Mauro Beting: ‘O pai da Heloísa’

Claudio, 73, é filho de mineiro de Monte Sião. Por isso tem simpatia pelo Galo. Mas é mesmo palmeirense

Claudio, 73, é filho de mineiro de Monte Sião. Por isso tem simpatia pelo Galo. Mas é mesmo palmeirense como o pai palestrino. Como o irmão João que é o tio da Heloísa (a caçula do Cláudio).

Os dois irmãos sempre foram ao Palestra. Amavam ir ao Maracanã que sempre foi hospitaleiro com o Palmeiras. Fizeram os três filhos de Cláudio alviverdes. A caçula que debutou no Palestra aos 13 anos, ainda mais. Heloísa:

“Final de 99. Vice de 2000. Fomos em muitos jogos de Libertadores. Nos decisivos, sempre fiz questão de ver com o meu pai. Troco o estádio pela companhia dele”.

Celebraram em casa o Paulista de 2020. Menos de um mês antes do AVC isquêmico que quase levou Cláudio.

“A primeira informação dos médicos era que meu pai teria poucas horas de vida. Tanto que o hospital deu um jeito de liberar eu e meus irmãos para a despedida do meu pai”.

Trocaram de hospital quando constataram que o caso era grave, mas havia como virar o jogo. Tinha como se recuperar e resistir se resiliente. Como o Palmeiras de Abel que chegaria logo depois.

“Um mês de UTI. Mais dois meses no quarto. Meu pai é mesmo um palmeirense como esse time. Superou e suportou tudo. Os piores diagnósticos e prognósticos ele tirou de letra”.

Ainda entubado e sedado, Heloísa trazia notícias do Palmeiras. O pai apertava mais forte a mãe da filha quando elas eram boas. Ele sabia. Ele sentia.

“O time melhorava com o Abel. Meu pai, também. Comecei a repetir a rotina dele. De ouvir o Verdazzo todos os dias. Programas de TV. Mostrar fotos dos jogadores. Isso o ajudou demais a se recuperar”.

As sequelas foram menores do que o esperado. Mas ainda pesadas. “Meu
pai não consegue mais se alimentar pela boca. Tem sondas na barriga. Algumas horas fechamos a traqueostomia e ele pode falar. E ele só fala de Palmeiras nessas horas”.

Heloísa tenta levar a vida de antes. “Ainda pago o Avanti dele. Vou ao Allianz com meu sobrinho. E, quando estou lá, faço questão de ligar pro meu pai pelo vídeo. Pra eu poder ter uma imagem dele com a nossa casa ao fundo. Para ele, no fundo, frequentar ainda o nosso estádio. Como se ele estivesse sempre comigo”.

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Viram juntos Breno Lopes em 2020. E Deyverson, em 2021. “Tudo que acontece é um prêmio pra ele. Também é pra mim. Não imaginava depois do AVC que ele ainda estivesse com a gente. Vendo e abrindo o sorriso com nossas vitórias que a gente também não acreditava”.

Era um milagre. Parecia mesmo o Palmeiras.

Ele já foi internado mais seis vezes. A família está se adaptando à nova vida dele. Não anda mais. A visão piorou. Mas a memória de Cláudio segue ótima. Vive mesmo de passado quem tem história.

Teve pneumonia muito forte há duas semanas. Ficou 12 dias internado. Viu o jogo de ida contra o Galo no hospital. Heloísa, em casa. Na véspera da volta teve alta. Com o sobrinho são eles três no video.

“Meu pai é um vencedor. Como o nosso time. Parece um sonho tudo isso. Como eles conseguem fazer, nosso time e o meu pai, eu não sei”.

Os rivais sabem, Heloísa. E eu acho que no fundo você também sabe.

Isso se chama tudo que você tem pelo seu pai.

Amor. Incondicional.

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