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Abel Ferreira disseca estratégia do Palmeiras na final da Libertadores

Em vídeo, treinador explicou cada detalhe do planejamento alviverde na decisão continental diante do Flamengo

Comemoração do Palmeiras na conquista da Libertadores 2021. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
Comemoração do Palmeiras na conquista da Libertadores 2021. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

No dia 27 de novembro de 2021, o Palmeiras foi campeão da Libertadores pela terceira vez na sua história. Na partida, a equipe venceu o Flamengo por 2 a 1 para levantar o troféu continental que também havia garantido em 2020, diante do Santos.

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Nesta terça-feira (10), o canal The Coaches Voice divulgou um vídeo de Abel Ferreira, no qual o treinador analisou a estratégia do Verdão no embate final. O português falou sobre os momentos defensivos, ofensivos e os gols do Alviverde.

Estrutura da equipe para final da Libertadores

– Vou vos explicar um bocadinho como foi a nossa abordagem estratégica para a final da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo em Montevidéu. Mais uma vez duas equipes brasileiras, agora fora (do Brasil). Grande rivalidade entre as duas. Sabia que o estádio ia estar cheio, fantástico como nós gostamos. Mas falar também do trajeto até chegar nesta final. Foi muito difícil para nós. O Palmeiras neste ano apanhou a trajetória mais difícil. Lembro-me da batalha que foi com o Atlético-MG. Chegamos nesta final com muito mérito, de toda a estrutura, dos jogadores.

– Eu normalmente, nas abordagens estratégicas, procuramos impor a nossa forma de defender e, quando temos bola, impor a nossa forma de atacar. Agora, os nossos comportamentos, sobretudo sem bola, porque eu costumo dizer que manda no jogo quem tem a bola, mas precisamos entender o que o adversário faz para, quando chegarmos na hora do jogo, todos os jogadores terem a confiança e a certeza do que têm de fazer.

– Nós iniciamos este jogo na nossa estrutura base de 3-4-3. Weverton, Piquerez, que era um lateral que começou a construir desde trás, Luan e Gómez. A dar largura pelo lado direito, temos o Mayke. A dar largura pelo lado esquerdo tínhamos o Scarpa. Tínhamos dois médios, o Zé sobre a esquerda e Danilo sobre a direita. Tínhamos o Dudu que jogava por dentro e o nosso Veiga que jogava por dentro, com o Rony na frente. Temos um 3-4-3, em que, aqui no meio, vemos um quadrado. Este foi o segredo para o primeiro gol. Neste quadrado entram Zé, Danilo, Dudu e Veiga, que iam criar muitas dúvidas a dois jogadores: Filipe Luís e Isla.

Comemorações da SE Palmeiras pela conquista da Copa Libertadores 2021. (Foto: Cesar Greco)

Tiro de meta adversário

– Vamos começar como eu sempre gosto de explicar aos nosso jogadores: como vamos pressionar o tiro de meta do nosso adversário, neste caso o Flamengo do Renato Gaúcho. A equipe que iniciou do Flamengo foi o Diego (Alves), o (Rodrigo) Caio, o Willian Arão, que, no tiro de meta, saía de volante e entrava no meio dos zagueiros e podia a partir dali fazer uma saída de três, o David Luiz, Filipe Luís, Isla, Andreas Pereira, segundo volante, o Éverton Ribeiro, que não era um ponta, jogava por dentro, e o Zé (Rafael) ficou encarregado de o apanhar. Do lado esquerdo jogou o Arrascaeta e na frente Gabriel e Bruno Henrique. A estrutura do nosso adversário no tiro de meta era essa. O que nós fizemos? Começando de frente para trás, quer o Veiga, quer o Rony, procuravam criar uma situação de três contra dois. Quando a bola estava no Arão, nós fechávamos um bocadinho, deixávamos ele trazer para, depois, acionarmos a nossa pressão. Quando ele entrava por aqui (esquerda) nós procurávamos fechar para ele entrar no corredor e fazer uma situação de pressão. Era essa a nossa intenção no tiro de meta, não deixar o adversário jogar. Essa era a nossa intenção. (…) Quando a bola saía de dentro da área, tínhamos de acelerar a pressão.

– Como eu estava dizendo, três contra dois na frente. O Dudu por dentro, controlando o Filipe Luís, que era um lateral que não ia se expor tanto, é mais de trás para frente. O Isla não, o Scarpa tinha de o acompanhar, era um jogador de mais andamento. No meio, nosso adversário muito bem. O Éverton (Ribeiro) vinha para dentro e o nosso Zé já sabia que o tinha de apanhar. Tinha de ter uma comunicação muito boa entre o Zé e o Piquerez, porque muitas vezes já não era o Zé que o ia acompanhar.

– Nós mantemos sempre os mesmos comportamentos. Defendemos em função da bola. Se a bola entrar no corredor esquerdo, nós movimentamos para o corredor esquerdo. Se porventura o Éverton ficasse cá (no meio-campo), o nosso Zé já sabe que tem de fechar e o que faz o Scarpa é fechar dentro. Um dos nossos princípios coletivos é: defendemos em função da bola e, do lado que a bola entra, temos de fazer forte pressão, fechar as linhas de passe e libertar o lado contrário. Estes são os nossos princípios gerais.

