A final que eu não vi do SP-20
Eu estava checando uma informação sobre Monchu que estava entrando no Barcelona (na vitória sobre o Napoli que eu comentava pelo Esporte Interativo), quando dou uma checada na minha tela e vejo os palmeirenses celebrando o gol de Luiz Adriano.
Logo depois o Jorge Iggor me informa que saiu mais um gol no Allianz. Não no Parque, mas na Allianz Arena. Era o quarto do Bayern contra o Chelsea pela Champions. O narrador me pergunta: “sabe de quem foi o gol, Mauro?”
Eu iria responder “Luiz Adriano”. Mas a resposta, para variar, era Lewandowski.
E assim foi até 31 minutos do segundo tempo, quando entrei na minha sala na Warner Media e fiquei sozinho vendo os minutos finais do Derby, enquanto esperava para escrever os textos nos meus blogs, e participar do programa ÚLTIMO LANCE, na TNT, depois do jogo de estreia do BR-20.
Ouvia com delay as manifestações durante o clássico dos poucos colegas na redação. Resolvi então ligar pelo WhatsApp pro meu Amore que via com alguns dos filhos o jogo pela TV em casa. Só pra poder celebrar – ainda que à distância – algo raro em 30 anos de jornalismo esportivo.
Um título juntinhos.
Mas lá em casa a televisão estava 23 segundos à frente do meu aplicativo. Eu vi minha mulher gritando e se calando quando o gigante Gómez fez um pênalti de teletubbie no não menos gigante Jô.
Ouvi ao fundo meu caçula xingando tudo e todos. Inclusive eu por ligar antes do apito final. Dava azar….
O desespero aumentou com a celebração de colegas do EI, que também estavam à frente da minha imagem pelo computador.
Era o fim do mundo pra mim. Gol de empate.
Mas o delay me deu uma sensação diferente. E positiva. Porque levei 23 segundos para saber que, em vez do gol, havia sido pênalti. Havia esperança.
Ainda.
Falei pra patroa: “o Weverton vai pegar!”
E só não defendeu porque Jô bateu muito bem e empatou.
Ou parecia já ter acabado com tudo.
Eu nunca vi um time sair do nada para o tudo como o Corinthians no SP-20. E ainda mais naquele instante. O Palmeiras foi aos pênaltis como o último dos times. Parecia rebaixado mais do que perdido. O Corinthians parecia mais confiante do que ao final da decisão do SP-18.
Combinei com a minha mulher. Não vou aguentar ficar com esse delay. Vamos nos falar só depois do último pênalti. Mas eu já não tinha confiança de vitória. Eu e a torcida do Palmeiras.
O Verdão teria que virar os pênaltis como naquela mesma meta, em 1999, viramos as cobranças da Libertadores contra o Deportivo Cali.
Não conseguiria ver os pênaltis com delay lá de casa. Mas também não queria e nem podia ver na redação do EI.
O que fazer?
Botei I FOUGHT THE LAW do THE CLASH no talo no fone de ouvido do celular. E fiquei ouvindo a música durante as 10 cobranças. 3′ looping. Coisa de louco. Não de um bando de.
Quando Michel (substituto de Fagner) bateu e Weverton defendeu, enfim fiquei com alguma esperança. Mas quando Bruno Henrique bateu e Cássio foi Cássio, o mesmo temor que eu tinha e o elenco cabisbaixo passava pela TV, voltou de forma avassaladora. Eu pensei em fazer como o gigante GG havia feito depois do pênalti infantil: esconder a cabeça na minha camisa que eu tinha vestido depois de sair do ar na Champions. E ao mesmo tempo lamentar por eu não estar usando as meias brancas que o time também não usava…
Pensava tudo isso sem zicar Avelar. Eu não gosto de canhoto batendo pênalti. Prefiro 10 canhotos no meu time. Mas 11 destros batendo pênaltis. Só que Avelar bateu na rede lateral. Weverton foi muito bem na bola. Não deu. E eu ainda não estava recuperado.
O canhoto Raphael Veiga bate bem. Eu estava confiante. Mas quase fechei os olhos. 1 a 1.
O ótimo Cantillo foi bater o terceiro alvinegro. O melhor corintiano até a parada. Volante. Destro. Colombiano. Como Zapata na final de 1999. Bateu no canto direito como Zapata chutou para fora na Libertadores. Então foi pra fora. Agora foi Weverton no mesmo canto.
Pensei em Zapata antes do pênalti. Pensei em Marcão sempre. Em Prass em 2015. No Palmeiras no Derby em 1974 e 1993. 1999 e 2000.
Agora eu estava confiante. Mesmo. Ainda que Scarpa tenha batido muito mal o pênalti seguinte e Cássio foi ainda pior. Jamais um pênalti será falha de um goleiro. Ainda mais um colosso como Cássio. Mas esse virou um clássico de um pênalti muito mal batido e ainda pior não defendido.
Sidcley fez o dele. O primeiro em que Weverton não acertou o canto. Lucas Lima bateu mal como vinha jogando. Mas a bola de novo passou por baixo de Cássio. Jô teve a responsa de bater o último. E logo depois de ter marcado o primeiro pênalti dele. Encheu o pé canhoto. Weverton voltou a acertar o canto. Mas Jô empatou de novo de pênalti.
Último pênalti. Não era o capitão Felipe Melo que ajudou e levantar o moral da tropa mas não quis bater o dele. Era Patrick de Paula. Craque da Copa das Favelas. Campeão por estar ali. Também não era Gómez que bate bem pênaltis. Mas o que ele cometera o impedia. Era o menino da base. O moleque com futebol e cabeça de gente grande.
Eu enfim estava tranquilo. Ele merecia fazer o gol do título. Como se fosse César Sampaio capitão de 1993 e 1999. Com a simpatia de Amaral de sempre. Pela graça de Og Moreira, nosso primeiro negro campeão alviverde em 1942. Volante como Patrick. Vindo do Rio como Patrick. Jovem veterano como foi Roque Jr em 1999, quando ele botou o gás na torcida pra virada nos pênaltis contra o Deportivo Cali.
As lágrimas que secaram no pênalti de Gómez voltaram quando a bola foi no ângulo de Cássio. The Clash ainda estava tocando quando levantei da cadeira e liguei o WhatsApp. E agradeci a Gómez por transformar final chocha do pior Paulistão que vi em celebração espetacular. Como se fosse um título contra o maior rival
É.
E foi tudo isso.
Minha mulher atendeu. Meus filhos gritavam. Lembrei do meu pai na última visita às obras da arena que ainda não tinha nome, em 2012. Também num sábado. Também véspera de Dia dos Pais.
Lembrei que meu pai não via jogos. Muito menos disputa de pênaltis. Ele ficava ouvindo Mozart.
Eu ouvi The Clash.
Tenho certeza que Patrick de Paula ouviu os pais dele:
“Vai lá, filho. Faz o que você sabe. Faz o que você sempre quis fazer”.
Assim se fez.
O resto é festa.