Amarcord: Vitória 1 x 2 Palmeiras, BR-16

https://youtu.be/mFAl6AGs3MI

Barradão, última rodada do Brasileiro de 2002? Não lembro o que aconteceu… Mas não esqueço a final do Brasileiro de 1993: 1 a 0 na Fonte Nova, e o título conquistado na volta, no 2 a 0 contra o Vitória, no Morumbi. Depois de uma grande semifinal, quando César Sampaio fez o gol mais lindo do Palmeiras em Brasileiros, partindo desde o nosso campo, para fazer 2 a 0 no São Paulo, no Morumbi.

Arrancada Heroica como a de 1942. O espírito necessário para cumprir tabela na última rodada de 2016, duas semanas depois da conquista. A maior festa que vi nas ruas em volta do estádio aconteceu pouco mais de 24 horas antes do acidente com a Chapecoense, na Colômbia. Autor do gol da vitória e do título, Fabiano voltava da festa do enea no Espaço das Américas quando soube da queda do avião perto de Medellín. Muitos amigos e colegas de seu ex-clube estavam no voo. Cuca encerrou a carreira de atleta em Chapecó. Ele foi dos mais afetados pela tragédia. Justo no dia em que foi anunciado o que se sabia: a saída do Palmeiras para poder ficar mais tempo com a mulher e família, e estudar como se trabalha na Europa.

Antes da partida decisiva contra a Chape, Cuca havia aberto os treinos na Academia para o torcedor abraçar o time. Comissão técnica e elenco sabiam a importância do apoio que receberam durante o Brasileiro. As torcidas de novo pararam a avenida na frente do centro de treinamento na véspera da penúltima rodada. Faixas pedindo para que Cuca ficasse. Mas a decisão estava tomada.

Para a despedida do clube, Cuca mandou para a Bahia na última rodada uma escalação alternativa, já sem Gabriel Jesus, que se apresentara ao Manchester City, mas seguia com o coração verde; “Onde eu estiver, estarei sempre pensando no Palmeiras, clube que aprendi a amar". E que chorou demais sentado no gramado quando ganhamos o título. Ele e a torcida, nas imagens da TV, pouco antes do apito final. Coisa mais linda. Como Cuca ao vestir na festa em campo a camisa 8 que usou como armador em 1992. Para não dizer que ele usou a nossa camisa desde menino, quando sonhava ser Leivinha. E seria mesmo um campeão como Oswaldo Brandão, em nosso banco de crédito ilimitado.

O Palmeiras entrou em campo no Barradão com as camisas verdes da Chape (o Vitória, com as brancas) e sob os gritos de “vamos, vamos, Chape!”. A bandeira colombiana ao lado do escudo da Chapecoense. Cuca e a comissão técnica com a foto e o nome de Caio Jr. nas costas. Bola rolando, os 19 relacionados estavam com os nomes e também os números das vítimas. Emocionante! Apenas dois titulares de fato (e o recordista invicto Jailson na meta).

O Palmeiras fez o dever de casa. E fora dela, também. No Barradão, Marinho fez 1 a 0 aos 12 minutos, num lance estranho, em cobrança de falta. Gabriel encheu o pé três minutos depois e empatou, numa bola carambolada e de sorte de campeão. O Palmeiras estava melhor e virou aos 45. Golaço de Alecsandro, de sem-pulo, depois de um sensacional rolinho de Fabrício. Alecgol que tanto mereceu mais um título na carreira, superando a injusta suspensão, e pela humildade em aceitar o banco. Alecsandro que estava com a camisa de Bruno Rangel, e se emocionou demais no intervalo, ao homenagear o colega da Chape.

Sem Mina, lesionado ainda no primeiro tempo, Thiago Santos virou zagueiro, Matheus Salles entrou de volante, e Cleiton Xavier armou com Tchê Tchê, com Erik e Leandro Pereira pelos lados, e Alecsandro na frente. Na segunda etapa, o Palmeiras tocou a bola com inteligência e conseguiu mais uma grande vitória fora de casa. Conseguindo 44 pontos no returno. A melhor campanha na história dos pontos corridos com 20 clubes na segunda parte do campeonato. E era um time “que não jogava tão bem no returno”… Imagine se jogasse!

Abriu nove pontos sobre os rivais. Melhor visitante, venceu 24 jogos (como os campeões dos dois anos anteriores), perdeu apenas seis. Campeão também no fair-play: não teve atleta expulso em 38 jogos. Melhor saldo de gols (30), melhor ataque do Brasileiro (62 gols), uma das menos vazadas defesas do campeonato (32 gols). E ainda contestam? Meus sentimentos.

Não foi só a calça vinho, meias beges, chuteiras brancas e o relógio verde de Cuca durante muitos jogos que deram sorte. Não existe campeão azarado. E não existe campeão maior que o Palmeiras. “Tudo o que Deus faz é bom”, costuma dizer o treinador. Foi o trabalho duro e o espírito de equipe que honraram o Palmeiras.

PALMEIRAS 4-1-4-1

JAILSON; GABRIEL, MINA (MATHEUS SALLES, 29 do 1º. T), THIAGO MARTINS E FABRÍCIO; THIAGO SANTOS; ERIK, TCHÊ TCHÊ, CLEITON XAVIER (RODRIGO, 25 do 2º T) E LEANDRO PEREIRA; ALECSANDRO (ARTUR, 42 do 2º T). TÉCNICO: CUCA

GOLS: MARINHO (12 DO 1º T); GABRIEL (15 DO 1º T) E ALECSANDRO (45 DO 1º. T).