André Galassi: Patrick de Paula, Danilo e o preconceito racial no jornalismo esportivo

Dois jornalistas em uma mesa com cinco pessoas brancas utilizam elementos da cultura afro para justificar queda de desempenho dos atletas profissionais

Dois conhecidos jornalistas, sendo um deles ex-atleta, disseram a respeito de Patrick de Paula e Danilo que a queda de rendimento e uma suposta falta de foco das Crias da Academia são consequências das mudanças de cabelo e excesso de tatuagens que ambos os atletas possuem. Um dos comentaristas ainda citou nominalmente elementos da cultura afro para tentar justificar aquilo que é feito dentro das quatro linhas. O triste episódio ocorreu ao vivo, na hora do almoço, em plena segunda-feira, em um programa em uma das principais) emissoras esportivas da televisão brasileira.

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O comentário que eles teceram sobre Patrick de Paula, que chegou de uma comunidade carioca para arrematar o pênalti decisivo do Paulistão contra o maior rival, dando aos 20 anos um título que o Palmeiras não ganhava há 12, e de Danilo, uma cria do Denguinhos da Bahia que iniciou aos 19 anos a jogada do gol rumo à Gloria Eterna, é só mais um retrato tupiniquim em tempos de polarizações e de livre “pensamento” de quem justifica preconceito com supostas opiniões.

‘’Ofensas preconceituosas costumam ser tratadas como brincadeira no futebol. E, quando alguém denuncia, os agressores alegam que isso faz parte da cultura do esporte”, afirmou o pesquisador Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol em entrevista ao El País em 2018, após comentários racistas de um outro jornalista ao goleiro Jailson, do Palmeiras.

As ofensas dos dois jornalistas na tarde desta segunda-feira foram rebatidas por um terceiro comentarista, que estava presente na janela virtual do programa. Após uma aula de história e cultura, o ex-jogador se incomodou com a crítica do colega e se alterou ao tentar justificar o que havia dito minutos antes, alegando que tem amigos negros e por isso não poderia ser considerado racista.

Vale lembrar que o elenco do Palmeiras conta com diversos jogadores que apresentam as mesmas características citadas pelos jornalistas, como tatuagens, mudanças de visual e dreads. Porém, isso não é levado em consideração no momento de tecer críticas ao desempenho dentro de campo destes atletas, como aconteceu nesta tarde com os jovens alviverdes.

Por exemplo, Victor Luís, experiente lateral-esquerdo de origem lituana, trocou o cabelo tigela por um coque samurai no momento mais conturbado de seu retorno ao clube. As mudanças nunca foram citadas em programas esportivos. Antes titular, Victor não é nem mais relacionado por Abel Ferreira nos últimos jogos.

Não existe mais espaço para esse tipo de comentário em rede nacional e nem em qualquer esfera da sociedade. Simbolismos culturais, em especial no mundo da bola, onde ainda é uma forma de ascensão das classes periféricas, muitos desses jovens como PK e Danilo incomodam uma classe engravatada que ainda enxerga o futebol com a mesma cabeça (o que falta para eles) da elite urbana que desprezava equipes operárias no início do século XX. O Palestra Italia passou por isso desde sua fundação.

A resposta vem diretamente do campo, seja com Gabriel Menino ou Danilo, que provavelmente façam duas finais de Libertadores como titular de maneira consecutiva; com Patrick de Paula, o ‘Rei dos Clássicos’ e com Gabriel Veron, do TikTok, das danças e da assistência que coloca o Palestra em uma das partidas mais importantes de sua história.

Isso sem falar nas absurdas falas preconceituosas que jornalistas da mesma emissora disseram sobre Abel Ferreira após a classificação do Palmeiras para a final da Libertadores 2021, a segunda seguida do português que atravessou o atlântico para ser campeão. Mas isso fica para uma próxima crônica…

Que venha Montevidéu em 27 de novembro. Com dreads, tatuagens, óculos espelhados e a juventude palmeirense vitoriosa!

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