Psicóloga explica ‘duelo mental’ às vésperas de Palmeiras e Botafogo: ‘Divide o bom trabalho’

Em entrevista ao NOSSO PALESTRA, Catalina Kaneta, especialista em psicologia do esporte, falou sobre fatores para duelo decisivo

O Palmeiras se prepara para uma sequência decisiva do Brasileirão. Neste sábado (23), o Verdão enfrenta o Atlético-GO, fora de casa, e na terça-feira (26) recebe o Botafogo. A depender dos resultados, o Alviverde assume a ponta da tabela na reta final, e se vê novamente com a necessidade do mental “firme” para alcançar o objetivo do tricampeonato consecutivo.

O NOSSO PALESTRA conversou com Catalina Kaneta, especialista em psicologia do esporte. Para ela, a situação não é inédita para o grupo comandado por Abel Ferreira, que sabe muito bem como unir estratégia ao lado psicológico. A profissional, que já teve contato com profissionais do Verdão, explica um pouco da capacidade do Alviverde no quesito.

– O sucesso do Palmeiras não é sobre superação ou lutar contra algo místico, mas sim sobre uma mentalidade coletiva sólida. Os atletas não precisam se superar, precisam fazer o que sabem e o resto é consequência. Em 2023, conversei com alguém do clube e ficou claro que o “Cabeça Fria, Coração Quente” é mais que um bordão, é um princípio que guia o trabalho. O segredo é planejamento e confiança na estrutura. O time já tem uma “poupança emocional” construída ao longo dos anos, o que os permite lidar com pressões sem entrar em pânico – afirmou.

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– Mesmo com eliminações, o Palmeiras seguiu seu planejamento, ajustou o foco e não se abalou. Abel Ferreira é fundamental, sendo estratégico no mental, entendendo que derrotas fazem parte do processo. A presidente Leila também contribui, criando um ambiente de cobrança saudável. O resultado é um time que, com confiança e qualidade, não se desespera com obstáculos e segue jogando com segurança, esperando que os resultados apareçam – completou.

Para a sequência do Brasileiro, o cenário pode repetir a temporada de 2023, quanto o Botafogo era líder e viu o Palmeiras o ultrapassar na reta final. Apesar da derrocada na última temporada, no entanto, Catalina não vê um “fantasma” que assole os cariocas, uma vez que a campanha passada foi resultado de diversos fatores, não apenas do mental.

– O impacto psicológico de situações passadas, como a derrocada do Botafogo em 2023, pode, sim, se transformar em um ‘fantasma’, especialmente em esportes de alto rendimento, onde a pressão é constante. No entanto, culpar unicamente o psicológico seria simplificar demais. O que aconteceu no ano passado foi resultado de uma soma de fatores: falta de planejamento estratégico, trocas de comando técnico e dificuldades em lidar com a pressão nas etapas decisivas. O psicológico, nesse caso, foi reflexo das circunstâncias – disse.

– Equipes que desejam ser campeãs precisam entender que não basta ‘ir ganhando jogos’, é preciso planejar a temporada. Um trabalho psicológico sólido prepara jogadores e comissão técnica para lidar com oscilações inevitáveis para todos. Quem planeja essas oscilações e sabe quando ‘cair’ e quando ‘subir’ tem mais chances de sucesso. Em resumo, o fantasma só assombra quem deixa espaço para ele. Com planejamento e trabalho psicológico bem estruturado, fantasmas viram histórias de assustar crianças – continuou.

Palmeiras e Botafogo, pela Libertadores (Foto: Divulgação/Conmebol)

Próximo ao jogo diante do Palmeiras, o Botafogo empatou com o Atlético-MG na quarta-feira (20) em um duelo marcado por confusões entre os jogadores, que terminou nas expulsões de Luiz Henrique e Barboza. Apesar de um cenário atípico dentro de campo, com atletas do clube carioca indo para cima de funcionários do clube mineiro, a psicóloga ainda vê como precipitação afirmar que é um sinal de mental frágil do clube comandado por Artur Jorge.

– Dizer que o Botafogo está com ‘mental frágil’ só por causa da confusão no jogo contra o Atlético Mineiro pode ser precipitado. Jogos decisivos têm uma energia diferente, e o Atlético sabe usar isso como arma. Isso faz parte da identidade do time. Se a tensão já está no ar por causa da disputa pelo título e o medo do fracasso, fica fácil cair na armadilha emocional – falou Catalina.

– Além disso, o perfil de John Textor, que adora provocar adversários, cria um ‘DNA’ no clube que pode influenciar a postura do time. Mas nem sempre o que funciona nos bastidores funciona no campo, e jogadores não precisam adotar 100% esse estilo provocativo, pois isso pode levar ao descontrole, o que um time não pode permitir em momentos decisivos. O equilíbrio é o ponto chave: aprender a não entrar na pilha dos outros e saber quando manter a calma, porque para ser campeão é preciso saber brigar, mas também saber quando e como manter a calma – complementou.

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Para o duelo do próximo dia 26, a psicóloga afirma que esses são os momentos que separam os bons trabalhos dos comuns. Na visão dela, cada clube deve seguir um caminho específico para superar as adversidades mentais e caminhar rumo ao título do Brasileirão de 2024.

– Este jogo é aquele “Enem” para quem trabalha o mental dos atletas, o que divide o bom trabalho dos genéricos. A chave para o Botafogo é distensionar, focando no momento presente e não se cobrando além do necessário, já que a pressão existe, mas o campeonato não termina aqui. Para o Palmeiras, o maior desafio é evitar focar mais no Botafogo do que no próprio desempenho. A melhor abordagem é jogar com confiança e seguir o planejamento, lembrando que o campeonato não se decide em um único jogo.

Se ambas as equipes focarem no jogo, a qualidade de cada uma vai decidir, e quem errar primeiro pode abrir o caminho para o outro. Como psicóloga, não mudaria nada na rotina, talvez apenas estar mais próxima para fiscalizar o emocional, mas se o trabalho foi bem feito, a mente dos atletas estará preparada. Eles devem entrar em campo e fazer o que sabem, com a frustração da derrota sendo apenas pela derrota e não pela performance – concluiu.

Na atual situação, o Maior Campeão do Brasil conta apenas com si mesmo para ser campeão, uma vez que a diferença é menor do que uma rodada e enfrenta o Botafogo na próxima semana. Antes, o Palmeiras visita o Atlético-GO, no sábado (23), no Antonio Accioly, às 19h30 (de Brasília), pela 35ª rodada do Campeonato Brasileiro. Um duelo depois, recebe o Botafogo, no Allianz Parque, na terça-feira (26)