Saudades da aglomeração que eu gosto

O ano era 2015 e o Allianz Parque recebeu uma das suas maiores, senão maior, aglomeração em seu entorno. A Rua Palestra Itália nunca esteve tão cheia de palmeirenses, cada um ali com sua crença e confiança. Confiança de que o título da Copa do Brasil, em cima do Santos, iria vir de qualquer jeito.

E não é que eles estavam certos? Nesse de cada um com sua crença, havia eu, meu pai e Fabiano, um amigo da família de tempos. Os dois que tem grande “culpa” pelo fanatismo e amor que se instalam na minha pessoa pelo futebol e pelo alviverde.

Naquele dia, tinha 14 anos, papai e Fabiano trabalhavam na Av. Paulista, que é, coincidentemente, o meu ponto de estudo agora, antes era um ponto de encontro. Saí de casa, a famosa Santo André, em direção à grande São Paulo.

Por conta do clássico, camisa guardada na mochila, pelo menos até encontrá-los. Ônibus, trem e metrô, além de uma pequena caminhada, para chegar no Puppy, o bar em frente ao famoso prédio da Gazeta. Ali, encontrei Leandro, meu pai, e Fabiano.

A loucura e ansiedade começaram a tomar conta, virar o maior sentimento. Começamos a caminhar até o estacionamento onde o carro estava para ir até o Allianz Parque e lá poder ver minha primeira final importante.

Lembro que aquele dia estava cheio de confiança. O pensamento era que seríamos campeões, acordamos e sonhamos com isso. No caminho, fomos conversando e tentando diminuir as expectativas, o assunto de sempre: Palmeiras.

Chegamos aos redores do Allianz e estacionamos. Seguimos ao lado de vários torcedores, caminhando com cantigas até o estádio verde e branco, até a nossa aglomeração. Quando chegamos, o ambiente tomou conta e a confiança foi crescendo mais.

Eu sabia que ia vencer, eu sentia! E, por isso, queria uma bandeira, porque naquele tempo via várias meninas palmeirenses com fotos lindas no Allianz Parque, eu queria a minha. (Acho que esse ponto meu pai e o Fabiano vão descobrir só agora, depois de anos).

Mas tínhamos um ponto, papai não queria ir antes do jogo comprar, somente depois para não dar azar. Seguimos a “programação”, fomos no bar da Savoia comer o nosso famoso lanche de pernil – que saudades – e depois ficamos na rua, antes de entrar.

Nesse ponto começa uma infelicidade. Estávamos na fila para entrar no Gol Sul, onde sempre ficamos por lá. Nesse mesmo caminho, meu pai e nosso amigo foram furtados, antes de entrarmos, e a raiva misturada com inconformatismo começava a crescer.

Entramos no estádio e não podíamos registrar nada, acho que era para vivermos realmente aquele momento. Chegamos no Gol Sul com esse sentimento. Escutávamos o Fabiano falar, fazer promessas, sobre o título. E ele misturava isso com cancelar o Avanti, fazer churrasco e comprar camisas.

Lembro de tentar acalmá-lo e falar que íamos ganhar, estava tranquilo. Mas todos nós sabemos o que aconteceu ao longo do jogo. Os dois gols do baixola, nosso Dudu, estragado com a infelicidade do gol de Ricardo Oliveira no fim. Seguimos para penalidades.

Acho que, depois disso, foi o momento em que meu pai Leandro e nosso amigo Fabiano perceberam o que eles tinham criado e como eu era maluca por aquilo que eles me ensinavam a acompanhar e amar.

Eu tenho superstições e uma delas é ajoelhar em penalidades, rezar e, principalmente, não vê-las. Estava no estádio, mas precisava fazer isso. Então, meu pai pediu para os torcedores que estavam no vidro deixar eu me ajoelhar, eles permitiram e ainda cuidaram de mim.

Naquele momento, o Allianz Parque parou de pulsar, não pensava em ninguém e nada, nem sabia onde estavam papai e Fabiano. A cada vez que um jogador do Palmeiras ia cobrar, eu só começava a pensar: “Ilumina, por favor. Precisa acertar”.

Quando chegava no nosso ídolo Fernando Prass, as coisas ficavam diferentes, a confiança crescia tanto, mesmo em meio as lágrimas. Naquele segundo, eu só repetia: “Pega”. Dizem por aí que quem fala, atrai e era só nisso que eu pensava.

No pênalti que Prass cobrou, minhas contas estavam erradas e eu simplesmente não escutei o grito de campeão ecoando no estádio. Quem conhece o Allianz Parque sabe como isso é quase impossível. Sabe o lado esquerdo do nosso goleiro quando ele bateu? Então, eu estava lá ajoelhada perto do vidro, daquela escadinha.

Despertei com um tapinha do meu pai, que naquele momento estava com os olhos brilhando, como quem dizia que tínhamos conseguido. Fabiano estava chorando muito, abraçando todo mundo que nem conhecia, como muitos, a felicidade ecoava.

Nem sei como e quando saímos de lá, só sei que a rua estava lotada, uma aglomeração tão boa e feliz. Quando deixámos o Allianz, ganhei minha famosa bandeira e uma touca, as quais guardo com todo carinho do mundo. Fomos para casa com a bandeira na janela, para todos verem, o hino no volume máximo e, o melhor, um sorriso no rosto de quem era campeão.

Pode até se dizer que, talvez, eu seja pé quente para o Palmeiras, mas isso ninguém pode garantir. Agora, que Leandro e Fabiano tem papel muito importante no que sou hoje e no meu fanatismo, vocês podem ter certeza!

Esse ano, não estaremos fisicamente juntos, já não estávamos na Libertadores. Mas, mesmo assim, estamos interligados de alguma maneira. De Palmeiras para Palmeiras.