Palmeiras 2, Bragantino 0. Nós, saudades.

(Foto: Gabriel Amorim/Nosso Palestra)

“Cinco minutos pra começar o jornal, pessoal. Todo mundo pronto?”

  • Não, o Ricardo tá vindo, aguenta aí!

Ele precisava sair da Bandnews pela última vez, tinha um encontro com jovens que sonhavam ser como ele, ser um pouquinho de Boechat. Não dava mais tempo, faltavam três minutos para voltar ao ar. Ele precisava rever o amigo saudoso e retomar aquela parceria.

Bateu na porta com os óculos ainda pendurados no terno recém passado, com um calhamaço de “Folha de São Paulo” debaixo das mãos, e antes de dizer “oi”, perguntou ao parceiro: “quanto foi o Palmeiras, Joelmir?”, e riu sorrateiramente como quem já soubesse que o bom humor do amigo não era por acaso.

“Jogamos no Pacaembú, o estádio que você foi ver o Flamengo ano retrasado, lembra? Felipão mudou bastante o time que fez aquele papelão contra o Corinthians. O Scarpa voltou, o Moisés, a defesa inteira, até o Fernando voltou pro gol, mexeu em tudo, quase. Sorte que o Dudu continuou. Você tem pesadelos com ele no Maracanã, né?”, brincando com o vice campeonato do rubro-negro carioca.

  • Entrando no ar em 10, 9, 8, 7..

Ricardo Boechat chama o comentário de Joelmir Beting para comentar a vitória do Palmeiras por 2 a 0 diante do Bragantino, em partida válida pelo Campeonato Paulista e mostra os gols de Dudu e Gustavo Scarpa.

“O Palmeiras resolveu aniquilar o princípio de má fase que se instalou nas alamedas da Barra Funda desde o revés no Derby. E começou cedo, logo com 8 minutos, em contra ataque de manual, Felipe Pires conduziu e fez bom drible, deixou com Moisés que escancarou o caminho para Dudu finalizar com nojo e classe, rasteiro, no cantinho da baliza de Bragança. Era o primeiro.

Não demorou nada para que a superioridade fizesse número. Em linda jogada do selecionável Dudu que trouxe a bola da ponta para o meio e lançou Borja, o goleiro adversário abraçou as pernas do colombiano camisa 9 e cometeu o pênalti. Scarpa, com enorme categoria, colocou a bola no cantinho, na costura da rede, para anotar o segundo.”

“Então dois foi pouco?, perguntou Boechat.

“Foi. Foi bem pouco. O primeiro tempo ficou um pouco morno depois do segundo. O Bragantino não oferecia riscos. No segundo tempo, foi um festival de gol perdido. Foi com Borja, sem goleiro, até o perna de pau do Mauro faria. Foi com Pires, cara a cara.

Mas teve uma caneta desconcertante, anos 70, de Moisés que não terminou em gol porque o goleirão não deixou. Teve também um Dudu infernal, incontrolável, destilando classe e muito futebol.”

“Quer saber como acabou a noite de Palmeiras? Após o intervalo. Fique conosco.”

  • Intervalo, pessoal. Um minuto e meio.

“Esse Felipão é bom mesmo, né, Joelmir? Preciso falar com o Simão para ele fazer uma brincadeira lá embaixo. O homem tá com a macaca!”

  • voltando em 3, 2, 1..

“Teve mais gol ou parou por aí?”, perguntou o âncora que sabia como ninguém comandar a notícia ao prazer de fazer jornalismo.

“Teve uma demonstração incrível do poderio de elenco do Palmeiras. Bruno Henrique, Carlos Eduardo e Lucas Lima ainda vieram para campo na noite de lua e muito calor que trouxe pouco mais de 20 mil pessoas ao municipal, o Porcoembú de outras jornadas. Foi um dois a zero tranquilo, de bom futebol, de bons valores individuais e de paz com a torcida”, finalizou o Beting pai.

O mundo continua aqui, continua com nosso amor pelo futebol, pelo nosso time, mas seria tão bom poder ouvi-los uma vez mais. O jornal do céu, agora, tem de novo sua dupla, seu dueto, seu par. A gente tem saudade, tem reverência, tem tristeza, mas tem orgulho de tê-los um dia como professor e inspiração.

Por mais Flamengo que tenha sido Boechat, ele sabia que explicar a emoção dos alviverdes era impossível de se fazer. E certamente ele finalizaria aquele jornal com um boa noite cheio de classe, com sorriso no canto da boca e ofereceria um vinho para Seo Joelmir para celebrar mais um dia.

Palmeiras 2, Bragantino 0. Nós, saudades.