Apostando

(SP-82: São Paulo 0 x 2 Palmeiras. Luís Pereira ganhou o Choque-Rei. Maior artilheiro tricolor, Serginho Chulapa deu a volta olímpica com a camisa do rival. Aposta feita e paga)

“Alguém chamado Beting nao pode ser proibido de apostar”. Disse Celso Vieira Júnior pelo Twitter, brincando com o sobrenome que significa “apostando” em inglês: “Betting”.

Melhor do que fazer como alguns apedeutas intolerantes da talibancada que disseram que meu pai Joelmir (nome da sala de entrevistas do Allianz Parque) estava “revirando no túmulo” por causa da aposta que perdi com Vampeta, feita durante a segunda etapa de Palmeiras 0 x 1 Corinthians, na ideia do Marcio Spímpolo, na Jovem Pan. A de que usaria a camisa alvinegra se o Palmeiras perdesse o Derby que já estava perdendo.

Usei na terça-feira na Pan. E respondi aos palmeirenses que se acham mais torcedores do que eu que meu pai não iria se revirar no túmulo porque foi cremado. E se eu era menos palmeirense só por ter pago a aposta e vestido a camisa que Jadson me presenteou via Vampeta, que os mesmos intolerantes cobrassem Luís Pereira em agosto de 1982. O nosso maior zagueiro, alviverde desde o berço em Juazeiro, não apenas jogou no Corinthians em 1986. Também fez a mesma aposta com Vladimir. E perdeu no tarde da maior goleada corintiana no Derby. 5 a 1 pra eles. Três do Casagrande. Dez minutos depois do apito final, sob aplausos alvinegros, Luisão deu a volta olímpica vestindo a camisa do atleta que mais jogou pelo rival… Na boa. Com o respeito a vencidos e vencedores.

Podem e devem me xingar. Mas então cobrem também o Luisão. E me permitam continuar escrevendo a biografia dele. A convite dele.

Xinguem também todas as pessoas que zoam e aceitam ser zoadas no futebol. Todas as que levam a vida com humor. Detonem todos aqueles que sabem que pra ganhar no futebol é preciso que alguém perca. O jogo, não o respeito. A partida, não a vida.

Apostei e paguei. Com a camisa do meu time por baixo da camisa vencedora. Apostei como palmeirense que sou há 52 anos, e como jornalista esportivo que sou há 28 anos. Aposta que não me faz menos torcedor e nem mais palmeirense do que ninguém. E nem mais ou menos jornalista do que qualquer um que assuma a paixão (viva Ivan Moré!) ou qualquer outro que tenha todo o direito de não sair do armário com a camisa que o levou à mídia esportiva.

Só não se pode exigir que alguém assuma se não quiser a torcida. Só não se pode pautar a aposta de ninguém. Ninguém é obrigado a apostar nada. Mas todos são obrigados a respeitar as apostas alheias ou feitas.