Ao mestre, com carinho

Se a modernidade exige coisas diferentes, azar da modernidade. Não dava mais pra colocar tanta coisa bonita em risco.

*Colaborou Giuliano Formoso

Gênio, dentre outras virtudes, é aquele que é capaz de se colocar à frente de seu tempo. No futebol brasileiro, ninguém esteve mais à frente do que você, professor. Durante ao menos 15 anos, você reinou soberano, mudou a profissão e foi referência máxima de sucesso. Foi o primeiro técnico em um mundo onde só existiam treinadores. Chegou ao Real Madrid, pelo amor de Deus!

Você não precisa ganhar mais nada! Tem gente que nasceu pra fazer história. Outros pra contá-la. A maioria pra ouvi-la. Por inveja ou amargura, alguns tentam menosprezá-la. Mas ninguém é capaz de apagá-la. São pouquíssimos os que chegaram onde você chegou, Luxa.

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O tempo, infelizmente, passa pra todo mundo. A sua década e meia de glórias já faz outra década e meia. E é natural que seja assim. Nada resiste à inexorável marcha do tempo. Nem mesmo Vanderlei Luxemburgo.

Que fique claro que o cronista jamais teria a audácia de te aposentar. Tampouco de apontar soluções para o trabalho que chegou ao fim. Fosse esse o caso, me candidataria ao seu cargo. A mim, cabe ouvir e interpretar o que o campo de futebol tem a dizer. E o campo do nosso Palmeiras sob o seu comando não falou nada de bonito. Você, o responsável pelas mais lindas poesias futebolísticas Brasil afora, sabe disso.

O cargo de comandante não é mais seu, como o elenco também não era. A paciência, menos ainda. Tinha que acabar, não dava mais. Por tudo o que temos, a dança não tinha mais ritmo. Era o fim da paixão, mas o amor está tão bem guardado que não há cargo, ou falta dele, no planeta, que o questione.

Aquele dia 8, professor, é a redenção. Você catequizou o palmeirense dos anos 90, encantou o dos anos 2000 e devolveu a supremacia diante do inimigo aos de 2020. Você dominou três gerações. Quem foi capaz de tanto? Que imunidade ao tempo é essa?! Os meninos de ontem e de hoje não se esquecerão de dizer aos meninos de amanhã o quão grande foi Vanderlei Luxemburgo.

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Você foi referência, foi menino em busca de chance, foi rei do país, foi estrela em ascensão, foi segunda oportunidade, foi recomeço, foi last dance. Todos os Luxemburgos viveram no Palmeiras. Cada qual com seu momento, sempre com glórias.

Se a modernidade exige coisas diferentes, azar da modernidade. Ela não diminui a bagagem mais vencedora que a Sociedade Esportiva Palmeiras viu chegar de terno, gravata colorida, cabelo black power, óculos moderninhos e sotaque carioca da gema.

Não dava mais pra colocar tanta coisa bonita em risco. Foram 10 meses e uma conquista que vive tanto no coração do alviverdezinho que não conhecia volta olímpica quanto no do homem velho que ainda fala ‘Palestra Itália’ ao pensar no poderoso Allianz Parque.

Do rabugento ao sonhador, Luxemburgo é sinônimo de vitória. E é assim que tem que ser na memória pra sempre.

Valeu, old man! Parabéns e obrigado por tudo. Por se colocar na alça de mira, de novo, pelos meninos que lançou, pela alegria que tanto quisemos. Desculpe aí pela corneta quando não tava bom. Você sabe que é assim que somos. Você também é. Sempre foi. Sempre será.

Boa sorte, Luxa! Apontado pro céu sempre! Avanti!

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