera alheia dizer que caiu no colo mais um caneco palmeirense.
Não caiu no colo do maior campeão do Brasil (desde 1959, indiscutível; desde 1971, também, e sem asterisco) o bicampeonato do também maior bicampeão do Brasil: em 1967, passou o rodo ganhando Robertão e Taça Brasil no mesmo ano; em 1972-73, a Segunda Academia de Brandão deu aula; em 1993-94, a Via Láctea montada pela Parmalat oi bi; em 2022-23, a Terceira Academia (que pela bola é a quarta) do Abel Palmeiras é a grande vencedora.

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Não cai no colo um título para o campeão do Século XX por quatro rankings distintos. Não cai no colo do maior vencedor nacional o troféu para o atual campeão do torneio. Deu a lógica. Talvez caia na real para quem acha que é fax o que é fato. O que se fez. O que é feito. O que é foda!

Nem é inusitado o Palmeiras da chegada atropelar de novo. No Robertão de 1969, o time do saudoso Rubens Minelli perdeu quatro dos cinco primeiros jogos. Arrancou para o título que celebrou no vestiário do Morumbi depois de ganhar do Botafogo e torcer contra Corinthians e Cruzeiro ao mesmo tempo.

No Brasileiro de 1972, a Academia perdeu apenas cinco jogos em todo ano. Depois da última derrota, dependia de o América vencer o favorito São Paulo, no Rio. E o Palmeiras tinha que fazer o 3 a 0 que fez no Coritiba. No Maracanã de tantas alegrias palmeirenses o placar foi 1 a 0 pro Diabo. E deu Divino campeão de 1972 para uma torcida que já não acreditava mais. E olha que era a Segunda Academia. Apenas 8 mil foram ao velho Palestra contra o Coxa.

Em 2018, com Felipão, o foco não era o Brasileiro. E só arrancou mesmo o Palmeiras no final. Com 14 escalações alternativas em 38 jogos. Mais um recorde brasileiro do maior campeão.

Em 2022, foram “13 finais” desde a eliminação alviverde nas semifinais da Libertadores. Foram 9 vitórias, 3 empates e uma derrota já com a volta olímpica garantida.

Em 2023, quando o craque e ídolo do século Dudu saiu lesionado na vitória contra o Vasco, na rodada 21, o Palmeiras era vice do grande líder Botafogo.

Mais três rodadas, derrota para o Grêmio por um gol. Sete pontos para o líder. Empate sem gols na Bombonera, pela semifinal da Libertadores. Seguida por virada sofrida em Bragança com o time reserva de Abel. O Palmeiras cai de segundo para o quarto lugar. Então a 8 pontos do Botafogo.

Vem a derrota nos pênaltis para o Boca, no Allianz. Abel demorou a apostar em Endrick. Leva nova virada para o Santos, em Barueri. Botafogo abre 11 pontos. De volta ao Allianz, com o menor público no ano no estádio, outro protesto exacerbado da torcida depois da infeliz entrevista da presidente. Palmeiras perde a quarta seguida no Brasileiro para o Galo de Felipão. Sai do G-4 e fica 14 pontos atrás do Botafogo. Faltando 11 rodadas apenas.

O 2 a 0 contra Coritiba foi o primeiro jogo com três na zaga. A diferença caiu para 12 pontos para o líder. Até mais uma Arrancada Heroica alviverde. Assim como em 20 de setembro de 1942, quando o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão paulista contra o São Paulo que se recusou a continuar o Choque-Rei depois da expulsão de Virgílio, o Tricolor meio que se recusou a jogar depois da saída de Rafinha. O Palmeiras repetiu os 5 a 0 de 1965 da Primeira Academia. A maior goleada alviverde no clássico.

Vitória contra o Bahia de Rogério Ceni. Diferença para o líder caiu para seis. Mas o Botafogo tinha um jogo a menos. E era o próximo adversário. No Rio, um primeiro tempo horrível da equipa de Abel e um show do Botafogo. 3 a 0. Endrick marcou um gol histórico. Adryelson foi expulso. E logo depois pênalti para o líder. Aos 37 do segundo tempo. Era Tiquinho Soares marcar e o Botafogo reabriria 9 pontos. E com um jogo a menos a ser disputado. Mas Weverton defendeu a cobrança do goleador do Brasileiro. Um minuto depois, Endrick diminuiu. Em 15 minutos, o Palmeiras virou 4 a 3. Outro recorde da Primeira Academia igualado. A maior virada alviverde desde 1914.

