Vinte anos antes daquela noite épica no Pacaembu pelo BR-16, o Palmeiras dos 102 gols em 30 jogos no Paulista de 1996 dava volta olímpica antecipada por vencer o Santos, no Palestra. Aquele time fabuloso que ganhou 21 jogos seguidos. Doze deles por goleada. Incluindo um 6 a 0 na Vila Belmiro.
Gabriel Jesus nem concebido havia sido em 1996. Ele tinha bola para jogar
naquele timaço. Ou nem ele?
Só sei que, na primeira bola, fez 1 a
0. Bela enfiada do Dudu. Mas o Grêmio de Roger Machado vinha muito bem no campeonato que liderava. Foi melhor no primeiro tempo, mas ganhou da
arbitragem o empate. Bressan estava impedido no gol de Giuliano, aos 49 minutos do jogo que foi até esse minuto pelo acréscimo por conta dos sinalizadores acesos que eram proibidos…
Cuca voltou muito bem. Mais uma vez. Trocou o 4-2-3-1 da primeira etapa com Alecsandro discreto e voltou a apostar em Róger Guedes. Desta vez aberto pela esquerda, com Dudu como
ponta pela direita. Gabriel Jesus virou centroavante (até então ele pouco comandava o ataque). Tchê Tchê e
Moisés deram consciência no meio. E o Palmeiras fez excelente segundo tempo. Mesmo levando o gol da virada aos 9, com Giuliano, empatou aos 11 sem querer querendo na bela puxeta
de Róger, no primeiro gol dos seis gols no BR-16 que vieram de arremesso lateral de Moisés. Um lance que Cuca trabalhou vendo o que fazia Moisés
nos treinos. Algo que Diogo fazia nos anos 1980, e Djalma Santos
já fazia nos 1950.
O Palmeiras empilhou chances até virar com Vítor Hugo de cabeça, aos 27, e ampliar com Thiago Santos aos 39, do mesmo jeito, e na terceira assistência de Dudu, antes do terceiro gol tricolor, aos 45.
Foram 14 chances palmeirenses contra seis gremistas. Era muita coisa. E para um time amarrado e afobado na primeira etapa, mudança da água da chuva forte do primeiro tempo para um
Brunello di Montalcino na etapa final.
Um Palmeiras que não era o de 1996 – e poucos foram antes e depois, e não só no Palestra. Mas que podia ser tão eficiente como estava emocionante. Ainda sem os antigos titulares de meio-
campo Gabriel e Arouca. Mas que começava a dar liga com Tchê Tchê e Moisés no meio. Apostas de Cuca (o primeiro) e Alexandre Mattos
(o segundo) na formação do elenco.
Um time que marcou quatro gols em 90 minutos em uma defesa
que ainda não fora vazada em todo o campeonato. Esses 4 a 3 no
Grêmio não foram como aqueles 5 a 1 na Libertadores de 1995. Não foram decisivos como o 2 a 1 do Robertão de 1967. Mas ficaram. Eu saí feliz do Pacaembu depois do jogão. Os meninos que nem tinham nascido em 1996 foram gigantes. Foram Palmeiras.
Em 2036 a gente vai lembrar esse jogo. Talvez com tintas mais heroicas. Pintando até um jogo mais colorido.
Só não vamos conseguir pintar algo melhor que 1996. Vai ser difícil. Mas o que custa sonhar? Quem sabe em 20 anos a gente não durma tão feliz e esperançoso como hoje.
1996 só durou cinco meses. E já são 20 anos de saudades. Esses 4 a 3 foram só 90 minutos. Mas já contam desde então.