A humanidade de Deyverson

Foto: César Greco/Ag. Palmeiras/ Divulgação

Tudo se construiu com base na luta. Sejam as civilizações, sejam as primeiras estruturas de cidades, sejam os grandes monumentos. Foram as conquistas sociais de classe, foram as quedas de impérios e construções democráticas. É ainda a forma mais nobre de conquista. O talento e as habilidades são privilégios, mas o esforço de corpo ainda é a melhor forma de alma para uma tarefa.

A glória sempre caminha ao lado das melhores mentes, celebram por hábito quem tem no tutano, o seu combustível filosofal. A pedra, seja fundamental ou de pequena parcela, fica aos peões. A quem cede entrega. A quem ofusca seu trabalho para o bem comum e para a celebração individual que não lhe cabe.

Um olhar minimamente dedicado será capaz de perceber que são essas pessoas as donas da maior necessidade em serem ouvidas. São caladas por serem ordinário no que fazem. Não importam e não se fazem em bom volume. Guardam pra si o que fica grande demais pra suportar. Isso é cruel.

A culpa pertence ao pior. Com menos condições de se defender, por mais que a indesejada não lhe caiba, fica sistemático que se torne cabível. Deyverson é instrumento desafinado, fora de compasso, em outra voltagem. É alguém que não foi premiado pelo trato com a bola, mas é um exagero no resto. Pra bem.

É a dedicação cega e desinteressada na retribuição. Interessadíssimo na causa ao qual se insere. Sente as roupas que veste, certamente se arrepia nos cantos que ouve. Se mata. Quase que de forma literal em toda chance rara e escassa que tem. Erra muito pelo muito que quer mostrar. É tanto que faz além. Eu ainda prefiro os que pecam por excesso.

Emocionado após o gol redentor, a emoção tomou conta de mim. O pedido de perdão por errar é o gesto mais lindamente assustador que o futebol pode proporcionar. Porque isso? O que fizemos para merecer? Nunca houve carinho, nunca houve uma manifestação de carinho. Desculpas? Perdão? Fica remorso por confundir o ser humano com o atleta.

A péssima sensação de ter confundido a humanidade com o rendimento. Desculpe, Deyverson. E obrigado por mostrar tão genuinamente que o futebol ainda pode ser só mais uma extensão da nossa casa onde a vontade de agradar é uma forma pura do puro carinho de família.