Amarcord: Palmeiras 1 x 1 Santos, BR-73
Foi a primeira vez que vi o Pelé em campo. Ou pior: continuei sem ver. Toda vez que Ele tocava na bola, eu, do baixo dos meus sete anos, na minha primeira partida no Morumbi, no meu primeiro clássico, fechava os olhos.
Culpa do meu pai. De tanto ele me falar do camisa 10 do Santos (e do Gol de Placa que meu pai ainda não havia dito a mim que ele e Walter Lacerda tinham bolado a placa dada ao Rei, 12 anos antes, em 1961), eu morria de medo que Pelé pelezasse contra o Palmeiras.
Mas eu também não sabia direito o que era futebol. Se soubesse, só de ver a nossa escalação, não precisaria temer. Eles é que teriam de nos respeitar ainda mais. Mesmo que César Maluco estivesse sem ritmo, ainda que Raul Marcel e não Leão fosse o nosso goleiro, era a Segunda Academia em campo. Campeã brasileira de 1972. Em fevereiro de 1974 seria bicampeã nacional no mesmo Morumbi, contra o São Paulo, em outra história que contarei.
O Santos não tinha só Pelé. O goleiraço era Cejas, que seria expulso no segundo tempo. O lateral era Carlos Alberto Torres, querido amigo capita. A zaga tinha o grande Marinho Perez, companheiro de Luís Pereira na defesa do Brasil na Copa-74, e nosso zagueiro mais tarde. Outra grande figura, que jogaria no Barcelona de Rinus Michels e Cruyff.
O não menos querido e craque Clodoaldo era o volante com Léo Oliveira e Pelé. Mazinho (tio do nosso Clebão, campeoníssimo palmeirense, de 1993 a 2000), o amigo Nenê Belarmino no comando de ataque, e o genial Edu na ponta esquerda. Que time dirigido pelo maravilhoso amigo Pepe.
Mas não era melhor do que o nosso. E não foi no primeiro tempo. Lembro o gol de Leivinha, aos 18. Li agora no acervo da FOLHA que foi jogada linda do grande Nei, pela esquerda. Não lembrava. Nem do empate do Santos, marcado pelo Marinho, no fim do primeiro tempo. Mas tenho “motivos” para não lembrar: foi uma falta perigosa cobrada por Pelé na cabeça do zagueiro.
Você acha que eu iria ver uma falta perto da área do Raul Marcel cobrada pelo Pelé?
Foi o primeiro gol que ouvi no estádio. Porque não vi.
Culpa do meu pai que foi falar tudo que era o Pelé…
Também por Ele tenho um carinho enorme pelo Santos. Só aumentado pelos anos. E pela homenagem que o clube fez quando meu pai morreu, em 2012.
Mas esse é outro Amarcord. Para contar também do primeiro jogo que minha mulher foi a um estádio ver o nosso Palmeias.
Quando ela viu tudo que aconteceu no clássico. Tudo que Pelé não me deixou ver na minha primeira visita ao Morumbi.