Dudu disputa bola na final da Libertadores (Foto: Cesar Greco)

Linha defensiva

– Mais uma vez, o Rony com uma missão de fazer uma cortina. Não queremos que nos metam a correr de um lado para o outro. Fazia a cortina para obrigar o nosso adversário a nos atacar pelo lado direito ou esquerdo. O nosso adversário tinha uma nuance, aí tínhamos a linha de quatro, que era Mayke, Gómez, Luan e Piquerez, e o Scarpa era o mais um. Era quatro mais um. Ele estaria mais próximo da linha defensiva ou mais acima em função dos movimentos do Isla. Tinha de haver um detalhe de comunicação entre o Zé e o Piquerez. (…) Dudu sempre por dentro, para quando ganhássemos a bola poder ser o homem de saída.

– Outra nuance que o adversário fazia, era a dinâmica do Arão buscar a bola entre os zagueiros ou por fora, mas sempre com uma saída de três. Se isso acontece, eles já sabem. O Rony não pode tomar conta disso sozinho, então tem o auxílio do Veiga. Poderíamos ter tentado igualar, três para três, mas não foi essa a nossa intenção. Queríamos proteger a Zona 2 e deixar que os zagueiros tomassem a iniciativa. O David Luiz trouxe muitas vezes a bola. Se roubássemos a bola, íamos apanhar todo o espaço nas costas (da defesa). O jogador (atacante) deve criar pressão. Não vai roubar a bola, mas para fazê-lo passar. Minha linda defensiva está preparada e temos de estar preparados para o contra-ataque. O Luan e o Gómez sabia que tinham de marcar dois para dois, o Piquerez uma vezes ia ter marcação, outras não. O Danilo ia seguir ou esperar pela chegada do Andreas e o nosso adversário acabava com os dois zagueiros, o Arão. O Scarpa foi o ‘joker’, foi atrás do Isla. No lado contrário não interessa onde está o adversário, fechamos dentro para quando ganhássemos a bola acionar o Veiga e, ao contrário do Luiz Adriano, o Rony é um jogador mais vertical, mais de profundidade, e com o Veiga aqui ele ia ser o homem de ligação para a transição.

Comemorações da SE Palmeiras pela conquista da Copa Libertadores 2021. (Foto: Cesar Greco)

Saída de bola e primeiro gol da final da Libertadores

– Nossas intenções no tiro de meta eram, primeiro, ter Dudu, Rony e Veiga segurando quatro (defensores rivais). Mayke, Gómez, Luan, que estava aqui (perto do goleiro) ou aqui (fora da área). Se ele estivesse aqui (perto do goleiro), saíamos curto pelo lado direito e queríamos uma combinação direta do Mayke para o Dudu, para deixar no Danilo para ele decidir. Com o Luan fora, longo. Sabíamos que o Rony e Dudu eram mais rápidos que o Filipe Luís e o David Luiz. O Weverton tem três opções: curto, longo ou manter a equipe junta num dos corredores e bater. É uma decisão do jogador.

– Com bola, nossa estrutura tática era um 3-4-3. O Mayke tinha uma função muito específica que fez toda a diferença, que era estar à frente do Arrascaeta. Nós sabíamos que se o Mayke tivesse a coragem, ia ser difícil de o apanhar. A grande nuance que criamos foi o Dudu, que saía de fora para dentro, o Rony, que tinha a função de esticar ao máximo a linha defensiva, e nós íamos criar dúvidas no Isla e no Filipe Luís. Se fosse dentro, ia libertar o Mayke, se fosse fora, ia ser o Dudu. A mesma coisa o Isla. Tínhamos que criar dúvidas nos dos laterais. Como sabíamos que o Renato ia iniciar com dois centroavantes, criamos uma superioridade a partir de trás. três contra dois. Demos a comer dois jogadores. O Zé e o Danilo não iam ter muito jogo, mas era para libertar os outros dois (Dudu e Veiga). (…) O Arrascaeta não conseguiu acompanhar o Mayke, o Filipe Luís acompanhou o Dudu, fica todo o espaço nas costas. Foi feito um passe mais longo. Depois quando chegamos na zona de finalização, temos o Rony empurrando a linha defensiva para frente, o Veiga chegando no pênalti, o Dudu chegando, o Mayke a cruzar e o Scarpa no segundo poste.

O jogador Raphael Veiga, da SE Palmeiras, comemora seu gol contra a equipe do CR Flamengo, durante partida final, da Copa Libertadores, no Estádio Centenário. (Foto: Cesar Greco)

Deyverson e segundo gol

– Esta final foi muito mais emocionante exatamente por este momento (gol). Sempre que há um gol há uma reação. O Flamengo reagiu, foi mais ofensivo, e nós voltamos ao plano defensivo do início. Na segunda parte o nosso adversário conseguiu criar dificuldades e fez o gol. A partir do momento que fomos para a prorrogação, não me lembro do adversário chutar uma vez até fazermos o gol, e nós, num gatilho de pressão que temos, nossos centroavantes sabem que, quando há um passe lateralizado, se ativa o gatilho de pressão. Era o Deyverson que estava na frente. Um passe zagueiro-lateral. Nosso ponta sai na pressão, nosso centroavante faz o movimento interior e quando a bola entra para trás, tem de haver uma pressão coletiva na bola. Quando isso aconteceu, mérito e persistência do Deyverson que roubou a bola e fez o gol.

O Palmeiras soma três títulos de Libertadores (1999, 2020 e 2021). Os dois mais recentes foram conquistados sob o comando de Abel Ferreira.

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