Amarcord: Palmeiras 1 x 0 Internacional, BR-73

Foi o primeiro gol que vi em estádio. Era o meu segundo jogo no Pacaembu. Tarde de feriado. Quinta, dia da Proclamação da República. Novembro. Mês 11. Camisa do autor do gol da vitória. Nei, aos 18 minutos, na meta do tobogã. O último nome daquela seleção que se não era poema era cantada em verso e prosa. A Segunda Academia de Dudu e Ademir da Guia. Então campeã brasileira de 1972. Em três meses seria bicampeã de 1973.

O time de Leão (que não foi molestado pela ótima equipe do Inter, que já tinha oito nomes que seriam campeões do Brasil em 1975). Goleiro titular da Seleção que estava então com 972 minutos de invencibilidade na meta bem guardada por Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia com a luxuosa ajuda de Leivinha; Ronaldo naquele dia no lugar de Edu, Fedato substituindo César que entrou depois, e Nei (com o amigo Pio o substituindo depois).

Não foi um jogo de muitas chances. Também porque do lado colorado havia Figueroa. Um dos 100 maiores dos primeiros 100 anos da Fifa. E do nosso lado sempre esteve Luis Pereira. O maior zagueiro que vi no Brasil. E o melhor zagueiro-artilheiro. Luisão que ainda faria naquele campeonato o último gol da conquista. Na penúltima partida do BR-73. Também contra o Inter, em fevereiro de 1974, no Morumbi.

Naquela tarde de Pacaembu de 1973 eu pude gritar gol pela primeira vez em um estádio. Tinha sete anos. O primeiro jogo foi um 0 x 0 chato e chocho com o Vasco. Levou 108 minutos para eu fazer o que desde 1991 não posso enquanto trabalho em estúdios e estádios. Como neste domingo voltarei ao velho e meu, e seu, e nosso Pacaembu para ver o Inter que não é tão bom quanto aquele. Não tem aquele Falcão único. Aquela camisa linda vermelha. O maravilhoso unciforme preto do saudoso goleiro Schneider com o distintivo no centro do peito.

Mas ainda é Inter. Como será sempre Palmeiras.

O time dos meus sonhos e de nossa realidade. A equipe que naquela noite de 1973 foi jantar na pizzaria Casa Grande na Pompeia, vizinha da minha avó Albertina. Onde meu pai, meu tio Leo e meu irmão Gianfranco também jantaram. Quando vimos o nosso time confraternizando. Meu pai tentou me levar até eles. Tímido até a medula, preferi manter a distância do salão onde eles estavam. Olimpo não é pra mortais. Os heróis não se tocam.

Hoje me toco que deveria ter feito o que fiz. Ficar na minha. Eles tinham que ser respeitados naquela hora. E, 45 anos depois, revejo que ainda os vejo do mesmo jeito. Ídolos intangíveis. Muitos deles acabei conhecendo pelo ofício. Alguns viraram amigos. E esse que está ao meu lado na foto acabei de conhecer no Allianz Parque. O filho dele me apresentou. Um dos maiores camisas 11 de nossa história. Um dos que mais jogaram com nossa camisa. Um dos que mais apanharam com ela. Um dos que mais a honraram. Com a humildade dos gigantes que não falam – fazem. Autores da minha infância eterna.

Nei que me deu o prazer do primeiro gol em estádio. Nei que também me ajudou a ser o que sou há 28 anos por ser palmeirense há 51. E por ser ainda mais feliz por há quase 45 anos berrar sem parar pelo gol que marcou.

Gol do Palmeiras. O nosso grito mais comum. E o primeiro será sempre seu, Nei. Obrigado.