Três pontos de diferença! A vitória sobre o Athletico e a derrota botafoguense contra o Vasco igualaram a pontuação. Mas o alvinegro ainda tinha um jogo a mais a disputar.

Vantagem que o Palmeiras perdeu ao levar de três no Maracanã. Bela vitória do Flamengo com Tite, que voltava ao páreo. Ainda mais quando, no dia seguinte, o Botafogo de novo perdeu de virada por 4 a 3. Desta vez para o Grêmio. Problema paulista é que o time de Suárez, que marcou três gols em São Januário, também passava a ser um novo candidato real ao título brasileiro.

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Na rodada seguinte, Fla-Flu terminou empatado. Bom para o Palmeiras que foi ótimo contra o Inter. O incansável Zé Rafael fez um. Endrick, mais um. Rony voltou a fazer. Devolvido o 3 a 0 da rodada anterior. E com mais requintes de crueldade na tabela. No dia seguinte, dez corintianos venceram o Grêmio na Arena.

Palmeiras abriu dois pontos na frente antes da Data Fifa que tirou seis aletas dos treinos de Abel.
Depois de mais de duas semanas sem jogo, O Palmeiras voltou sem ritmo. Mas ainda um ponto à frente do Botafogo, que antes empatara o jogo adiado por dois a dois com o Fortaleza. No mesmo local, o adversário que o Palmeiras enfrentou com dificuldade fez 1 a 0 no primeiro tempo. O capitão Gómez foi expulso. E ainda assim o Palmeiras chegou ao empate com Raphael Veiga. Levou o segundo gol com uma menos. Mas quem tem Zé Rafael sempre parece ter algo a mais. O Verdão buscou novo empate, e se manteve na ponta. Por um ponto.

Na antepenúltima rodada, duelo de campeões entre Tite e Felipão, Flamengo x Atlético Mineiro. Mais uma vez na vida, Scolari ajudou o Verdão. Ganhou no Maracanã por 3 a 0. Animando o Palmeiras a golear o América logo depois por 4 a 0. E desanimando de vez o botafoguense. Na rodada anterior, levou em casa o gol no fim do ameaçado Santos. Logo depois do apito final no Allianz, o Botafogo fez 1 a 0 no rebaixado Coritiba. Aos 51 do segundo tempo. Para levar dois minutos depois novo empate no fim.

Na penúltima rodada, contra o mistão do Fluminense que só pensava no Mundial, Breno Lopes perdeu gol feito. Como de costume. Teve dois gols anulados. Um deles discutível. E, como de costume, fez mais um gol de título. O mesmo Breno que a torcida queria fora do clube depois de o goleador da glória eterna se 2020 xingar a torcida celebrando gol no Allianz Parque. O mesmo predestinado que eu não queria ver tantas vezes entre os titulares em 2023.

Na penúltima rodada, o Botafogo só empatou com o Cruzeiro. Ficou a 5 pontos do Palmeiras. Com uma rodada de antecedência, perdeu a chance de ser o campeão que merecia pelo primeiro turno sublime. E que já não merecia mais quando abriu 14 pontos sobre o Palmeiras na rodada 27 e depois sublimou na tabela.

Só uma combinação mais absurda do que a queda do Bofafogo para tirar o bicampeonato do Palmeiras no Mineirão, na última rodada. Mineirão onde o Palmeiras foi o Brasil com a Primeira Academia, contra o Uruguai, em 1965. Também o palco da definição da conquista do Robertão de 1969. O Palmeiras vencera o Fogão por 3 a 0, com show de Ademir da Guia, no Morumbi. Mas precisava esperar por 22 minutos o apito final em Belo Horizonte. Se o Corinthians de Rivellino vencesse o Cruzeiro, o Timão seria campeão pela primeira vez em 15 anos. Se a Raposa ampliasse a vitória por 2 a 1 contra o Corinthians, o time de Dirceu Lopes e do lesionado Tostão seria o campeão.

Resultado final do Robertão de 1969: Palmeiras campeão pelo placar mantido no Mineirão.

Resultado final em 2023: Palmeiras campeão no Mineirão.

No frigir da bolas: não deixaram chegar o dodecampeão. Nem caiu no colo do bicampeão o título brasileiro.

Deu a lógica.
Deu Palmeiras.

Em 12 vezes.
Sem juros.
Nem juras.
Talvez alguns esconjuros.