A pauta necessária de todo dia

Pensava aqui sobre como começar um texto que fosse um ótimo presságio para a fase que se inicia hoje para o Palmeiras e para nós. Pensava. Leio que uma criança acaba de ser baleada durante tiroteio em comunidade no Rio.

Luto.

Luta.

Eu sinceramente tive dúvidas pra seguir com esse texto. Se o futebol tinha a relevância suficiente para superar uma porrada desse tamanho. Senti que as mãos dessa mãe e desse pai podem estar comigo e com todos nós que estamos solidários. Que a paixão que eles perderam a chance de dar ao herdeiro, pode ser tão intensa quanto essa que nós aplicamos por nossos amores de vida, de família e de clube. Paixão não se mede.

Resolvi seguir. Pensei na Marielle. Na luta que nunca cessou. Foi amordaçada por fogo. Criou uma faísca de revolta, de desejo, de AMOR. Você é capaz de sentir junto comigo, eu sei. Esse incômodo no coração e essa inquietude. É essa criança, lá do céu, com lápis na mão e sorrindo saúde, que emana forças, que depõe inspiração, que contagia.

É pra todos vocês que estão sendo calados, caçados, colocados contra a parede desse sistema corruptível e corrompido. É ele que executa corpos e escuta manda chuvas, termos, que emplaca embargos, notas, resoluções. Que julga com bala quem incomoda e que incomoda com julgamentos descabidos quem tem bala e bola pra vencer.

O esporte é um reflexo das nossas alegrias, mas principalmente das nossas frustrações. Se a vida caminha bem, relevamos os desamores da bola. Se ela resolve seguir um caminho indesejado, travamos nossa satisfação diária. É simultâneo. Se hoje sobra revolta em um por ausência de humanidade, por medo do ser humano, no outro, sentimos a represália.

São tantos. Poderia ser você, eu, nosso amigo, nosso irmão. Todo mundo. É gente morrendo, sendo censurado, torturado, repreendido. É um INFERNO. Existe uma faísca. Ela acendeu o que há de melhor em todos nós, o sentimento de revolta. Ruas começam a encher, reivindicar. Nossa família, Palmeiras, nossa família também. Tomada por todo esse contexto, vai junto.

Moisés mostrou porque é nosso 10, nosso guia. Se posicionou pela rebeldia, pelo inconformismo. Você tá feliz com esse julgamento mal intencionado de nosso atletas? Processos, mudanças, mandos, campos, jogadores. Vocês sabem quais são as ações. E os porquês elas ocorrem. O sistema oprime. Nós, reagimos. Mais uma vez, mais um texto.

Não é por falta de assunto, é por falta de fé no futuro, de crença na humanidade, medo por nossos filhos, saudades por nossos mortos. É por coração. De coração. Para vários corações. Por você, meu pequenino amigo que hoje mora com Deus. Por todos. Na rua, na Paulista, na Sé, no Rio. Na lua.

No campo, na bola, na imensa vontade e na união. Sejam por eles, sejam por nós. Sejam, mais do que nunca, o Palmeiras.