Opinião: ‘Marcos, Cássio e um futebol que não existe mais’

O futebol mudou assim como o mundo. A era dos jogadores brasileiros de um clube só - literal ou moralmente falando - acabou

Tido por muitos como o maior jogador da história do rival, o goleiro Cássio deixou o Corinthians antes do término de seu contrato para assinar com o Cruzeiro. A notícia me pegou de surpresa, confesso. Não achei que veria o camisa 12 do arquirrival atuando por outro time brasileiro após 12 anos. Proponho o seguinte exercício: é possível imaginar São Marcos saindo do Palmeiras nos anos finais da carreira?

Claro que não se trata de comparação. Marcos foi pentacampeão mundial, passou pela Série B quando tinha proposta irrecusável para jogar no Arsenal e chegou a ficar no banco de Diego Cavalieri. Cássio ganhou mais títulos, defendeu times melhores na média ao longo dos anos e se lesionou menos. Ambos foram decisivos em momentos cruciais, jamais precisaram desrespeitar os rivais para ganhar admiração e pegaram inúmeros pênaltis.

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Não havia sentido algum em Marcos jogar por outro clube após quase 20 anos de Palestra. Pouca gente lembra, mas o Botafogo até tentou levá-lo em 2007. A negociação sequer foi aberta e ganhou o devido tom de piada. O mesmo vale para Rogério Ceni no São Paulo, que se aposentou poucos anos mais tarde. Por que não é mais assim? Nos últimos anos vimos Fábio deixar o Cruzeiro prestes a completar 1000 jogos por divergências com a SAF e agora Cássio saindo do Corinthians após perder a posição de titular e receber muitas críticas principalmente nas redes sociais.

O futebol mudou assim como o mundo. A era dos jogadores brasileiros de um clube só – literal ou moralmente falando – acabou. Agora quem é o grande símbolo de seu time ainda em atividade no país? Daqueles que ficam mais de dez anos sem sair. Geromel no Grêmio? Tinga no Fortaleza? É pouco. E triste. Antes fosse apenas financeira a questão.

Antigamente, no tempo de Waldemar Fiume, O PAI DA BOLA, o amor à camisa existia e era tratado com certa normalidade. Tudo bem que também não havia Instagram e Twitter para que os frustrados despejassem seu ódio a torto e a direito. No final das contas, a vida trata de lembrar que quem ama seu clube no tempo que vivemos hoje é apenas o torcedor.