Vamos abraçar o Gómez – quando pudermos
Muito obrigado pelo seu erro, nosso zagueirão, que nos fez ainda mais campeões ao nos superar ainda mais
Se eu pudesse dar um abraço em um campeão paulista de 2020 (e não podemos por motivos óbvios e que sempre precisam ser ressaltados no Brasil com 100 mil mortos e contando para quem quer e precisa contar…), eu primeiro abraçaria o Gómez. Claro que eu abraçaria também Weverton do jeito que ele abraçou pênaltis e defendeu a nossa causa e a nossa casa como há bom tempo defende – nem sempre com o reconhecimento devido. Claro que eu daria um beijo na testa do Patrick de Paula pelo menino grande que ele já é. Claro que eu de novo estaria mais falando “obrigado” do que parabéns ao multicampeão Luxemburgo.
Claro que para todos os campeões contra o Corinthians dois anos depois de 2018 eu daria quase os mesmos parabéns e obrigados que eu dou eternamente às classes de 1974, 1993, 1999 e 2000.
Mas é pro Gómez que eu quero mesmo dar os parabéns porque foi ele quem deu graça à desgraça que foi o pior Paulistão de todos os tempos. Aquele que quase teve na final o bravo Mirassol que que perdeu 18 jogadores e ainda chegou a semifinal. É o Paulistão que quase teve a Ponte Preta na final mesmo estando quase rebaixada na rodada final da primeira fase.
Paulistão que teve um ainda pior Santos eliminado. Um São Paulo de novo fracassando feio. Teve um Red Bull Bragantino que foi ótimo, mas não passou de um medíocre Corinthians que não tem a menor ideia de como chegou a mais uma decisão. Teve o Santo André que foi muito bem até a bola parar.
Um campeonato muito fraco e não apenas pela pandemia. SP-20 que teria o campeão merecido no tempo normal meio chocho – mesmo sem Dudu e Gabriel Veron. Mas que teve graça mesmo não só por ser o Derby. Não só por ser revanche de 2018. Mas por ter um pênalti desta vez indiscutível. E não cancelado, aos 51 minutos do segundo tempo.
Talvez o pênalti mais indiscutível da história do Dérbi.
Cometido por um jogador indiscutível na nossa zaga. Zagueirão que mais uma vez foi muito bem na partida decisiva contra o perigoso Jô. Mas que errou feio como o lateral Denys errou horroroso naquele recuo que daria no gol do título da Inter de Limeira no SP-86. Erro que ele nunca conseguiria redimir. E que ele trocaria toda a carreira muito boa para ter sido campeão pelo nosso Palestra. Tão nosso quanto dele.
Erro de Gómez que as mãos de Weverton e a canhota de Patrick compensariam o empate mais sofrido. Um a um com dissabor de derrota pelo tempo de jogo e pelo que foi o jogo. Empate dolorido que derrubaria qualquer time nos pênaltis. Como vimos a casa caída com as caras derrubadas antes das cobranças.
Estatisticamente com a vitória iríamos empatar os dérbis pelas contas do Corinthians se a vitória merecida tivesse vindo na bela cabeçada de Luiz Adriano no cruzamento de Viña.
Mas a falha de Gómez renasceu das cinzas o rival que estava fazendo hora extra no torneio. Ficamos só no empate. Por causa de uma falta infantil que não vi igual e por instantes resolvi nem ver os pênaltis. Mas lembrei 1999 e 2000. Resolvi abrir os olhos. Como em 1999 estava na cabine quando Marcos foi canonizado. Como em 2000 saí correndo da arquibancada para celebrar em casa Marcos. Mais uma vez.
E quase que eu realmente não vejo mais nada de tamanho pavor. Mas resolvi ter a confiança que o Patrick teve no pênalti. Ou tem sempre. Aquela que ele me passou como se fosse César Sampaio cobrando pênalti como Evair.
Eu fiquei de olhos bem abertos e mal conseguindo fechar na madrugada vitoriosa. Mais uma e vitoriosa pelo empate que o Gómez nos levou.
Eu quero abraçar o extra-large GG paraguaio não só pra me solidarizar com o grande zagueiro que ele já é na história do Palmeiras. Mas por ele nos ter dado ainda mais emoção à decisão do Paulistão. O jogo que provavelmente não lembraríamos. Ou só lembraríamos pela mediocridade pantanosa da primeira final. Da segunda partida um pouco melhor.
Mas sobretudo iremos lembrar pela virada nos pênaltis de 2020. Sim. Viramos nos pênaltis. Porque saímos perdendo já na primeira cobrança de fato – quando Weverton quase defendeu o pênalti de Jô.
Quando Michel bateu e Weverton defendeu, na sequência Bruno Henrique parou em Cássio. Parecia que nada daria mesmo certo. Mas quando Castillo bateu como se fosse o conterrâneo Zapata em 1999, e Scarpa e Lucas Lima bateram mal e ainda assim fizeram os gols, só tinha que ser o que foi. E estava escrito no primeiro show de Caetano.
Não a live de véspera do Veloso. Mas do Caetano Izzo que fez os três gols palestrinos no primeiro Dérbi, em 1917.
Muito obrigado pelo seu erro, nosso zagueirão, que nos fez ainda mais campeões ao nos superar ainda mais.
Espero que a vitória nos dê a lição (que logo esqueceremos….) que tem como virar o jogo na vida. Ainda mais quem tem qualidade e a história que Gómez construiu. E a felicidade e a sorte que Denys e outros nem sempre tiveram de redimirem suas falhas.
O carrinho errado merece todo o carinho agora do torcedor.