29 de novembros

Faz sete anos que meu pai partiu. Foi na madrugada de 29 de novembro. Um dia depois de minha noiva pegar na mão dele pela primeira vez e dizer a ele, na UTI, que me amava, adorava meus filhos e o nosso Palmeiras. Quando os batimentos dele registados pela máquina aumentaram. Mesmo em coma irreversível que o levaria um dia depois.
Foi num 29 de novembro. Três anos antes de Luiz Cazorla Ortega partir. Palmeirense três anos mais moço que o meu pai. Espanhol palestrino. Duplamente bravo.
Pai do Luís. Avô do Lucas. Marido da Leda que partira em 1983. Também em um 29 de novembro. Todos palmeirenses como dom Luiz. Em novembro de 2015 foi perdendo a luta contra a diabetes. Teve a perna amputada dia 13. O médico o impediu de maiores emoções. Estava proibido de saber sobre o Palmeiras. Justo ele, que tanto acreditava em 2015 na reformulação do elenco, não podia saber o que acontecia com o time de Marcelo Oliveira.

O neto não pôde contar a derrota na Vila para o Santos no primeiro jogo valendo a Copa do Brasil. Talvez não suportasse o absurdo gol perdido pelo santista Nilson no final, que pai e filho não acreditaram quando viram na quadra da Mancha. Mas no fundo o avô já sabia. Tanto que passou os últimos dias confiante num time que parecia desenganado.

A partida de volta no Allianz Park foi adiada. Fosse antes, seu Luiz teria sabido. Ou não. Porque ele partiu antes da final. No domingo, 29 de novembro. Mesmo dia do meu pai. O neto Lucas acordou pressentindo a perda. Como pressentiria o gol do tri de Prass no pênalti final, três dias depois.

Ele e o pai apertados em um dos bares da Palestra ocupada. Seu Luís tirou o fone onde ouvia a transmissão do rádio para sentir o vizinho Allianz Parque transmitindo o gol de goleiro do tri. Enquanto abraçava o filho Lucas chorando, puxou das meias uma foto do avô Luiz: "eu sabia que seríamos campeões. Ele também sabia. Ele está aqui com a gente!"
Luís e Lucas se abraçaram mais aínda com a foto do dom Luiz nas mãos.
Como eu sinto agora que meu pai e avô dos meus Luca e Gabriel celebra ainda mais nossas vitórias. Conforta ainda mais nossas derrotas.
Meu pai está mais vivo e palmeirense como don Luiz. Como não estão tão vivos alguns que parecem que não sabem que não é mera coincidência essa conexão de datas e ideias. Alguns que perecem em campo vestindo nossa camisa.
Não exijo que os nossos sejam tão torcedores como seu Luiz e o meu Babbo. Mas que, além do 29 de novembro, os que jogam por nós compartilhem essa mensagem de amor que cobriu os caixões do
meu pai e do seu Luiz.
A gente não sabe o que vai ser nossa vida. Mas sabemos que ela terá mais vida se nos conectarmos como nosso clube nos faz uma equipe que joga junto. Que acredita mesmo sem ter o porquê. Mesmo tendo o melhor motivo que é o Palmeiras. O que independe de vitórias. Só dependem as nossas vidas dele